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quinta-feira, agosto 07, 2003

Uma noite fui ao DJ Club e me acabei na balada. Uma das melhores baladas da minha vida paulistana. Mas a pequena quantidade de brancos no local, e a visão dos mesmos sobre o mundo da black music, me chamou a atenção. Como eu nunca me achei branca – embora minha certidão de nascimento insita nisso – resolvi escrever sobre o assunto. A repercussão foi fantástica. Originalmente para os sites Trampolim e CCRJ.




Eu sou neguinha.
Li outro dia que fizeram uma pesquisa em Londres para saber quantos negros trabalhavam em propaganda. Como era de se esperar, são poucos. Então a indústria publicitária britânica quer fazer uma campanha de recrutamento de profissionais negros e de outras minorias.
Aqui no Brasil, tivemos recentemente um grande anunciante com outdoors estrelados por um modelo negro. Isso foi motivo de muitos elogios. Mas ouvi uma coisa muito boa: “isso deveria ser absolutamente natural, não deveria ser uma atitude única e sim uma atitude comum.” Mas não é comum. Negro na propaganda – e não é só no Brasil – é um caso raro. Trabalhando nesta área, então …
Quantos negros trabalham com você ? Já trabalhei com alguns que contam situações contrangredoras de racismo. Coisas que não dá nem pra acreditar. Como se as pessoas fossem melhores ou piores simplesmente por causa de seu tom de pele.
Sou carioca, mas já moro em São Paulo faz um bom tempo. No Rio, eu era sempre uma morena bronzeada de cabelos enrolados. Absolutamente brasileira. Aqui, percebi desde o início que minha pele era uns dois tons acima da maioria. Fora o fato da praia estar mais distante, a cidade é mais fria e as pessoas são mais claras.
Uma vez fui à balada (night, para os cariocas) com uns amigos; era numa boate normal, porém a noite era de black music. Eu me senti no Bronx. Uma das minhas amigas não entrou porque ficou com medo. Ela achou que seu estilo era europeu demais, e ficou constrangida com os olhares. A maioria absoluta era de negros, e a turma de brancos que me acompanhava recebeu uns olhares de reprovação. Eu era a única que ninguém olhou torto. Eu era a única morena do meu grupo. No fim, todos se divertiram como em nenhum outro lugar. Sem stress, sem discriminação. Sai de lá orgulhosa, porque eu sou neguinha.
Uma vez, participando de uma pesquisa, fui perguntada se minha pele era branca, mestiça ou negra. Respondi que era mestiça. Fui questionada, porque o pesquisador falou que eu era branca. Eu falei que minha certidão de nascimento também dizia isso, mas que eu não me considerava branca, porque quando me olho no espelho me vejo como uma mistura de várias raças, portanto sou mestiça.
Sou descendente de portugueses, índios e negros. Tenho a mistura tipicamente brasileira. Fico espantada quando percebo que a maioria dos amigos que fiz em São Paulo são brancos. E que no meu meio profissional, sou mais morena que a maioria absoluta.
Ainda é o máximo um negro fazer uma campanha publicitária ou conseguir uma posição social. Isso deveria ser normal, fazer parte da nossa vida pelo simples fato que somos seres humanos. E como diz sabiamente Dona Marcia, a minha mãe – que, como toda mãe, sabe das coisas – “no final da história, a gente morre e vamos todos pro mesmo lugar.”
Se no fim todo mundo vai morrer mesmo, que pelo menos em vida a gente perceba que ser branco, negro ou amarelo não faz a menor diferença. O que torna uma pessoa melhor ou pior é o seu caráter, não a cor da sua pele.

Janaina Pereira
Redatora

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