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sexta-feira, agosto 29, 2003

Esse teu olhar quando encontra o meu

Às vezes me pergunto se as pessoas são idiotas ou se fazem de bobas. É incrível como é possível se perceber, através de um simples olhar, o que está acontecendo. O olho é o espelho da alma, não mente nunca. E se você olhar no meu olho, vai saber o que está acontecendo. Assim como eu olho nos olhos de todos e percebo o que se passa.

Cada olhar que cruzou o meu significou alguma coisa. Já recebi olhares de admiração, de alegria, de ternura, de amizade, de afeto, de empolgação, de felicidade. Já vi aqueles olhos me lançarem boas energias e muita vibração positiva. Poucas vezes eu tive que conviver com olhares de raiva, de ódio, de rancor, de fúria. Quando esse olhar veio, eu desviei. Nunca olho nos olhos de quem não me quer bem. Porque não preciso deles e não vou ficar batendo de frente.

Lógico que os olhares apaixonados são os melhores. Talvez um, e apenas esse, será inesquecível. Os anos vão passar mais o olhar vai ser o mesmo. Eu posso nunca mais ser olhada daquele jeito. Mas sempre vou olhar com a mesma intensidade, de quem não esquece que algumas coisas morrem, mas o verdadeiro sentimento fica para sempre.

Alguns olhares são difíceis de você encarar. Aquele olhar que tira sua roupa, que te deixa sem palavras, que te deixa com vergonha, com medo, com aflição e agonia. Os olhares tristes, melancólicos, sofredores e angustiantes também me fazem mal. Mas quantas vezes foi esse o meu olhar para o mundo ? Tantas que já não posso contar.

O olhar pode dizer mais que horas de conversa no icq. Pode falar tudo, deixar revelar o que somente seu coração sabe. E a pior coisa do mundo é perceber que o melhor olhar não é para mim. Eu não preciso que ninguém diga nada, eu olhei. Olhei e vi os olhos brilharem, estava ali tão claro. Só quem quer pode se deixar levar pelas palavras. Palavras enganam facilmente. Eu posso escrever mil cartas de amor e mentir em todas elas. Eu posso fazer uma poesia para qualquer um. Eu posso falar “eu te amo” mil vezes por dia, eu posso dizer no seu ouvido que você é o homem da minha vida, eu posso tudo com as palavras, elas me pertencem e eu posso guiá-las como eu quiser. Eu mando nas letras, eu formo as palavras que eu quero e falo como eu quero para você ouvir o que quer.

Eu só não posso mentir com meu olhar. Ele me entrega. Se eu desviar o olhar, piorou. Aí estarei assinando minha sentença. Então eu encaro, bato de frente e deixo você ver que eu te amo, que eu te odeio, que eu te quero, que eu te espero, que eu te ignoro, que eu te acho um completo idiota porque não conseguiu nem disfarçar ! Não disfarçou aquele brilho insuportável no olho, quando olhou para o lado.

É impressionante como as pessoas não conseguem esconder a verdade do olhar. E pra piorar, eu tenho esse jeito aparentemente inocente, aparentemente ingênuo, aparentemente amável, aparentemente frágil. E ai as pessoas falam o que querem, como querem, quando querem, achando que eu não estou percebendo nada. Um bilhão de perguntas, como se eu não soubesse as respostas … Que o mundo continue pensando isso … eu passo a rasteira e sei o que se passa em cada olhar que cruza o meu. Não adianta nem tentar disfarçar. Eu aprendi a ver o que os olhos não podem esconder.


Eu não fico parada na esquina espiando a multidão. Eu ando com ela, olhando. Eu olho para o céu, para o chão, para os lados, para frente, para trás, para tudo. Agora eu estou olhando pela janela. O céu está mais cinza do que nunca. Entre as paredes dos arranha-céus, eu vejo um céu de angústias. Da sua janela você enxerga minha tristeza. Pobres almas, não aprenderam a decifrar olhares. Porque se olhassem a profundeza do meu olhar, conseguiriam ver que isso vai passar. Eu não tenho porque ficar triste. Eu também aprendi a olhar o lado bom das coisas. E agora eu vejo que não vale a pena procurar certos olhares. Quero ser inconsequente e me deixar levar pelos olhares incertos. Busco olhares que me completem e não aqueles que me corroem e deixam um enorme vazio quando os olhos se fecham.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com

quarta-feira, agosto 27, 2003

Qual é ?


Ontem não se falava em outra coisa: era um tal de VMB para cá, VMB para lá, todo mundo quer ir, todo mundo quer estar lá. “ Vamô invadi !!!!!! “ Se fosse no Rio a gente ia na cara dura, entrava sem convite, mas aqui … ah, deixa estar, um dia quem sabe.

Como escrevi a pouco tempo sobre minhas preferências musicais (leiam “Jana’s Songs”), ontem eu as questionei um pouco. Eu não vi o VMB ao vivo – estava no cinema vendo o excelente “O Homem do Ano”, mas sobre cinema eu falo outro dia. Enquanto o povo se deleitava na festa da MTV, eu estava em casa, na madrugada, vendo a reprise do programa.

Eu tinha passado boa parte do dia ouvindo a Tom Bloch, uma banda gaúcha bem maneira. E fiquei me perguntando até que ponto a mídia influencia a gente. Eu trabalho com rádio ligado, e numa equipe de dez pessoas sou obrigada a ouvir coisas que não curto. E as rádios ajudam muito, tocando sequências inteiras com as músicas da novela das oito. Eu não aguento mais ouvir que você é assim, um sonho pra mim … então coloquei meu fone de ouvido, embarquei em outras levadas e fiz uma visitinha rápida a POA com o som da Tom Bloch.

E justamente por ter tido um dia melódico, prestei atenção nas injustiças que cometi na viagem pessoal musical. Como eu esqueci da Rita Lee ? Lembrei dela ao ver a apresentação da Pitty ontem. Não, elas não tem nada em comum, mas a Rita é do rock, e mulher no rock é algo qua ainda soa estranho … já conhecia o som da Pitty e achei bem legal a apresentação ao vivo dela. Cheia de vigor, raivosa, como tem que ser.

Tá certo, eu ouço a Marisa Monte, acho que ela tem uma bela voz, gosto de várias músicas dela, mas ela é uma chata. Assim como a Fernanda Takai, do Pato Fu. E os Tribalistas também são um saco. E ainda bem que não tem comentários aqui porque você não vai expressar sua opinião. Aqui só eu tenho o direito de falar.

E como eu ainda não falei do som absolutamente carioca do Rappa e dos - agora cult – Los Hermanos ? Que lembrança doce quando olhei o Bruninho, sempre querido, tocando seu teclado … o Bruno é um caso raro, das pessoas que se aventuram e chegam lá. Nunca esqueço quando ele veio me contar que tinha uma banda. Sim, o tecladista do Los Hermanos foi meu estagiário. E tenho muito orgulho de ver que aquela história que começou numa faculdade está caminhando cada vez melhor.

Mas eu quis mesmo escrever este texto para falar do Marcelo D2. Quando ele disse que era “legal mermo” ganhar o VMB, eu me perguntei o que eu estou fazendo aqui. Eu nem sei mais falar assim ! A música e o clip “Qual é “ são muito, muito, muito bacanas “mermo”. No fundo, no fundo, eu só queria dizer que tudo aquilo que ele fala na música. E encerrar cada discussão idiota com um sonoro “qualé meu irrrrrrrmão’. Sensacional.

Só pra concluir, adolescente continua sendo uma máfia poderosa. O Charlie Brown Jr (cujo vocalista Chorão é símbolo sexual até de amigas minhas, fala sério !) anda de skate, gravou um acústico e tem a maior audiência entre os clips. A historinha do cara babaca que despreza a namoradinha e outro vai lá e traça a garota, é tão adolescente … impossível não rir ao ouvir a música. Ele vai fazer de um jeito que ela não vai esquecer ! Então tá, né ? Faz, menino, faz (com) amor mas não esquece a camisinha, ok ?

Ano que vem tem mais VMB. E qualquer dia desses tem mais artigos aqui ou por aí. Tô indo nessa porque meu escritório é na praia. Mas eu tô sempre na área.

Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, agosto 25, 2003

O instante que desmoronou


Alguém me disse que o fulano não sabia o que queria da vida. Outro alguém virou e disse: “ E você, sabe o que quer da sua vida ? “

Pela primeira vez eu me questionei sobre isso. As pessoas têm a mania de dizer que o outro, coitadinho, é um indeciso, não sabe o que quer da vida. Mas quem sabe ? Eu não sei o que eu quero da minha vida agora. Eu sabia, até o mês passado. Eu tinha certeza de várias coisas, eu tinha planos, caminhos traçados. Hoje o que eu tenho é um mundo de possibilidades.

Eu não sei se caso ou se compro uma bicicleta, se eu fico ou se vou, se eu continuo ou desisto de vez, se eu insisto ou me preservo, se eu olho para frente ou se continuo vendo o passado pelo retrovisor. Eu não sei quem sou, eu não sei como sou, eu não sei de nada. Eu nem sei como cheguei aqui. Diante das milhares de pessoas que dizem: “Nossa, como você foi corajosa ao largar tudo e vir pra SP sem nada ! “ eu só posso lamentar. Porque qualquer pessoa pode fazer o que eu fiz. O problema é que você aí não tem iniciativa, não tem pulso forte, não tem força de vontade, não tem coragem, não sabe o que quer da vida. Voltamos ao começo: quem não sabe o que quer vaga pela vida, não vive. Fica aí em seus devaneios, machuca os outros, magoa, fere, não pensa nas consequências, ilude, ofende, agredide, é omisso e vive se ferrando. Mas e daí ? O problema é todo seu ! Você não sabe o que quer, sinto muito, eu também não sei.

Acho que o grande problema é que as pessoas se preocupam demais com a vida dos outros. Se a indecisão alheia não está te atingindo, então porque questioná-la ? Eu não quero nada além do que a vida já me oferece: o fato de estar viva e poder errar nas minhas decisões. Eu quero errar, quero quebrar a cara, quero me estrepar mesmo. Porque quando eu olhar para trás vou ver que eu tentei e pelo menos eu nunca tive certeza de nada. Chatos são aqueles que programam a vida de tal modo que já planejaram a viagem de férias em 2005. Eles perdem as surpresas da vida.

Como eu não sei de nada, mas sinto tudo, eu já me vi em situações inusitadas, em lugares inesperados, em momentos únicos. Eu me abri a todas as possibilidades, eu me permiti viver cada dia como se fosse o último, eu cansei de ser politicamente correta e fazer as coisas como tem que ser feitas.

Eu sempre disse: “um belo dia eu resolvi mudar e fazer tudo que eu queria fazer”. E foi naquele dia, naquela noite, naquela hora que a dúvida foi jogada na minha cara. Jamais diga que eu não devo fazer isso. Eu vou fazer. Não duvide de mim, eu faço mesmo. E se o planeta inteiro sabe o quer da vida, I’m so sorry … eu não sei, eu não quero saber e neste momento eu estou com muita raiva dessa gente que sabe o quer. Deixa a indecisão tomar conta da sua vida, ao menos uma vez ! Permita-se questionar. Tenha dúvidas. Será que você é feliz neste trabalho escravo ? Pior: você está na profissão certa ? Você quer passar o resto da sua vida sentadinho aí, ganhando seu puta salário sem saber o que fazer com tanta grana ? E este relacionamento desgastado, quando você vai ter coragem de terminar ? E a sua mãe, você não vai fazer as pazes com ela ? E nunca vai parar de pedir grana pro seu pai ? Algum dia você vai dizer que gosta dele mesmo sabendo que ele jamais vai ficar com você ?


Assuma que o mundo está cheio de possibildades. Arrisque. Se o caminho não for o melhor, você tentou. E se você continuar sem saber o que quer da vida, paciência. Tem horas que é melhor não saber mesmo. Aí você pode se surpreender com o rumo que a vida lhe oferece. Quando todas as possibilidades se esgotarem, você estará morto. Porque enquanto há vida, há possibilidades. Errando ou acertando, você está vivendo. Pior quem deixa escapar as chances pelas mãos. Sua felicidade pode estar escorrendo entre seus dedos e você nem está se esforçando para agarrá-la.

Agarre logo este mundo de possiblidades. Ou palavras, sentimentos e ações podem desmoronar sua vida. Seja íntegro, honesto, correto, concreto. Seja verdadeiro. Mas olhe para todos os lados e deixe-se levar pelo risco. A única certeza que você deve ter nesta vida é que um dia vai morrer. O resto, como eu já disse antes, é incerto.

Eu não sei o que quero da minha vida. Você também não ? Ótimo. As possibilidades de sermos felizes aumentou. Minha felicidade está relacionada aos riscos que eu aprendi a correr. É por isso que estou aqui e você está aí, lendo este texto e se perguntando: “ o que eu vou fazer da minha vida ? “ Se amanhã eu não voltar, saibam que a indecisão é minha companheira no momento. E eu estou me sentindo muito bem assim, sem saber se o mar estará na minha janela, na minha mente, ou aos meus pés nas próximas horas … estou bem porque agarrei todas as possibilidades. E vou viver cada uma delas. Mesmo que ao final da história eu chore, eu sofra, eu perca. Ao menos eu vou me olhar no espelho e dizer: eu vivi.

Faça bom proveito da sua vida, este bem precioso que Deus lhe deu. Honre esta dádiva e viva, certo de que você pode errar, perder, sofrer, se machucar, ter medo. Mas por favor, viva acreditando que você não deve satisfações ao mundo. Não se puna, não deixe os outros punirem você, não faça nada que ofenda ninguém. Ame. Doe seu amor para quem precisa, pra quem te quer bem, pra quem se preocupa com você. Deixe a lágrima cair. Deixe o coração falar.

E me deixa … que hoje eu tô de bobeira.


Janaina Pereira
Redatora






sexta-feira, agosto 22, 2003

Jana’s songs


Outro dia me perguntaram porque a maioria dos títulos dos meus artigos são nomes de músicas. Deve ser porque sou muito musical. Não aprendi a tocar violão, para fazer das minhas poesias, músicas. E ainda não aprendi a tocar bateria – hey, Fernandinha, você me deve essa ! – meu grande e antigo sonho. Eu adoro prestar atenção nas letras. E já fiz muitos títulos inspirado em canções. Eu canto mal, só no banheiro, mas sei tantas canções de cor que nem eu acredito ! Às vezes me surpreendo cantando músicas de uma época que eu nem sonhava em existir.

Cresci ouvindo o Rei. Minha mãe a-do-ra ! Ele tem o melhor trocadilho de todos os tempos: “ detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esquecer.” Muito bom !!! O Rei é o que há. A minha preferida é “As canções que você fez pra mim”. A melhor música de amor. Aquela de dor, de ferida que não cicatriza, muito forte, profunda. “É tão difícil olhar o mundo e ver o que ainda existe, pois sem você meu mundo é diferente, minha alegria é triste.” Sensacional. E viva o Erasmo também !

Minha mãe também me ensinou a ouvir Beatles e Rolling Stones. Tem gente que odeia Beatles. Eu amo. Sgt’s Peppers é clássico, Yesterday é uma puta canção mas minha favorita é Eleanor Rigby, a música dos solitários. Minha mãe chorou quando o Lennon morreu e eu fiz questão de levá-la para ver o Paul McCartney. Mas é o George Harrison, o subestimado, que eu aplaudo de pé. Because é tudo. Here Comes the Sun é a canção dos leoninos (meu signo !) e My Sweet Lord é a mais bela das melodias. Também fui a responsável pela ida da minha mãe ao show dos Rolling Stones. I know this only rock’n roll but I like it.

Meu pai adorava Elvis. A little less conversation, a little more action. E samba. Meu nome é Janaina porcausa de um samba. Um dia escrevo sobre isso, é muito legal essa história. Por causa do meu pai eu descobri que o mar serenou quando ela pisou na areia porque quem canta na beira do mar é sereia. Grande Clara Nunes. Ele sempre dizia que “Coisinha do Pai”, na voz da Beth Carvalho, era a música que ele fez pra mim. Acho que o Jorge Aragão nem ia se chatear com isso, né ? “Vou te amando, te adorando, digo mais uma vez, agradeço a Deus porque te fez.” A melhor declaração de amor que um pai faria para uma filha. Eu sempre serei a “coisinha tão bonitinha do pai”.

Cresci ouvindo muito rock, essa é minha essência. Mas descobri na adolescência a música clássica, que curto muito. Amo Beethoven. A nona sinfonia é uma explosão de sentimentos. Ouço Carmina Burana e me arrepio. Adoro Mozart e Bach também. Tenho vários CD’s de música clássica que me aliviam e trazem paz.

Também cresci ouvindo Bethânia e Gal. As grandes interprétes de Gonzaguinha. Meu primeiro compositor. “Começaria tudo outra vez se preciso fosse, meu amor” … meu Deus !!! Como dizem os gaúchos, afudê. Gil e Caetano descobri no fim da adolescência. E eu adoro o Gil. Ele me faz refletir, acho um grande poeta, tem o dom das palavras. “Se eu quiser falar com Deus tenho que aceitar a dor”. Lindo. E a canção de amor ao Rio ? Fala sério, o Rio de Janeiro continua lindo em verso e prosa do Gil. Chico dispensa comentários. Tem o mais vasto repertório de cantadas femininas. E Chico e Gil fizeram uma das mais fantásticas canções de dor: “Pai, afasta de mim este cálice de vinho tinto de sangue”.

Foi quando as minhas espinhas sumiram que descobri Tom e Vinícius. Claro que Vinícius fazia parte da minha infãncia, com suas canções para crianças. Ele e Toquinho. Mas Tom, que imortalizou o Rio com seu Samba do Avião, é um querido. Chega de saudades ! Se todos no mundo fossem iguais a você ! Eu sei que vou te amar por toda minha vida eu sei que vou te amar, em cada despedida eu sei que vou te amar, desesperadamente !!! Ele e Vinícius são mestres das letras, uma benção aos dois.

Claro que eu ouvi todos os grupos do Brock (o movimento Brasil/rock). E eu sempre idolatrei o Paralamas. O Herbert é algo assim, é tudo pra mim. Acho que Cazuza, o poeta carioca, faz falta. Eu sempre vago pelas luas desertas das pedras do Arpoador. E o Renato Russo também. Acho que do rock brasileiro tirei muita coisa bacana, as letras sempre me inspiraram. A música da minha vida adolescente foi “Quase sem querer”. Era um período de perguntas sem respostas, e a música me identificava. Gosto das letras do Nando Reis. Marvin me lembra as lições que meu pai me deixou. “Marvin, agora é só você e não vai adiantar, chorar vai me fazer sofrer.” Dói ouvir isso. Assim como nada do que foi sei será do jeito que já foi um dia. Lulu e suas letras litorâneas. E o hotel Marina quando acende não é por nós dois nem lembra o nosso amor, como diz a Marina. E hoje eu moro no Paraíso, e não a dois passos dele, como dizia a canção da saudosa e adorada Blitz.

Mas eu sou neguinha e curto jazz, ouço Billie Holyday e Ella Fitzgerald. Também me amarro em samba-rock. Adoro a levada do imbatível Tim Maia que me levou do Leme ao Pontal. E do Jorge Benjor, que me fez bem ao cantar que molhada e despenteada, ainda assim, eu posso ser linda ! Que maravilha !

Eu ouço de tudo. Sim, eu ouço Djavan, Marisa Monte, Skank e hoje a música da minha vida é “A Estrada” do Cidade Negra. Porque você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui. Fico emocionada com a potência da voz da Elis, gosto de um banquinho, um violão, um amor e uma canção. Até me divirto com música eletrônica, sou fã do Red Hot, do Lenny Kravitz e da depressão do Radiohead. REM é maneiro, Michael Jackson tem clássicos pra tocar e Madonna é minha rainha, forever. A mulher que rompeu os tabus e assumiu o nosso lado material girl.

Provavelmente eu esqueci algumas canções marcantes. Tenho que falar ainda da black music, de primeira, esse é o som. Pra encerrar eu preciso falar do Bob Marley, que deixa meu lado neguinha mais assumido com seu reggae, e do meu favorito Marvin Gaye. O cara. Let’s get on é A MÚSICA.

Eu sou letra de algumas músicas. Inclusive do Vinícius… ele escreveu que queria casar com Janaina. Aquela que acorda todo dia às quatro e meia … olha o canto das sereias … muita paz ela semeia…
Janaina e Iemanjá são rainhas do mar.

Eu sou a menina do esmalte vermelho, da tinta no cabelo e dos pés no salto alto cheios de desejo da música do Barão. Eu sou a morena de angola que mexe o chocalho amarrado na canela. Eu sou linda, mais que demais, eu sou linda sim, sou a onda do mar do amor que bateu em ti.

Ah, mas se eles querem meu sangue, terão o meu sangue só no fim. E se eles querem meu corpo, só se eu estiver morto, só assim. Porque eu sou, acima de tudo, a garota carioca suingue sangue bom.

Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, agosto 20, 2003

Let’s get on


Quando o Marvin Gaye começa a cantar com sua voz sedutora, a canção mais apaixonante de todos os tempos, o céu nublado se transforma em estrelado. Ai, dançar à luz da lua com a certeza de que ao fim da música o beijo é certo e tudo mais incerto … deixe-me ir, eu quero ir agora, quero ir embora daqui. Quero ficar com meus pensamentos nebulosos e fazer da noite minha fiel observadora. Deixa de ser chato e olha para o céu. As estrelas não podem ser vistas daqui, e elas só existem para fazer a perfeição das noites. As nuvens encobrem as noites perfeitas. Mas todas as noites serão perfeitas porque as estrelas sempre estarão lá. E enquanto existirem estrelas no céu, a lua a brilhar e Marvin Gaye cantando no CD que nunca parou de tocar … enquanto isso existir, eu vou ter beijos certos porque tudo mais … tudo mais sempre será incerto.


Janaina Pereira
Redatora

terça-feira, agosto 19, 2003

Debaixo dos caracóis

Afinal de contas, homem gosta ou não de mulheres com cabelos compridos ? Alguém disse isso e a mulherada deixou o cabelo crescer. Fica um bando de mulambas de cabelos gigantes e mal-tratados, tudo pelo bem do olhar masculino. Ou aquelas neuróticas que passam horas cuidando do cabelo. Fazem escova. Alisamento japonês. Ninguém merece. Eu, que sempre tive cabelo crespo, enrolado, cheio de cachos rebeldes, nunca me rendi a esse apelo da mídia. Usei cabelo curto durante anos. Alguém dizia que o cabelo estava lindo, crescendo … e eu não pensava duas vezes: tesoura nele. Uma amiga uma vez me disse que os homens adoravam mulheres de cabelos longos, que elas eram mais sensuais. Respondi que nenhum homem ia ficar comigo porque meus cabelos sempre seriam curtos.


Pouco antes de vir morar em SP deixei a juba crescer – eu não tenho cabelos, tenho juba – e aqui todo mundo me conheceu de cabelão. Cortei poucas vezes – como agora – mas nada que o deixe parecido com o que era antes. Nem pensem em dizer que me rendi. Que aceitei apelos masculinos para deixar o cabelo crescer. Já tive namorado que pedia e levava um sonoro “não”. Eu sinto frio pra caramba nesta cidade, e os cabelos aquecem orelhas e nuca. E só isso. Mas nada de alisamento nem aqueles bilhões de artifícios femininos para seduzir os homens. Se eu dependesse disso pra fazer um cara olhar pra mim, estava frita. Provavelmente meus cabelos desgrenhados, rebeldes, cheios de cachos enfurecidos, não são sonho de consumo dos marmanjos.


Mas os cabelos tem uma coisa deliciosamente feminina que só as fêmeas sabem reconhecer. É o máximo cortá-lo, pintá-lo, mudá-lo de um jeito inovador, surpreender a si mesma com ousadia. Levou o fora do namorado ? Corta o cabelo. Ninguém te ama, ninguém te quer ? Tesoura nele ! Foi demitida ? Pinta a cabeleira !!! Mudou de emprego ? Faça luzes e ilumine-se. Os cabelos, para as mulheres, são a moldura do rosto, o complemento mais feminino da beleza frágil, o carro chefe daquela entrada triunfal numa festinha maneira (uma jogadinha de cabelo básica e um olhar sutil, de lado, é o que há !). A gente muda o cabelo porque parece que mudamos com ele. Mudamos o olhar para nossa imgame exterior, o olhar que só o espelho vê.


Meninos, meninos, cuidem desses cabelos porque eles não estão aí só pra enfeitar a cabeça ! Cabelos espetados, raspados, bem curtinhos, cabelões – homem de cabelo grande tem que ser muito bem cuidado, se não fica uma coisa ensebada e ridícula – lisos, com cachos como o anjinho do Erik Marmo, o cabelo cacheado masculino mais fofo do momento (o cabelo e tudo mais que aqueles olhos verdes sensacionais tem para oferecer !).


Cortou e não deu certo, esconde ele ! Gorro, faixa, presilha, arco, flecha, põe um enfeitinho aí e vai à luta. Menina de trança não é mais criança mas é sexy. Homem de rabo de cavalo ? Até o Rodrigo Santoro já teve um !


Eu preferia um milhão de vezes ter um cabelo liso, mas já que não dá – alisamento, nem pensar – fico com meus cachinhos mesmo. Com direito a música do Rei. Porque debaixo dos caracóis dos meus cabelos também têm muita história para contar. Não tantas histórias como as do Caetano (a música foi feita para os caracóis do Sr. Veloso), mas eu prefiro meus caracóis aos dele.


Janaina Pereira
redatora

sexta-feira, agosto 15, 2003

A minha alegria atravessou o mar



Eu já sou uma mulher de 29. Pré-balzaquiana. Nada mudou, continuo do mesmo jeito. Os cabelos um pouco mais curtos, mas ainda aparecem espinhas no rosto. Adolescência é foda. Durante 28 anos o dia do meu aniversário era um dia diferente. Eu tinha a nítida sensação de que nunca seria um dia como outro qualquer. Ontem também não foi. Mas pela primeira vez me senti serena, coisa que nunca aconteceu antes. Foi um dia tão radiante, tão tranquilo e iluminado, que olhei para trás e vi claramente que os caminhos da vida são perfeitos.


Se as coisas saíssem como eu imaginava, provavelmente eu não teria uma aparência tão tranquila. Eu não preciso de certas coisas, muito menos de certas imagens que se refletem por aí. Imagens que não representam a realidade. Odeio roupas da moda que cobrem corpos esqueléticos. Detesto as pessoas que parecem ser e não são. Eu sou sim, sou o que sou e nunca precisei mudar para ser aceita no mundo. Eu mudei sim, para aceitar a mim mesma de forma mais ampla e precisa.


Ontem, a cada telefonema, e-mail ou mensagem recebida, mais do que um simples parabéns, vinham pensamentos bons e muita energia positiva. É muito gratificante saber que por alguns segundos, no dia 14 de agosto, algumas pessoas no mundo param e pensam em mim. Uma única pessoa dá importância a tudo isso mais do que ninguém. É a minha mãe. O meu dia é o dia dela, que sentiu as dores para me colocar neste mundo. A minha vida existe porcausa dela e do meu pai, porque eles foram os responsáveis pelo que sou, pela minha existência. Então ninguém no universo pode sentir mais a emoção desta data do que minha mãe – e meu pai também, onde quer que ele possa estar agora.

Eu já odiei meu aniversário, já ignorei, já me deprimi … e apesar de ter gente achando que eu fazia 22 anos ontem, chega de saudades !!! Já foi, né ? Adoro a possibilidade de enxergar o mundo com a maturidade que estou adquirindo. Um olhar que ainda não vê rugas quando está diante do espelho, mas que conta os cabelos bancos. Um olhar que agradece, que aprecia, que espera, que encanta, que decepciona, que procura ver o lado bom das coisas.

E se eu fechar meus olhos eu vejo o mar … mesmo distante, posso ouvi-lo, sentir a maresia e ficar em paz. Certas coisas o tempo não vai apagar. E este mar, agora de saudades, que trago em mim, me acompanharão por toda eternidade.


Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, agosto 11, 2003

Na pele

Finalmente ! Eu sabia que o tempo ia chegar. O tempo certo para eu deixar meu corpo marcado para sempre. Uma marca profunda, que dói e quase me faz desistir. Mas eu sou osso duro de roer. Sim, é uma agressão à pele e o corpo reage ferozmente. Mas está lá, na minha pele, para sempre, minha tatuagem.

Numa das experiências mais marcantes– sem nenhum trocadilho - da minha vida, eu fiz minha tatuagem. Ganhei de presente, para marcar a passagem pela minha conjunção de Saturno. Meus 28 anos vão ficando para trás e lembrarei sempre que foi com essa idade que fiz a minha tão sonhada tatuagem.

Foram alguns anos desejando e outros tanto procurando algo que só o meu corpo pudesse receber. Algo exclusivo, único, meu. Algo que ninguém nunca fez, que ninguém tem. No último sábado, sob chuva, lá fui eu e minha amiga Parvati rumo ao tatuador. Foi fantástico, divertido, um rito de passagem fabuloso. Dói sim, dói muito, dói pra caramba, dói horrores, dói, dói, dói … só não deve ser pior do que a dor do parto. Eu suei frio, eu reclamei, eu resisti. O resultado ? A perfeição. Ficou exatamente como eu queria, como sempre imaginei.

Estou tratando apaixonadamente dela. Estou sofrendo também porque meu corpo reagiu com muita força diante de tanta agressão. Mas agora eu quero é mais. Não vou levar 28 anos para fazer outras. Quero deixar as marcas da criatividade na minha pele morena.

Eu vou agradecer para sempre à minha amiga Parvati pelo presente que vale a eternidade. Eu vou agradecer para sempre a inspiração dessa marca que agora faz parte de mim. Como meus sinais de nascença, que eu sempre falei que eram minhas tatuagens naturais. Só que agora eu escolhi o que e onde esses sinais iriam aparecer. Escolhi o que ninguém vai herdar, o que só pertence a mim e ao meu corpo.

Minha tatuagem não é de domínio público. Não adianta insistir, não digo o que é, nem onde é. Podem pensar a besteira que for, podem me torturar que eu não falo. Alguns poucos privilegiados vão ver, vão saber e, sim, alguns já viram e já curtiram. É mesmo a minha cara.

Inferno astral ? Que inferno astral, que nada ! Quando a gente tem luz própria, não existe inferno astral. Minha tatuagem é a marca de dias felizes, de dias melhores, de dias inesquecíveis. A marca que eu escolhi para me acompanhar. Uma marca exclusiva, sob medida para minha pele. Os anos virão e deixarão marcas no meu rosto. Nada que plástica, botox e as mil coisas que os homens criam para manter as mulheres quase perfeitas, não possam consertar. Mas esta marca, tão sutil e tão aguardada, faz parte de mim para sempre. E isto é o que torna a tatuagem a filha única da imaginação.

Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, agosto 08, 2003

Gladiadora


O que eu vou fazer amanhã ?


A- ( ) Esperar que alguém me convide para sair
B- ( ) Chamar alguém para sair
C- ( ) Bater perna o dia inteiro na rua para dormir cedo à noite
D- ( ) Sair c/ minha amigas e ficar livre, leve e solta
E- ( ) Ficar em casa tentando me recuperar – afinal, foram duas noites com o Russel Crowe.


Ai, o Russel Crowe … ele vale o ingresso, a pipoca e cinco sessões seguidas no cinema. Babar pelos atores é bom porque à distância todo homem é perfeito. Enquanto os meninos correm pras bancas pra ver a malvada Doris peladona, a gente fica ali, em frente à TV, suspirando pelo Russel. Ai, Rus, que saúde !!!! Que Gladiador, que nada, eu quero mais é aquele corpinho saradíssimo pra mim ! Fico imaginando – e eu tenho uma imaginação muito fértil – o Russel Crowe, o Brad Pitt e o George Clooney numa festa. Eu não ia suportar !!!! Agarrava os três, fácil. Enquanto isso os meninos vão pras bancas comprar a revista da pouco vestida Sabrina do BB3. Mas o Brad Pitt já virou hour-concours. Ele é um desacato de bonito, um desaforo de apetitoso – eu ia escrever gostoso, mas meus amigos ficariam chocados com esse meu comportamento. Ele é o único homem no mundo que pode ter chulé que eu não ligo. Porque chulé é foda, mas no Brad Pitt tudo é perdoável. Enquanto isso os meninos vão pras bancas devorar a Maryeva nua. Já o George Clooney, eternamente cafajeste, com cara de que está sempre aprontando, um arraso. Tô passando mal só de pensar ! Eu via E.R. porcausa dele. Ainda bem que eu já era grandinha, porque ter um pediatra daquele me tornaria precoce em certos assuntos…

Enquanto isso, os meninos sonham em ver a Fernanda Lima, a Carolina Dieckman e a Luciana Gimenez peladas. Se eles podem sonhar com elas, porque a gente não pode imaginar uma festinha privê com o Russel, o Brad e o George ?

O que eu vou fazer amanhã ? Não tem a menor idéia. Mas se eu encontrasse o Russel Crowe por ai … ele estava perdido …


Janaina Pereira
Redatora



O grande amor da minha vida


Ele é lindo. Quando estou com um ele sinto um prazer indescritível. Ele tem um jeito especial, um cheiro diferente. Ai, meu Deus, como eu adoro ele !!!! Como é bom ficar juntinho dele. Caminhar. Ir à praia. Curtir a noite. Ver o pôr-do-sol. Às vezes me sinto nua só com aquele olhar. Um olhar cheio de benção. E eu, repleta de veneno, sorrio. Deixo a brisa me tocar. Respiro fundo e me isolo do mundo para curti-lo melhor. Só ele me basta. A gente quase não se vê. Eu moro em SP, e raramente me encontro com ele. Mas quando a gente se vê, é uma emoção só. Certa vez eu chorei quando olhei pela janela e o vi. Ele estava muito lindo ! Nada no mundo é mais fantástico do que ele. É a razão da minha existência, é meu grande amor.

Mas é um caso de amor mal resolvido. A gente se adorava mas não se dava bem. Eu não era feliz ali com ele, então resolvi me mudar. Vim para SP e estou bem aqui. Mas a distância fez com que eu ficasse ainda mais apaixonada. Agora vivo aqui, dividida. Em SP eu tenho uma vida muito legal. E é mais legal porque eu só volto pros braços dele quando eu quero, quando eu posso. Aí, ninguém me segura …

Andam me falando que vou ser expulsa de SP. Tudo porque cada texto meu é uma pequena declaração de amor ao Rio. Eu curto morar em Sampa. Gosto mesmo. Mas eu amo o Rio. Eu amo muito, amo demais. Um amor que nunca vai morrer. Amor de alguém que tem orgulho de cada pedacinho que a cidade oferece. Obrigada Sampa por me receber tão bem. Mas sempre serei uma carioca da gema e da casca do ovo. A tal da garota carioca sangue bom. Mas pelo amor de Deus, não me peçam para dançar funk. Não precisa me esculachar também, né ? Eu sou carioca mas não sou funkeira, nem pagodeira, nem rainha de bateria, tá bom ?


Janaina Pereira
Redatora



quinta-feira, agosto 07, 2003

Outro artigo que escrevi quando estava passando uns dias no Rio (o “Forever Young” também foi escrito lá). Eu já estava de saco cheio do bairrismo e de toda essa rivalidade irritante entre cariocas e paulistas. São palavras de carinho para SP. E mais uma declaração de amor ao Rio, a grande paixão da minha vida. Novamente, um título inspirado numa música – dessa vez, U2. Originalmente no site Vox News.




As coisas que eu deixei para trás

Feriado é sinônimo de viagem. No meu caso, viagem de volta para casa. Minha casa, tão perto e tão longe, minha cidade querida, a cidade partida, meu Rio de Janeiro.
E enquanto eu pego a estrada, vem a memória aquela velha rixa que atravessa a Dutra. Por que cariocas e paulistas implicam tanto uns com outros? Não, eu não vou ficar aqui tentando explicar os motivos que levam o lado de cá ou o de lá da ponte área a este tipo de atitude. Mas vou colocar os meus dedos - e minhas mãos - nesta questão. Como uma carioca da gema que adora morar em Sampa.

Aproveito que o Festival de Cannes terminou e novamente a propaganda brasileira mostrou que bate um bolão. E sim, São Paulo continua sendo o centro da propaganda nacional. Daqui a algumas semanas dezenas de publicitários de todo Brasil vão começar a desembarcar na cidade. Em busca
da realização de sonhos e promissoras carreiras. Poucos serão os sobreviventes dessa odisséia.

No dia que eu decidi trocar o chopp nos quiosques da Lagoa pelo pastel no Sacolão da Vila Madalena, eu sabia que comprava uma briga séria. De um lado, minha família e meus amigos. Poucos acreditavam que eu, a garota carioca que
ia à praia todo fim de semana, suportaria viver na selva de pedra paulistana. Do outro lado, o desconhecido. Uma cidade aparentemente fria, repleta de gente apressada. Um lugar sem referências, sem identidade, sem nada para me oferecer - porque nem emprego eu tinha quando cheguei a SP. Eu tinha os amigos dos amigos que moravam na cidade, os conhecidos, os contatos com pessoas do mercado que eu conheci quando morava no Rio e ia pra SP procurar emprego. No dia que decidi que eu ia mesmo morar em SP, eu só tinha um portfólio nas mãos. Eu achava que isso era o bastante.

E durante muito tempo eu convivi com a solidão. Com a certeza de que eu era o nada. E o com a incerteza de cada momento. Tudo era estranho. Todos eram esquisitos. Cada vez que eu ficava perdida no meio do caminho, eu odiava estar em SP. Cada vez que eu me sentia sozinha e não tinha com quem falar, eu detestava estar em SP. Cada entrevista que não dava em nada eu tinha verdadeiro horror de ficar em SP. Eu nem sei quantas vezes eu pensei em voltar para o Rio. Mas sei que toda vez que isso acontecia, alguém do outro
lado da linha telefônica dizia para eu ter paciência, que nada acontecia por acaso e que as coisas iam dar certo.

E o tempo foi passando, as oportunidades chegando, mas eu continuava achando tudo esquisito. Eu era sempre um rádio fora da estação, com um sotaque carregado que irritava algumas pessoas. Eu era mais uma carioca esperta
tentando se dar bem em SP. Ou eu não era uma carioca de verdade, porque carioca de verdade nunca deixa o Rio.

No começo tudo em São Paulo me angustiava. Até os dias de sol. Eu lembrava que no Rio estava dando uma praia maravilhosa e ficava deprimida. Lembrava que não podia ir todo fim de semana pra lá, e que não podia ficar gastando
com interurbano... era mais fácil me trancar no quarto e chorar de saudades. E eu chorei tanto no meu primeiro ano em SP que não deve ter sobrado muitas lágrimas para depois.

A angústia crescia quando alguém resolvia falar mal do Rio para mim. A resposta sempre foi certeira: eu escolhi vir morar em SP e nunca falei mal da cidade. Escolhi os engarrafamentos, a poluição e tudo mais que a cidade
pode me oferecer. Mas foi uma escolha minha, então se eu não falo mal de SP, por favor, não fale mal do Rio perto de mim. O Rio é violento, está desse ou daquele jeito, mas ninguém na face da terra tira o meu orgulho de ser
carioca. E nenhum ônibus pegando fogo numa esquina vai me impedir de ir ao Rio.

Aí vinha o outro lado da história. Alguém queria saber como eu deixei aquela cidade linda para morar aqui. "Porque eu quis" sempre foi uma boa resposta. Porque eu quis uma nova experiência pessoal e profissional. Só isso. É pouco?

Num processo muito lento eu fui me adaptando. Fui descobrindo que eu curtia de verdade morar em SP. Sempre morei perto do Parque do Ibirapuera e isso foi fundamental. Claro, não é a minha praia, mas já me faz desencanar dos
problemas. E apesar das pessoas nunca deixarem de me perguntar porque eu sai do Rio, e sempre aparecer alguém para falar mal da minha cidade, eu comecei a não me preocupar com isso. Porque a vida é feita de escolhas, e eu fiz a minha.

Um dia eu viajei para o Rio e senti falta de SP pela primeira vez. Foi ai que percebi como eu havia mudado e como era feliz na paulicéia. Tudo bem, eu falo biscoito, acho tudo maneiro mas vou para balada. E ainda passei a
economizar nos beijinhos no rosto: como os paulistas, agora eu só dou um beijo. Ninguém é perfeito.

Justamente por ter me acostumado a SP, minhas viagens ao Rio passaram a ser menos freqüentes. E para os cariocas eu virei paulista, mudei o sotaque e abandonei as raízes. Pronto, a perseguição mudou de lado. Definitivamente,
não dá para agradar todo mundo.

O papo furado de que carioca só gosta de carioca e que todo paulista é frustrado porque o Rio é mais bonito que SP, pode ser verdade para alguns. Para mim não. Acho meio ridículo que exista este tipo de rivalidade. Ela é tão evidente que é quase palpável. É um desperdício de energia
impressionante. Qualquer rivalidade ou preconceito é desnecessária, mas tem certas coisas que parecem que nunca vão mudar.

Uma das mulheres mais sábias que já passaram por este plano, Madre Tereza de Calcutá, tem uma frase avassaladora: "Se você julga as pessoas, não tem tempo de amá-las". Então porque rotular que todo carioca é metido e todo paulista é frio ? As pessoas são diferentes. Convivo com paulistas maravilhosos que são cariocas honorários. Com gente que um dia falou para mim que até me conhecer, achava que carioca era tudo chato. E que hoje em dia repete sem parar o "ninguém merece" tipicamente 'carioquês'. Não existe a menor necessidade de julgar as pessoas pelo lugar de origem delas.

Sim, meu sotaque mudou, eu mudei e até a propaganda que eu faço mudou. As pessoas mudam e ainda bem que algumas para melhor. Mas continuo sendo uma garota carioca sangue bom - às vezes um pouco marrenta, é verdade. Continuo
ouvindo os cds do Tom Jobim (e principalmente "Samba do Avião") quando sinto saudades de casa. Porque o Rio sempre será, mais do que o lugar que eu nasci, a minha casa.

Quando eu resolvi morar em Sampa, deixei muitas coisas para trás. Deixei minha casa, minha família, meus amigos, meus mergulhos em Ipanema e o pôr-do-sol no Arpoador. Deixei toda minha história de vida em vários lugares
da Cidade Maravilhosa. Deixei também os pensamentos bairristas que costumam atravessar a Dutra ou fazer o trajeto Santos Dumont-Congonhas. E apesar de ser um processo doloroso, não me arrependo de nada.

O que embarcou comigo para Sampa foi justamente o meu jeito carioca de ser. Um jeito colorido, divertido e espontâneo de ver a vida. Foi o meu olhar particular do mundo, o olhar de quem nasceu vendo o mar pela janela. O olhar de quem, quando volta para casa, é recebida de braços abertos. Por todos aqueles que deixei para trás. Inclusive o Cristo Redentor.

Janaina Pereira - redatora


Atendi ao pedido de um amigo publicitário e escrevi este artigo. É baseado em fatos reais. Nem eu imaginava que um almoço renderia tanto. Tinha que ser engraçado, porque as pessoas envolvidas precisavam se divertir com o que liam. Acho que ficou gostoso de ler. Originalmente no site Trampolim.




Almoço com as estrelas

Os almoços publicitários são uma lenda. Sempre que você encontra alguém do
mercado é um tal de “vamos almoçar qualquer dia desses” que impressiona. Se
o pessoal almoçasse com todos que conhecem, só teríamos fofinhos no mercado. Nada contra as pessoas mais cheinhas, mas ninguém resistiria a tanta
comilança. No Rio temos até um almoço oficial, numa churrascaria, toda
sexta-feira (tem dia melhor para um “almoço de negócios” do que sexta ? ).
Enquanto a galera traça uma picanha, bate um papo descontraído. Entre a
maminha e a fraldinha, faz uns contatos básicos. É uma festa.

Em Sampa o pessoal é mais comedido. Você almoça para receber proposta, para fazer contato, para fazer social. Ainda não almoçamos para sermos
demitidos, isso seria meio indigesto. Mas os almoços fazem parte da nossa vida
publicitária como os jobs, o icq e as rixas com o atendimento.

A galera da criação, sempre festeira e festiva, faz do almoço um
acontecimento. Recentemente tivemos até uma entrega de prêmio durante um
almoço. Uma idéia diferente, que tem tudo a ver com o meio. E foi
impressionante como a galera compareceu em massa.

Nada como um almoço para ver e ser visto, afinal, o almoço é uma festinha
disfarçada. Uma festinha um pouco mais particular, talvez. É na hora do
almoço que de maneira mais informal podemos conversar com aquelas pessoas que só conseguimos dar um “oi’ nas festinhas noturnas. Essas pessoas,
algumas vezes, são mesmo nossos amigos. Outras, apenas conhecidos. Mas na maioria das vezes são apenas contatos.

Alguns restaurantes são points dos publicitários. O Galeto Paulista é um
deles. Outro dia fui lá com meus amigos e vizinhos Kiko e Pedrinho, da
Thompson. Não era um almoço de negócios, nem de contatos. Era de amigos
mesmo, uma coisa rara mas que ainda existe. Os amigos ainda almoçam juntos
sim ! E como somos todos do “mundinho”, falamos sobre propaganda, claro.
Falamos se aquele anúncio era bom ou não, se aquele filme merecia ou não
determinado prêmio e de como os jobs com prazos curtos impedem mais almoços como o que estávamos tendo ali. Falamos dos leões que ainda não ganhamos, aliás, de todos os prêmios que ainda não ganhamos. Se bem que no Galeto
Paulista a gente ganha uns brindes após o almoço. Eu, que estou no meu
inferno astral, não ganhei nada. O Pedro, que não ganha nem par ou ímpar,
também ficou a ver navios. Mas o Kiko ganhou uma bala e como é amigo,
dividiu seu prêmio. Se ele fosse apenas um conhecido, ou se estivesse
fazendo somente uma social, não dividiria nada não.
Ao sairmos do nosso animado almoço, quase compramos uns leões. Sim, porque quem não ganha leão, compra. Bem ali na Alameda Santos tem um camelô que vende uns leões bem parecidos com os de Cannes. Umas fofuras. A gente quase comprou uns para enfeitar nossas mesas. Mas como o horário de almoço já tinha acabado, não deu tempo de irmos lá. Fica para o próximo almoço.

E assim é a vida de um publicitário: entre um job e outro a gente almoça. E
é uma festa. Almoço para fazer lobby, para resolver job, para ser sociável.
Mas almoço para rever amigos é sempre mais legal e com certeza mais animado. Mesmo que a gente só fale de propaganda, essa profissão cheia de
particularidades. E depois desse almoço com o Kiko e o Pedrinho, ficou claro
para mim que mais importante do que ganhar leões e outros prêmios, a
propaganda me fez ganhar uma coisa rara ultimamente: amigos. Porque amigo
hoje é uma espécie em extinção. E quando a amizade é verdadeira, ela
sobrevive até as crises do nosso mercado. Ou – o que é melhor – ela se
fortalece justamente durante esses momentos de crise.

Eu posso não ter ganho muita coisa até agora, mas quando olho para trás
percebo que pelo menos bons amigos eu consegui fazer num universo tão
competitivo. Eu posso não ter um milhão de amigos, mas tenho todos aqueles
que valem a pena. E isso é um privilégio. Como disse Walt Whitman, “levantar
alguém que caiu, apoiar alguém que resiste.” E a gente vai caindo,
levantando e apoiando os amigos. E almoçando com eles de vez em quando
também. Até porque almoço faz parte do nosso negócio. E aí, Rodnei, aquele
nosso almoço sai ou não sai ?

Janaina Pereira
Redatora

Por que veneno da gata ?

Da Lata já foi uma gíria da moda no Rio.
Tem uma música da Fernanda Abreu que se chama "Veneno da Lata" e o Paralamas gravou "Vamô Bate Lata".
Da lata é da hora.

Eu pensei de cara em veneno da gata, não tive segunda opção. Pensei nisso e só. Eu não me acho gata, mas certamente destilo veneno. Não que eu seja má, mas sou irônica. E a ironia caminha de mãos dadas com o veneno.

Eu não sou engraçada e não tenho bom humor. Mas sou irônica. E cheia de veneno.

Nada como uma boa dose de veneno. O veneno é da lata como a música diz. A gata é só um trocadilho infame, por causa da minha veia publicitária.

Falei muito e não disse nada. É veneno da gata e pronto. E vamô batê lata.

:)


onde ler os originais ?

www.trampolim.art.br
www.voxnews.com.br
www.ccrj.com.br
www.ccsp.com.br
www.saiajusta.com.br


sempre na estrada.

Um artigo jornalístico, porque eu não escrevo somente para propaganda, né ? Gosto muito de colocar o dedo na ferida, expor o que penso, dar a cara pra bater. E quando o assunto me revolta, tenho que escrever sobre ele. Muitas vezes as palavras saem ácidas, mas verdadeiras. Originalmente no Vox News e CCRJ.




365 dias depois.


E mais um trabalhador saiu de casa e não voltou mais. Quantas vezes isso acontece, todos os dias? Em vários lugares do Brasil, homens e mulheres saem de casa e nunca mais são vistos por suas famílias. É uma bala perdida aqui, um atropelamento ali, um assalto acolá. O pior é quando esse trabalhador é retirado do meio de seu trabalho, torturado e assassinado.

Claro que estou falando do assassinato do jornalista Tim Lopes. Ele estava na Vila Cruzeiro fazendo o seu trabalho. “Se meteu onde não devia”, diz um. “A violência no Rio está a cada dia pior”, diz outro. Sim, o Rio é violento e o jornalista estava onde não devia. Naquele domingo deveria estar em casa, com sua família. Mas escolheu uma profissão que é um desafio, e cumpria muito bem sua missão. Ele fazia o que tinha que ser feito; o final dessa história é que não poderia ser esse.

Discutir a violência do Rio é cair no lugar comum. O Rio é tão violento quanto São Paulo e outras cidades do país. O que podemos ver é que o poder do tráfico ganhou do poder da mídia. E o Tim, que estava apenas fazendo o seu trabalho, foi cruelmente assassinado por causa disso.

E agora? Vamos ficar calados e continuar vivendo em cidades cada vez mais sitiadas? Vamos deixar que esse seja mais um caso que vai entrar para a história (e para o histórico) de violência do Brasil? Será que vamos deixar que o poder continue a cada dia mudando de mãos - e lavando essas mãos com sangue? Como disse Renato Russo, em 1987, “que país é esse?”.

No dia 3 de junho de 2003 a morte de Tim Lopes completou um ano. Pouca coisa mudou. E se continuarmos sentados olhando a TV, pouca coisa vai mudar. Será que vai chegar o dia que nem as matérias sobre violência conseguirão chegar à televisão porque os jornalistas não irão terminá-las? Que a morte do Tim Lopes não tenha sido em vão. E que a gente não deixe essa notícia ser apenas mais uma notícia violenta que já estamos tão acostumados a ouvir.

Janaina Pereira - redatora

Uma das coisas mais angustiantes da propaganda é a história de mostrar portfólio. Escrevi minha opinião sobre o assunto. Foi o texto com mais retorno, o primeiro depois do quase famoso “Forever Young”. Foi com ele que este papo de artigo virou coisa séria. Originalmente no site do CCSP.




As pessoas que existem atrás dos portfólios.

"Portfólio é um assunto delicado. Quem mostra, vive aqueles minutos de angústia, aquele tormento de quem tem seu trabalho avaliado. Quem vê, pode estar diante de trabalhos bacanas, alguns até que gostaria de ter feito. Ou pode ver trabalhos não tão bons, que faria diferente. E é nessa hora que vem o momento delicado: como criticar de forma construtiva um trabalho ?
Certa vez, um redator me falou que não gostava de ver pastas. Mas que, como em sua vida muita gente já tinha visto a dele, ele se achava na obrigação de fazer isso. Ele tinha um bom argumento para não gostar de ver portfólios: disse que não dava pra avaliar ali, em algumas peças, a vida de uma pessoa. Que cada anúncio tinha uma história que nem sempre dava pra saber qual é.
É, tanto faz você estar do lado de cá ou de lá da mesa, mostrar e ver portfólio é sempre subjetivo.
Quando eu vim para SP, mais do que as indicações que me davam, procurava mostrar pasta para pessoas que eu admirava. Eu tinha a oportunidade de mostrar meu portfólio para as pessoas que estavam no Anuário. Isso me enriquecia, e cada crítica vinha de maneira positiva – embora muitas vezes fosse duro eu, uma redatora, ouvir que os layouts não funcionavam. Dava vontade de matar o diretor de arte que insistiu em colocar aquela foto. E agora quem ouvia a crítica era eu, que também tinha culpa por não ter insistido mais para ele não colocar a droga da foto.
Eu sempre fui daquelas insistentes. De deixar qualquer secretária louca. Sempre corri atrás, e se a pessoa era receptiva, eu podia entrar em contato com ela mais vezes. Sempre com o cuidado de não ser chata nem ultrapassar os limites. Com o tempo, passei a observar que mostrar a pasta sempre para a mesma pessoa podia trazer vantagens e desvantagens. Alguns ganham liberdade e passam a falar mais abertamente sobre o portfólio. Não têm mais aquele lado politicamente correto, a saia justa de não gostar de um trabalho e não saber o que dizer. A pessoa já me viu algumas vezes, já me conhece e assim vai falando o que acha, sem ficar constrangida.
Outros, porém, se intimidam. Justamente porque já me viram algumas vezes, criam um vínculo e ficam sem saber o que falar quando aquele título é bom, mas o layout … e voltamos ao começo. Lá estamos nós, lados opostos na mesa. Quem pode criticar o trabalho sem magoar um amigo ?
Conversando sobre isso com várias pessoas, vejo que minha observação tem fundamento. É complicado criticar o trabalho de um estranho, mas é mais complicado criticar o trabalho de um amigo. Isso me faz lembrar de uma pessoa que sempre viu minha pasta com a mesma imparcialidade. O que seria de mim se não fosse o Victor Sant’anna ? Conheço o Victor desde o Rio. São quase oito anos de entrevistas em todas as agências pelas quais ele passou. O Victor é, sem dúvida, a pessoa que mais viu minha pasta até hoje. E mesmo me conhecendo, e sabendo de toda minha história, ele nunca deixou de dizer o que gosta ou não no meu portfólio.
Eu sempre estive mais do lado de cá – mostrando – do que do lado de lá – vendo pastas. Não me sinto à vontade em nenhuma das duas posições. Quando mostro a pasta, quero a verdade. O layout está ruim? O título não funciona? O conceito não é esse? Por favor, pode falar. Fala mesmo, eu quero saber. E quando a pasta de alguém está na minha frente, eu tento ser o mais sincera possível. Nunca esquecendo que além da pasta, também existe uma pessoa bem ali na minha frente. E ela quer ouvir a verdade. Essa verdade não precisa doer, e não vai doer se for dita com educação e respeito.
Como já me disseram, se contratam pessoas, e não pastas. As pastas representam um pouco do seu potencial. O seu comportamento representa você mesmo. Além do mais, no universo publicitário tudo é subjetivo. Hoje você está vendo pastas. Amanhã está mostrando a sua.

P.S.: Victor, desculpe usar seu nome sem autorização. Mas agora o mercado inteiro já sabe o que pouca gente sabia: toda admiração e respeito que sinto por você".

Janaina Pereira
Redatora




Eu tinha somente seis meses de vida paulistana. Estava sozinha, triste e morrendo de saudades da minha cidade maravilhosa. Foi a primeira das milhares de declarações de amor que eu escrevi para o Rio.




Garota carioca

É muito bom abrir os sites de noticias publicitárias e encontrar notinhas a respeito dos retornos ao Rio. Pra nós que deixamos pra trás a Cidade Maravilhosa, é sempre motivador saber que o mercado carioca está crescendo e (re)aparecendo.
Mas optar pelo outro lado da ponte aérea não é uma escolha fácil. Todos que vieram pra cá foram motivados por ambições profissionias. Cada um tem sua história, e muitas delas incluem um doloroso processo de adaptação à Paulicéia. Eu não vim pra São Paulo pra descobrir se a pizza daqui é realmente boa ou conhecer os pontos turísticos da cidade. Estar aqui é uma opção de vida - não de qualidade de vida. A gente muda de endereço mas também muda um pouco - ou muito - de vida.
Aí você passa a enxergar o Rio de uma outra maneira. Você acaba torcendo pra que o mercado melhore cada vez mais, pra que seus amigos tenham seu trabalho reconhecido, pra que novas agências apareçam e assim o mercado dê mais oportunidades.
Outro dia me falaram aqui que o mercado de Porto Alegre é o segundo maior - e melhor - da propaganda brasileira. Fiquei chateada. Pensei" puxa, será que é verdade ?" Bem, se for, espero que esse panorama mude logo. Por que apesar de adorar Porto Alegre e ter muitos amigos gaúchos, sou mais o Rio.
Ser carioca em São Paulo faz você idolatrar ainda mais o Rio. Já me disseram que todo carioca que vem pra Sampa fica com o sotaque ainda mais forte. E eu nunca reparei no meu sotaque, mas desde que estou aqui percebi que falo os "erres" e "esses" mais puxados. Com orgulho. Isso sem contar as nossas gírias. Antes eu falava apenas "maneiro" e "maneiríssimo", mas vez ou outra já solto um "fala sério!".
Os paulistas não entendem nada mas quando abro a boca, lógico, todo mundo já sabe de onde vim.
Apesar da momentânea escolha profissional, todo carioca que eu encontro por aqui pensa em voltar pro Rio. São Paulo é um grande mercado, grandes clientes, gente muito boa trabalho (e, olha, o que menos você encontra por aqui são paulistanos - a nata da propaganda veio do interior do Estado e de outras cidades do Brasil). Mas carioca é muito apaixonado pra abandonar o Rio de vez.
Meu nome é Janaina. Pra quem não sabe, Janaina é um dos nomes de Iemanjá, a Rainha do Mar. E quem fala de mar, lembra do Rio - portanto, eu, Janaina, vim do mar. Moro em São Paulo. Mas serei, sempre e para sempre, uma garota carioca. Porque, com muita satisfação, eu vim do Rio de Janeiro.

Janaina Pereira
Redatora





Eu estava de saco cheio desse papo de Dia Internacional das Mulheres. Botei a boca no trombone mesmo, que assunto mais chato ! Escrevi e esqueci o assunto. Mas acho até que ficou divertido …
Originalmente no site do CCRJ.






Dia internacional da mulher?

O Dia Internacional da Mulher foi, obviamente, criado por um homem. Apesar de todas as palavras, mensagens de carinho, manisfestações, etc e tal, devemos lembrar que este dia é só um reforço da nossa desigualdade.
Os anos passam, a gente evolui, queima sutiã, põe a barriga grávida de fora, condena, mata, xinga, mas continuamos discriminadas. Continuamos ganhando menos que os homens, convivendo com a eterna dúvida sobre nosso talento, fazendo dupla jornada, aturando desaforo pra sustentar os filhos, nos sujeitando a pouco para manter a casa em pé. Porque hoje as mulheres são mais do que donas de casa, são chefes de família, e se bem sucedidas, pagam a pensão do marido quando se separam, caso nós estejamos em melhores condições na vida.
"Mulher é um bicho que não se pode confiar, afinal, sangra todo mês e não morre." A máxima das piadas machistas é motivo de risadas por muitas de nós. Eu só sinto pena de quem fala e de quem ri de uma coisa dessas. Mulher sangra e ainda assim vai trabalhar; mulher chora e ainda assim tem que lutar; mulher diz que " não" e ainda sim é obrigada a transar.
Mulher finge, dissimula, machuca com elegância, mas é capaz de ter ódio mortal de outra mulher que fez alguma piadinha dela. É vingativa, é inocente, é gentil mas tem uma capacidade fora do comum de conquistar o que quer. Mulher conquista na garra e no charme, na doçura e na tolerância, na paciência e na esperança.
Mulher acredita que faz amor, acredita que ele vai ligar no dia seguinte, que seus colegas de trabalho só querem amizade com ela, que seu namorado nunca vai trai-la, que achou o homem da sua vida a cada beijo bem dado.
Mulher explora o corpo e deixa todas as outras morrendo de vergonha (ou de inveja), se satisfaz com presentes e agrados, disputa com a melhor amiga o mesmo homem, e acredita que ele vai voltar se ela suplicar aos seus pés.
Mulher até pára pra escrever um texto sobre mulheres. E pra lembrar, sem rancores ou mágoas, que o dia internacional da mulher é pura discriminação e preconceito. Porque não existe o Dia Internacional dos Homens. Porque o mundo sempre será machista. Porque o tempo passou e a gente continua lutando pra ter os mesmos direitos que eles. Porque os homens não são melhores do que a gente: eles apenas foram espertos ao criar um dia especial para mulherada acreditar que somos iguais. Não se iludam: a gente é muito mais esperta. Mas quem comanda o mundo ainda são eles.

Janaina Pereira - 27 anos, redatora, mulher em todas as encarnações pelas quais passei e se Deus quiser nas próximas também. Porque pra mim a grande vantagem de ser homem é poder andar sem camisa no calor. Mas eu prefiro andar com sutiã.

Janaina Pereira
Redatora



Se você pegou o bonde andando, eu sou publicitária. Uma carioca que mora em SP desde 2001. Meu primeiro trampo aqui foi numa agência muito maneira, a Registrada. Um dia a agência fechou e eu escrevi um texto sobre isso. Para deixar registrado – ai, que trocadilho publicitário, desculpem – um capítulo importante da minha vida na propaganda.





Começo, meio e fim

Cheguei a São Paulo em fevereiro de 2001 com a cara, a coragem, a mala e o portfólio. Fui bem recebida em diversas agências, conheci gente muito bacana mas foi na Propaganda Registrada que minha carreira por aqui começou.
No dia 14 de maio de 2001 lá estava eu, finalmente, dentro de uma agência legal. Uma agência conhecida, reconhecida, premiada, observada. Foi o Rodrigo Leão quem viu meu portfólio e me deu a chance de ficar um tempo por lá. E é a ele que vou sempre agradecer por ter me dado essa primeira oportunidade em Sampa, por ter aberto as portas para mim nesse mercado tão concorrido.
Foi na Registrada que eu aprendi que títulos eram mais do que títulos, eram Raciocínios. Que eu tinha que fazer uns 50 por job e ainda assim eram poucos. E era tudo fascinante: desde a geladeira repleta de Toddynhos ao autorama para aliviar o stress, passando pelo fato de eu sentar ao lado de um jovem que ia pra Cannes - e acompanhar o dia-a-dia de um Young. E ainda tinha que aturar as gozações por causa do meu sotaque e por ser a única mulher na Criação.
Foi na Registrada que eu fiz meus primeiros amigos em Sampa, que conheci gente maravilhosa, talentos que hoje brilham em outras agências. Érlon, Sílvio, Paty, Wlamir, Gabriel, Juliana, Ima, Maurício, Sérgio, Nikki, Quinho, Chico - e meu queridíssimo Fabinho Brandão, o redator mais paciente que já conheci em minha vida.
A Registrada também tinha uma coisa diferente: quem saía de lá sempre voltava para os almoços de confraternização. E assim conheci o Kato, o Djou, a Dani e todos entraram para minha lista de amizades. Nossa, que saudades!!! Saudades dos stress diários, dos jobs pra ontem, da mesa de sinuca, dos almoços no Santa Clara, das pizzas no fim da noite, de coisas que a partir de hoje não existem mais porque a Registrada não existe mais.
Quem passou por aqueles andares da Rua dos Pinheiros, de onde tínhamos uma vista privilegiada de Sampa, vai ter sempre boas lembranças e boas histórias pra contar. Foi graças ao meu trabalho na Registrada que fiz o portfólio que me fez entrar na Grey, onde estou até hoje.
Ontem fez um ano que eu entrei na Registrada. Hoje, por essas coisas da vida e do mercado publicitário, não existe mais a Propaganda Registrada.

Janaina Pereira
Redatora

Acho que foi a primeira coisa com humor que tentei escrever. A partir da piada de um amigo, escrevi este texto tentando ser engraçada. Não sei se consegui, mas eu tentei. :)
Originalmente nos sites Trampolim e CCRJ.


“Sutaque”
Não importa em que lugar do Brasil você está: se o seu sotaque é marcante, as pessoas já sabem de onde você veio. Mas não há nada mais irritante do que as pessoas ficarem tentando imitar você. Não adianta, um paulista nunca vai fazer sotaque de gaúcho, um gaúcho não sabe imitar um carioca e um carioca jamais vai se expressar como um baiano.
Mas não ! Alguém tem sempre que vir com uma piadinha, com uma gracinha, com aquela palavrinha típica de uma cidade, só pra se mostrar entendido em sotaques.
Eu nunca vou falar bolacha. Bolacha pra mim é tapa na cara. Da onde eu vim se fala biscoito. Sim, biscoito, com aquele “s” bem puxado. Mas tudo bem, eu já chamo trabalho de trampo. Eu já falo que estou com um “puta stress”, que aquilo é um “puta anúncio” e que eu fui numa “puta festa”. Aliás, quando eu saio eu vou pra balada. Deixei a night no Rio.
Mas eu devo estar perdendo a identidade. Quando vou ao Rio as pessoas dizem que estou falando com sotaque de paulista. Mas para os paulistas eu nunca perdi meu sotaque de carioca. Então eu já não sei mais como eu falo. Às vezes me pego falando com a mesma entonação dos paulistas. Conversava com minha mãe outro dia e falei: “num-sei-o-quê- é pequeno.” Ela me olhou assustada. Eu falei pequeno, com “e” e não “piqueno”, como os cariocas falam. Os paulistas falam certo: pequeno, teatro, futebol. Eu sempre falei “piqueno”, “tiatro”, “futibol”. E de repente, não mais que de repente, eu falei uma palavra corretamente no sotaque errado. E quase fui deserdada das dívidas pela minha mãe. Chocada, ela disse: “Filha, você virou paulista.”
Ai, essa perda de identidade é desconcertante. Certa vez brincaram comigo dizendo que não dava pra perceber que eu era carioca. Fiquei pasma. Esbravejava: “Como assim ? Eu tenho sotaque, eu tenho sotaque ! “ A pessoa até hoje diz que meu sotaque é de gaúcha. Claro que é brincadeira, imagina, o guri só está me zoando. Pronto, a convivência com pessoas de outras cidades fez com que eu perdesse de vez a identidade. Agora eu falo guri, que fulano é um querido… daqui a pouco estou achando tudo trilegal.
Quando você muda de cidade, incorpa novos hábitos à sua vida. E por que não um novo sotaque também ? Não tem como fugir, você acaba ouvindo as pessoas falarem diferente, e as palavras saem naturalmente em outra melodia. Se bem que dizem que jamais se perde totalmente o sotaque, principalmente quando as pessoas brigam. Nos momentos de fúria, você fala exatamente como aprendeu, na sua origem.
Então tá, olha só: sotaque nunca se perde, valeu ? A gente muda um pouco, mas não perde não. E como me disse um guri, o mesmo que me chama de gaúcha, até escrevendo eu não perco meu sotaque. Já vi que as piadinhas regionalistas nunca vão acabar. Fala sério.

Janaina Pereira
Redatora






Uma noite fui ao DJ Club e me acabei na balada. Uma das melhores baladas da minha vida paulistana. Mas a pequena quantidade de brancos no local, e a visão dos mesmos sobre o mundo da black music, me chamou a atenção. Como eu nunca me achei branca – embora minha certidão de nascimento insita nisso – resolvi escrever sobre o assunto. A repercussão foi fantástica. Originalmente para os sites Trampolim e CCRJ.




Eu sou neguinha.
Li outro dia que fizeram uma pesquisa em Londres para saber quantos negros trabalhavam em propaganda. Como era de se esperar, são poucos. Então a indústria publicitária britânica quer fazer uma campanha de recrutamento de profissionais negros e de outras minorias.
Aqui no Brasil, tivemos recentemente um grande anunciante com outdoors estrelados por um modelo negro. Isso foi motivo de muitos elogios. Mas ouvi uma coisa muito boa: “isso deveria ser absolutamente natural, não deveria ser uma atitude única e sim uma atitude comum.” Mas não é comum. Negro na propaganda – e não é só no Brasil – é um caso raro. Trabalhando nesta área, então …
Quantos negros trabalham com você ? Já trabalhei com alguns que contam situações contrangredoras de racismo. Coisas que não dá nem pra acreditar. Como se as pessoas fossem melhores ou piores simplesmente por causa de seu tom de pele.
Sou carioca, mas já moro em São Paulo faz um bom tempo. No Rio, eu era sempre uma morena bronzeada de cabelos enrolados. Absolutamente brasileira. Aqui, percebi desde o início que minha pele era uns dois tons acima da maioria. Fora o fato da praia estar mais distante, a cidade é mais fria e as pessoas são mais claras.
Uma vez fui à balada (night, para os cariocas) com uns amigos; era numa boate normal, porém a noite era de black music. Eu me senti no Bronx. Uma das minhas amigas não entrou porque ficou com medo. Ela achou que seu estilo era europeu demais, e ficou constrangida com os olhares. A maioria absoluta era de negros, e a turma de brancos que me acompanhava recebeu uns olhares de reprovação. Eu era a única que ninguém olhou torto. Eu era a única morena do meu grupo. No fim, todos se divertiram como em nenhum outro lugar. Sem stress, sem discriminação. Sai de lá orgulhosa, porque eu sou neguinha.
Uma vez, participando de uma pesquisa, fui perguntada se minha pele era branca, mestiça ou negra. Respondi que era mestiça. Fui questionada, porque o pesquisador falou que eu era branca. Eu falei que minha certidão de nascimento também dizia isso, mas que eu não me considerava branca, porque quando me olho no espelho me vejo como uma mistura de várias raças, portanto sou mestiça.
Sou descendente de portugueses, índios e negros. Tenho a mistura tipicamente brasileira. Fico espantada quando percebo que a maioria dos amigos que fiz em São Paulo são brancos. E que no meu meio profissional, sou mais morena que a maioria absoluta.
Ainda é o máximo um negro fazer uma campanha publicitária ou conseguir uma posição social. Isso deveria ser normal, fazer parte da nossa vida pelo simples fato que somos seres humanos. E como diz sabiamente Dona Marcia, a minha mãe – que, como toda mãe, sabe das coisas – “no final da história, a gente morre e vamos todos pro mesmo lugar.”
Se no fim todo mundo vai morrer mesmo, que pelo menos em vida a gente perceba que ser branco, negro ou amarelo não faz a menor diferença. O que torna uma pessoa melhor ou pior é o seu caráter, não a cor da sua pele.

Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, agosto 06, 2003

vou colocar uns artigos inéditos aqui também.
e nem só de propaganda eu vivo - graças a Deus !

quer falar comigo ?


janaredatora@hotmail.com


continuo na estrada.


O artigo quase famoso … tudo começou com meu fracasso no concurso Young Creatives (que leva jovens ao Festival Publicitário de Cannes). Eu, publicitária, sonhadora e viajando na maionese … achei que ia a Cannes … era só um desabafo. Era só sinceridade. Virou spam, artigo em importante jornal publicitário, comentário dos amigos, caixa postal lotada e um puta orgulho pra mim. Nunca o que escrevi foi tão lido nem tão comentado. Meus 15 minutos de fama. Minha redenção. Originalmente para Trampolim e Vox News, com versão exclusiva para o jornal Propaganda e Marketing.




Forever Young

Este texto estava na minha cabeça desde que eu comecei a montar minha pasta para o Young Creatives. Eu sabia que a experiência seria marcante. E sabia também que iria escrever sobre isso. Em primeiro lugar, pra quem veio do Rio de Janeiro - onde o processo para escolha do Young não é tão alucinante assim - tudo era novidade. Eu nunca participara antes e não participarei depois. Sim, foi minha primeira e única experiência no Young Creatives porque ano que vem já serei old. Eu sabia que todas as minhas fichas estavam ali naquela pasta. Não teria outra chance. Nunca mais.
Apesar disso, em momento algum eu achei que conseguiria. Ser Young era um sonho distante. A grande questão é que eu queria entrar no short list. E todo mundo falava que não, que eu tinha que almejar mais. Eu repetia que não podia dar um passo maior que a perna, que tinha que pensar dentro das minhas possibilidades. E tudo que eu queria era entrar no short list.
Então a loucura começou. Monta pasta, muda layout, pensa em títulos novos para velhas peças, muda tudo, vira de cabeça pra baixo, faz, desfaz, refaz. Fala com um, com outro, com todo mundo. Pede ajuda aos amigos, pede conselho, pede pelo amor de Deus pra alguém decidir se aquela peça é boa mesmo ou não. Perturba aqui e ali, perturba a mesma pessoa mil vezes por dia, faz redação em inglês, vai buscar cartinhas. Ah, as cartinhas... isso é uma história à parte. "Para quem vou pedir ? O que vão falar de mim ?" Pedi para Deus e o mundo. E todo mundo escreveu. E não é que a galera é boa de carta também ? Uma surpresa gratificante. A melhor parte da história. Cada carta vai ser lembrada para sempre com o maior carinho.
Depois de um mês de stress - pouco tempo, levando-se em consideração que teve gente que começou a montar o portfólio seis meses antes - eu olhei para pasta e achei que não era nada daquilo. Será que eu me enganei, que todo mundo se enganou, que o prazo não vai ser prorrogado mais um pouquinho para começar tudo de novo ? É véspera de entrega e eu não vou dormir. Virei à noite acertando tudo. Fui para casa com a pasta. Cochilei olhando para ela. O motoboy vai buscar. "Tome cuidado, isso é muito importante." Era minha vida que estava ali. Era o resultado de pouco mais de dois anos de SP. Era a esperança de ver, finalmente, a resposta para minha maior dúvida: valeu a pena largar tudo e me mudar para essa cidade com a cara, a coragem, a mala e o portfólio ? Bem, o (novo) portfólio estava indo se juntar a todos os outros para passar pela primeira bateria de testes. A cara e a coragem
continuam no mesmo lugar. E a mala também.
Feriado. Pausa. Mergulho em Ipanema.
Volto a Sampa. A agonia continua. Exposição das pastas, ex-youngs votando. "Será que vai dar ?" Ah, porque eu fui lá ver... sai me sentindo o nada. "O que estou fazendo aqui ?"
Vai sair o short list. Cadê ? Todo mundo se falando, ligando, perguntando. A angústia da espera quase me mata. Saiu."Cadê ? Como assim ? Cadê o meu nome ?" Não estava lá. Noites de insônia, dias de stress, cansaço sem fim. Nada valeu a pena. Eu não consegui. E agora ? Eu não tenho o ano que vem. Eu não tenho mais o Young. Eu nunca mais terei outra chance.
Será que fui a única na história que se escreveu uma única vez ? Onde foi parar toda energia que gastei ali e não vai me levar a lugar nenhum ? Ah, sim, claro, vamos fazer um flashback. Eu tenho amigos ex-youngs. Eu admiro os ex-youngs. Eu tenho vários redatores favoritos que são ex-youngs. Mas eu também tenho amigos que nunca foram youngs. Eu também admiro gente que nunca foi Young. Nossa, eu tenho muitos redatores favoritos que nunca foram Young ! E eles são bons, hein ? São muito bons. Por que será que nunca
foram Young ? Será que não tiveram tempo como eu ? Será que a carreira aconteceu um pouco mais tarde, ou Cannes chegou antes e não deu mais pra se inscrever, ou desencanaram disso ? Sei lá. Mas eles são bons. E não foram Young.
Portanto ser Young deve ser muito legal. Deve ser ótimo. E participar do concurso foi uma experiência intensa. Mas não ser Young pode levar você a outro grupo seleto: o de criativos que também são muito bons, mas nunca foram Young. O tempo chegou para mim. Não vou falsificar a identidade para disputar outra vez - uma brincadeira sugerida porque algumas pessoas não acreditavam que era minha única chance. Continuarei torcendo pelos amigos que ainda tem alguns anos pela frente para ser um Young Creative. E por algumas pessoas
muito boas que estão quase chegando lá. Vale a pena continuar lutando. Ah, e sabe toda aquela energia que eu depositei nisso - e que eu disse lá em cima que não me levou a lugar nenhum ? Já sei o que fazer com ela. Vou jogá-la em outro objetivo da minha carreira. Vou continuar trabalhando mais e mais para entrar para aquele grupo seleto de grandes redatores que nunca foram Young. É isso, vou colocar toda minha energia nesse novo objetivo. E quem sabe não vai ser isso que vai me levar a Cannes ?

P.S.:Este texto é especialmente dedicado as 79 pessoas que como eu não entraram no short list. Torço para que vocês tenham pelo menos mais uma chance de disputar o Young. Este texto também é dedicado a todos aqueles que me ajudaram na longa e angustiante jornada: Zé, Leandro, Renato, Eugênio, Tati, Raquel, Dani, Ale, David, Fabio, Djou, Fabinho, Erlon, Ju, Rodrigo, Victor, Rafa, César, Marcinho, Laura, Guilherme, Daniel e Renato Jardim. Vocês já não agüentam mais meus milhões de agradecimentos. Só que nunca é demais agradecer pela atenção e generosidade das pessoas. Muito obrigada por tudo.

Janaina Pereira
Redatora














Meu primeiro artigo que saiu num site paulistano é esse aqui. Tenho o maior carinho por ele. Amo a música que o inspirou e fiquei feliz pra caramba com os e-mails que recebi, de gente que nunca me vira. Originalmente no site Trampolim.




Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui

O título desse artigo é o título de uma música do Cidade Negra. E tem muito a ver com a história de uma carioca – eu – em São Paulo.
Estou em Sampa desde 2001. No final daquele ano, com a chegada da Corrida de São Silvestre, pensei: “ meu Deus, vou saber exatamente os pontos que os atletas passam: a descida (ou subida ?) da Consolação, a Paulista, e toda aquela trajetória que antes parecia estranha…” Não que eu conheça São Paulo de cabo a rabo, mas os caminhos das agências eu sei todos.
Carioca quando chega em Sampa se sente meio perdido. A imensidão da cidade, aquele trânsito, as pessoas sempre com pressa nas ruas...
um belo dia você sai pra trabalhar e percebe o quanto sua vida mudou. Hoje convivo com pessoas que vieram de todos os cantos do país, gente com sotaques variados e um jeito de ser – e de viver – bem diferente. Pessoas que vieram para essa cidade tão esquisita atrás de sonhos, de uma nova vida, de um novo rumo. Pessoas como eu.
Quando eu estava no Rio, e alguém falava mal de São Paulo pra mim e eu me irritava, as pessoas achavam que eu estava renegando a Cidade Maravilhosa. Grande engano ! Eu amo o Rio, e nunca gostaria de ter feito essa escolha. Mas a vida é assim, é feita de escolhas, e às vezes precisamos mudar de ares para crescermos e evoluirmos, em todos os sentidos.
São Paulo é uma descoberta maravilhosa para mim. Aqui eu vivo num mundo de possibilidades que o Rio não me ofereceu, nunca, em 26 anos que vivi lá. E isso não tem a ver com o mercado publicitário – tem a ver com uma escolha de vida. Se algum dia eu voltar pro Rio serei uma pessoa com um olhar diferente da vida.
Mudar é sempre difícil. Mas a experiência que você adquiri com a mudança – seja ela qual for, de cidade, de país, de casa ou de namorado – é única. Uma vez me disseram que o mais importante não é o caminho, é o caminhar. Então o negócio é olhar pra frente, seguir adiante, e ver até onde você pode chegar. Eu cheguei aqui.
Quando vim pra SP me disseram que era loucura. Foi quando usei uma frase da música do Lulu Santos: “se é loucura então melhor não ter razão.” Na hora que a gente decide mudar alguma coisa na nossa vida, é assim que funciona. Porque eu não quero ter razão. Eu só quero ser feliz. E acho que esse deveria ser o objetivo de todo mundo. Procurar se sentir bem onde está. E enquanto eu me sentir bem em Sampa, é porque aqui é o meu lugar. E sabe de uma coisa ? É maneiríssimo saber que hoje eu conheço o percurso da São Silvestre. E é legal pra caramba ser uma carioca em Sampa.

JANAINA PEREIRA
Redatora



Vinte e muitos anos na estrada


Eu sempre soube que ia envelhecer. Você vai dizer que todo mundo sabe, porém alguns se negam a acreditar que a velhice vai chegar. Acho que sempre busquei isso: ser mais velha. Nunca fui daquelas que escondia idade, que maquiava as rugas e que queria ser crianca para sempre. Desde os “vinte e poucos anos” eu já me sentia velha. Sempre fui a mais adulta entre minhas amigas, aquela que sofreu mais, que teve que abrir mão de muita coisa para tentar ser feliz. Eu achava que chegaria aos 25 anos bem sucedida, com dinheiro, carro e conheceria Veneza. Achava até que me casaria e antes dos 30 o Rafael, o Lucas ou a Ana Beatriz já teriam nascido. Doce seria a vida se a gente não amargasse decepções. Um dia percebi que os 30 anos batiam à minha porta. Batiam bem forte para entrar e eu fingia que não ouvia. Mas eles vão arrombar a porta e me pegar de jeito. Eles vão aparecer como se não quisessem nada … e vão tomar meu corpo por inteiro.

É questão de tempo. E o tempo está passando. Daqui a alguns dias eu chego aos 29 anos. Uma estradinha de terra percorrida. Levantei poeira, cai, me machuquei mas sempre levantei. No meio do caminho encontrei quem me ajudasse a levantar, quem me apoiasse para não cair e até quem me carregou no colo quando eu já não podia mais andar. Mas encontrei também pedras que custei a remover e pessoas que me deram rasteira; gente que me derrubou sem dó. Gente que ficou para trás, pois a poeira que levantei era tão alta que nunca mais consegui vê-los. Às vezes eu corri em velocidade absurda e perdi o fôlego. Em outras eu andei tão devagar que parecia que não ia chegar a lugar nenhum. Em muitos momentos eu caminhei certa que venceria e não conseguia nada. Em outros eu era a própria derrota caminhando sob o sol. Mas, sabe-se lá como, eu acabava chegando em algum lugar. As curvas apareciam e desapareciam, chovia quando menos eu esperava, as noites eram assustadoras, mas também podiam ser arrebatadoras. Os dias de sol intenso me iluminavam ou me irritavam, os dias nublados me deixavam triste ou me acalmavam. Eu podia ser um turbilhão, um vendaval, uma maresia, um deserto, uma folha seca na estrada. Mas eu percorri esta estrada dignamente, de cabeça erguida, sem pisar em ninguém. Passei 28 anos em busca do lugar ao sol, e esse lugar nunca veio. Deixei para trás amores, dores, amigos, histórias. Vivi como tinha que viver porque tudo foi como tinha que ser.

Eu não temo os 29 anos que estão me esperando ali na esquina. Eles encerrarão minha década, encerrarão minha juventude, encerrarão um capítulo da minha vida. Porque na hora que os benditos 30 anos chegarem, a estrada terá menos poeira e mais luz. Eu tenho 28 anos. Quase 29. Não sou bem-sucedida, não tenho todo dinheiro que queria, nunca tive carro, nunca fui a Veneza. Eu não me casei e o Rafael, o Lucas e a Ana Beatriz não nasceram. Mas eu estou aqui e quando me olho no espelho, nem acredito que os 29 anos estão chegando na minha cara. E eu continuo ai, na estrada. Vendo que além das pedras, a estrada também tem flores. É verdade que as flores têm espinhos. Mas a essa altura do campeonato eu acho que os espinhos é que são privilegiados. Porque são eles que têm a benção de possuirem flores.


Janaina Pereira
Redatora



Seja bem-vindo.
Meu nome é Janaina.
Sou carioca, redatora (ainda publicitária) e dizem por ai que escrevo bem.
Falaram tanto para eu escrever um blog que resolvi tentar.
Aqui vcs vão encontrar meus textos, artigos e tudo mais que eu escrevo por aí.
Segundo uma amiga, é uma maneira de publicar minha pequena história de vida, repleta de personagens e acontecimentos curiosos.
Uma vida que não é pacata porque eu a enxergo colorida.
Escrever para mim é tão importante quanto respirar. Eu só existo para escrever, foi por isso que nasci. Adoro pincelar com palavras ferinas o dia-a-dia e fazer do meu universo algo muito especial.
Que cada palavra lida aqui sirva de inspiração e diversão para você.
Carpe Diem !

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