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quinta-feira, agosto 07, 2003

Uma das coisas mais angustiantes da propaganda é a história de mostrar portfólio. Escrevi minha opinião sobre o assunto. Foi o texto com mais retorno, o primeiro depois do quase famoso “Forever Young”. Foi com ele que este papo de artigo virou coisa séria. Originalmente no site do CCSP.




As pessoas que existem atrás dos portfólios.

"Portfólio é um assunto delicado. Quem mostra, vive aqueles minutos de angústia, aquele tormento de quem tem seu trabalho avaliado. Quem vê, pode estar diante de trabalhos bacanas, alguns até que gostaria de ter feito. Ou pode ver trabalhos não tão bons, que faria diferente. E é nessa hora que vem o momento delicado: como criticar de forma construtiva um trabalho ?
Certa vez, um redator me falou que não gostava de ver pastas. Mas que, como em sua vida muita gente já tinha visto a dele, ele se achava na obrigação de fazer isso. Ele tinha um bom argumento para não gostar de ver portfólios: disse que não dava pra avaliar ali, em algumas peças, a vida de uma pessoa. Que cada anúncio tinha uma história que nem sempre dava pra saber qual é.
É, tanto faz você estar do lado de cá ou de lá da mesa, mostrar e ver portfólio é sempre subjetivo.
Quando eu vim para SP, mais do que as indicações que me davam, procurava mostrar pasta para pessoas que eu admirava. Eu tinha a oportunidade de mostrar meu portfólio para as pessoas que estavam no Anuário. Isso me enriquecia, e cada crítica vinha de maneira positiva – embora muitas vezes fosse duro eu, uma redatora, ouvir que os layouts não funcionavam. Dava vontade de matar o diretor de arte que insistiu em colocar aquela foto. E agora quem ouvia a crítica era eu, que também tinha culpa por não ter insistido mais para ele não colocar a droga da foto.
Eu sempre fui daquelas insistentes. De deixar qualquer secretária louca. Sempre corri atrás, e se a pessoa era receptiva, eu podia entrar em contato com ela mais vezes. Sempre com o cuidado de não ser chata nem ultrapassar os limites. Com o tempo, passei a observar que mostrar a pasta sempre para a mesma pessoa podia trazer vantagens e desvantagens. Alguns ganham liberdade e passam a falar mais abertamente sobre o portfólio. Não têm mais aquele lado politicamente correto, a saia justa de não gostar de um trabalho e não saber o que dizer. A pessoa já me viu algumas vezes, já me conhece e assim vai falando o que acha, sem ficar constrangida.
Outros, porém, se intimidam. Justamente porque já me viram algumas vezes, criam um vínculo e ficam sem saber o que falar quando aquele título é bom, mas o layout … e voltamos ao começo. Lá estamos nós, lados opostos na mesa. Quem pode criticar o trabalho sem magoar um amigo ?
Conversando sobre isso com várias pessoas, vejo que minha observação tem fundamento. É complicado criticar o trabalho de um estranho, mas é mais complicado criticar o trabalho de um amigo. Isso me faz lembrar de uma pessoa que sempre viu minha pasta com a mesma imparcialidade. O que seria de mim se não fosse o Victor Sant’anna ? Conheço o Victor desde o Rio. São quase oito anos de entrevistas em todas as agências pelas quais ele passou. O Victor é, sem dúvida, a pessoa que mais viu minha pasta até hoje. E mesmo me conhecendo, e sabendo de toda minha história, ele nunca deixou de dizer o que gosta ou não no meu portfólio.
Eu sempre estive mais do lado de cá – mostrando – do que do lado de lá – vendo pastas. Não me sinto à vontade em nenhuma das duas posições. Quando mostro a pasta, quero a verdade. O layout está ruim? O título não funciona? O conceito não é esse? Por favor, pode falar. Fala mesmo, eu quero saber. E quando a pasta de alguém está na minha frente, eu tento ser o mais sincera possível. Nunca esquecendo que além da pasta, também existe uma pessoa bem ali na minha frente. E ela quer ouvir a verdade. Essa verdade não precisa doer, e não vai doer se for dita com educação e respeito.
Como já me disseram, se contratam pessoas, e não pastas. As pastas representam um pouco do seu potencial. O seu comportamento representa você mesmo. Além do mais, no universo publicitário tudo é subjetivo. Hoje você está vendo pastas. Amanhã está mostrando a sua.

P.S.: Victor, desculpe usar seu nome sem autorização. Mas agora o mercado inteiro já sabe o que pouca gente sabia: toda admiração e respeito que sinto por você".

Janaina Pereira
Redatora




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