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quarta-feira, agosto 06, 2003

O artigo quase famoso … tudo começou com meu fracasso no concurso Young Creatives (que leva jovens ao Festival Publicitário de Cannes). Eu, publicitária, sonhadora e viajando na maionese … achei que ia a Cannes … era só um desabafo. Era só sinceridade. Virou spam, artigo em importante jornal publicitário, comentário dos amigos, caixa postal lotada e um puta orgulho pra mim. Nunca o que escrevi foi tão lido nem tão comentado. Meus 15 minutos de fama. Minha redenção. Originalmente para Trampolim e Vox News, com versão exclusiva para o jornal Propaganda e Marketing.




Forever Young

Este texto estava na minha cabeça desde que eu comecei a montar minha pasta para o Young Creatives. Eu sabia que a experiência seria marcante. E sabia também que iria escrever sobre isso. Em primeiro lugar, pra quem veio do Rio de Janeiro - onde o processo para escolha do Young não é tão alucinante assim - tudo era novidade. Eu nunca participara antes e não participarei depois. Sim, foi minha primeira e única experiência no Young Creatives porque ano que vem já serei old. Eu sabia que todas as minhas fichas estavam ali naquela pasta. Não teria outra chance. Nunca mais.
Apesar disso, em momento algum eu achei que conseguiria. Ser Young era um sonho distante. A grande questão é que eu queria entrar no short list. E todo mundo falava que não, que eu tinha que almejar mais. Eu repetia que não podia dar um passo maior que a perna, que tinha que pensar dentro das minhas possibilidades. E tudo que eu queria era entrar no short list.
Então a loucura começou. Monta pasta, muda layout, pensa em títulos novos para velhas peças, muda tudo, vira de cabeça pra baixo, faz, desfaz, refaz. Fala com um, com outro, com todo mundo. Pede ajuda aos amigos, pede conselho, pede pelo amor de Deus pra alguém decidir se aquela peça é boa mesmo ou não. Perturba aqui e ali, perturba a mesma pessoa mil vezes por dia, faz redação em inglês, vai buscar cartinhas. Ah, as cartinhas... isso é uma história à parte. "Para quem vou pedir ? O que vão falar de mim ?" Pedi para Deus e o mundo. E todo mundo escreveu. E não é que a galera é boa de carta também ? Uma surpresa gratificante. A melhor parte da história. Cada carta vai ser lembrada para sempre com o maior carinho.
Depois de um mês de stress - pouco tempo, levando-se em consideração que teve gente que começou a montar o portfólio seis meses antes - eu olhei para pasta e achei que não era nada daquilo. Será que eu me enganei, que todo mundo se enganou, que o prazo não vai ser prorrogado mais um pouquinho para começar tudo de novo ? É véspera de entrega e eu não vou dormir. Virei à noite acertando tudo. Fui para casa com a pasta. Cochilei olhando para ela. O motoboy vai buscar. "Tome cuidado, isso é muito importante." Era minha vida que estava ali. Era o resultado de pouco mais de dois anos de SP. Era a esperança de ver, finalmente, a resposta para minha maior dúvida: valeu a pena largar tudo e me mudar para essa cidade com a cara, a coragem, a mala e o portfólio ? Bem, o (novo) portfólio estava indo se juntar a todos os outros para passar pela primeira bateria de testes. A cara e a coragem
continuam no mesmo lugar. E a mala também.
Feriado. Pausa. Mergulho em Ipanema.
Volto a Sampa. A agonia continua. Exposição das pastas, ex-youngs votando. "Será que vai dar ?" Ah, porque eu fui lá ver... sai me sentindo o nada. "O que estou fazendo aqui ?"
Vai sair o short list. Cadê ? Todo mundo se falando, ligando, perguntando. A angústia da espera quase me mata. Saiu."Cadê ? Como assim ? Cadê o meu nome ?" Não estava lá. Noites de insônia, dias de stress, cansaço sem fim. Nada valeu a pena. Eu não consegui. E agora ? Eu não tenho o ano que vem. Eu não tenho mais o Young. Eu nunca mais terei outra chance.
Será que fui a única na história que se escreveu uma única vez ? Onde foi parar toda energia que gastei ali e não vai me levar a lugar nenhum ? Ah, sim, claro, vamos fazer um flashback. Eu tenho amigos ex-youngs. Eu admiro os ex-youngs. Eu tenho vários redatores favoritos que são ex-youngs. Mas eu também tenho amigos que nunca foram youngs. Eu também admiro gente que nunca foi Young. Nossa, eu tenho muitos redatores favoritos que nunca foram Young ! E eles são bons, hein ? São muito bons. Por que será que nunca
foram Young ? Será que não tiveram tempo como eu ? Será que a carreira aconteceu um pouco mais tarde, ou Cannes chegou antes e não deu mais pra se inscrever, ou desencanaram disso ? Sei lá. Mas eles são bons. E não foram Young.
Portanto ser Young deve ser muito legal. Deve ser ótimo. E participar do concurso foi uma experiência intensa. Mas não ser Young pode levar você a outro grupo seleto: o de criativos que também são muito bons, mas nunca foram Young. O tempo chegou para mim. Não vou falsificar a identidade para disputar outra vez - uma brincadeira sugerida porque algumas pessoas não acreditavam que era minha única chance. Continuarei torcendo pelos amigos que ainda tem alguns anos pela frente para ser um Young Creative. E por algumas pessoas
muito boas que estão quase chegando lá. Vale a pena continuar lutando. Ah, e sabe toda aquela energia que eu depositei nisso - e que eu disse lá em cima que não me levou a lugar nenhum ? Já sei o que fazer com ela. Vou jogá-la em outro objetivo da minha carreira. Vou continuar trabalhando mais e mais para entrar para aquele grupo seleto de grandes redatores que nunca foram Young. É isso, vou colocar toda minha energia nesse novo objetivo. E quem sabe não vai ser isso que vai me levar a Cannes ?

P.S.:Este texto é especialmente dedicado as 79 pessoas que como eu não entraram no short list. Torço para que vocês tenham pelo menos mais uma chance de disputar o Young. Este texto também é dedicado a todos aqueles que me ajudaram na longa e angustiante jornada: Zé, Leandro, Renato, Eugênio, Tati, Raquel, Dani, Ale, David, Fabio, Djou, Fabinho, Erlon, Ju, Rodrigo, Victor, Rafa, César, Marcinho, Laura, Guilherme, Daniel e Renato Jardim. Vocês já não agüentam mais meus milhões de agradecimentos. Só que nunca é demais agradecer pela atenção e generosidade das pessoas. Muito obrigada por tudo.

Janaina Pereira
Redatora














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