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terça-feira, outubro 28, 2003

Complexo de Dorothy


Minha paixão por sapatos vermelhos nunca foi muito bem explicada. Eu sempre tive uma fascinação imensa pela cor, tanto em roupas, bolsas e acessórios como em sapatos. Sapatos vermelhos são charmosos, sexies e sedutores. Tenho várias versões, desde tênis a sapatilhas passando por sandálias e um poderoso tamanco salto agulha. Um luxo.

Um dia me toquei que minha paixão por sapatos vermelhos vinha da admiração pela Dorothy, do Mágico de Oz. Lembro direitinho que eu tinha uns seis anos de idade quando vi o filme pela primeira vez. Adorei. Eu curtia os cachinhos da Judy Garland mas especialmente os sapatos vermelhos brilhantes da Dorothy, que a levaram para Oz.

A melhor cena do filme era a Dorothy batendo seus pés e dizendo: “Não há melhor lugar no mundo do que a nossa casa.” Ela precisou sofrer muito para descobrir isso. E precisou ser enganada pelo mágico de Oz para se dar conta que nunca deveria ter saído de casa. Só que se ela não fosse se aventurar em Oz, jamais teria aprendido que a casa dela era o melhor lugar do mundo.

Eu vivo no mundo de Oz. Oz é aqui mesmo, em São Paulo. Eu já descobri que o idiota do mágico me enganou. Eu tenho várias versões dos sapatinhos vermelhos da Dorothy. E como ela, eu já sei também que o melhor lugar do mundo é a minha casa. O furacão ainda não passou para me levar de volta. Talvez porque eu ainda não tenha encontrado os sapatos vermelhos certos.



Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora

segunda-feira, outubro 27, 2003

Meu amor, cadê você ?

Eu bem que tentei ficar longe. Foi difícil e doloroso e eu não sabia como resistir tanto tempo sem visitar minha cidade mais querida. Com a falta de feriados, fiquei quatro longos meses sem ir ao Rio. Seria mais tempo, mas o sol bateu na janela do meu quarto e eu tinha que ir atrás dele. Cariocas não gostam de dias nublados e o sol me chamava ensandecidamente.

Foram apenas 48 horas no Rio, o suficiente para mergulhar no mar de Ipanema, ver o pôr-do-sol no Arpoador, comer crepe, tomar chopp e ver o céu mais azul e lindo que o planeta pode oferecer. É incrível como o Rio tem outro astral, outra sintonia, outra energia. Tudo é mais colorido, é mais radiante e festivo. Cariocas são bonitos, bacanas, sacanas, dourados, alegres, espertos e odeiam sinais fechados.

Não deu para falar com todo mundo, nem para ver todo mundo nem mesmo dar atenção a todos. Foram apenas 48 horas no Rio. Mas elas foram suficientes para que Iemanjá levasse para as profudenzas do mar qualquer stress que ainda existia dentro de mim. O Rio é uma dádiva na minha vida e eu tenho o maior orgulho de ter nascido numa cidade abençoada como aquela.

Hoje eu acordei e ele não estava mais lá. O céu, o mar, o cheiro da cidade e toda sua beleza foram deixadas para trás. Mas o Rio de Janeiro continua lindo, as garotas cariocas ainda têm muito suingue e sangue bom e os meninos do Rio continuam provocando arrepios com seus dragões tatuados nos braços. E quer saber o que mais ? Graças a Deus que eu sou carioca.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
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sexta-feira, outubro 24, 2003

Será que eu vou ter que dar um telefonema ?


Poucas vezes eu escrevi um texto especialmente para alguém. Já me inspirei em muita gente, em muitas histórias, cito nomes, mas raramente direciono minhas palavras a uma pessoa específica. Porém, um fato importante aconteceu e quero relatar aqui.

Este texto vai para alguém muito especial. Um bom amigo, fiel e carinhoso, preocupado e querido, que gosta de cuidar de mim. Alguém que me conhece tão pouco e tão bem, com quem trabalhei por um tempo curto, duas vezes, mas que na hora que precisei foi a mão que estava lá para me socorrer.

Pela gratidão que tenho por ele, por estar onde estou porcausa dele, por ter um sentimento profundo por esta pessoa tão especial. Pela nossa amizade, pela nossa dupla, pelos nossos trabalhos do presente, do passado e do futuro.

Silvio, vou sentir saudades. Desejo muita sorte, sucesso e saúde, tudo que você merece porque se há alguém que merece tudo de bom é você mesmo. Que seja público agora todo carinho, admiração e respeito que tenho por você. Obrigada por tudo, do fundo do coração. E vamos deixar muito claro uma coisa: eu adoro você.

Agora na boa: vou ter que dar vários telefonemas para a gente marcar as baladas, não é não ?


Janaina Pereira
Redatora
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quinta-feira, outubro 23, 2003

Ralação


Uma das coisas mais legais de trabalhar em agência de propaganda é o bom humor do pessoal. Por mais trabalho que a gente tenha, alguém sempre surge com algo bem-humorado, alegre e divertido. É impressionante como a galera adora uma piadinha, uma frase feita, um trocadilho. E o mais engraçado é que algumas coisas ficam tão características das pessoas que a gente não esquece nunca mais.

Lembro claramente de como o Fabinho me irritava quando me chamava de “mina” (ele fazia de propósito porque sabia que eu não gostava) e como eu me divertia com as piadas do Erlon sobre o meu sotaque, especialmente quando ele dizia que eu era um rádio fora da estação. Não dá para esquecer o “troféu Joselito sem Noção” que o pessoal da Grey criou na epóca que eu trabalhava lá. Sem contar que todo mundo tinha seu dia de “braço curto”, uma piada fabulosa para quem fazia corpo mole no trabalho. O que não faltam são Horácios nessa vida … isso era marca da criação da agência, hilário.

Como esquecer a coceira do Tony Boy (até hoje não entendo muito bem o que ele queria dizer com isso, mas defino como algo que você não consegue controlar.) ? E o Silvio vai ter que dar um telefonema para resolver qualquer problema que surge na For ? É tão significativo e marcante que a gente já antecipa tudo quando o Silvio começa a manifestar sua intenção de pegar o telefone …

Mas não dá para falar nada perto desse pessoal. Eles levam tudo na brincadeira e são cheios de más intenções. Um inocente comentário sobre um ralador e a vida de uma pessoa vira do avesso. É uma ralação só. Rala daqui, dali, vamos ralando e a piada aumentando, ganhando proporções gigantescas ! Até alguém surgir com uma piada mais interessante … Que imaginação fértil tem esse povinho da propaganda, hein ? Fala sério.

E no meio de tanta ralação uma frase continua perfeita: a gente ganha pouco mas se diverte. Claro que tem gente que ganha muito mas nem se diverte tanto assim. Imagino o Silvio dando um telefonema agora e contando a piada do ralador para alguém. Surreal. Divertido. Imprevisto. Criativo. Bem-vindo ao louco e animado mundo da propaganda. Porque só quem é doido sobrevive nisso.


Janaina Pereira
Redatora
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quarta-feira, outubro 22, 2003

Like a rolling stone


Nem adianta o médico dizer para eu não me estressar. Muitas vezes o stress bate na sua porta, entra correndo e se instala no meio da sua sala. Eu juro que tento respirar fundo, não dar bola, ficar quieta, contar até dez … mas tem horas que não dá. Existem momentos na vida em que você precisa explodir, gritar, xingar, bater, fazer qualquer coisa para não deixar que o stress te invada. Porque quando ele entra, pode ser mesmo dentro do seu corpo. E aí as pedras voltam a ficar no meio do caminho …

Eu já tive a terrível experiência de ter pedras rolando dentro do meu corpo. Nem sei se elas se foram, não sei como foram, eu já nem quero saber de nada. Só sei que estou descendo a ladeira, estou saindo fora, estou em outra sintonia. Precisamos mudar a estação e ouvir uma nova música no rádio. A melhor coisa na vida é mudar de idéia, de lugar, de vida. A mudança é fundamental para o crescimento do ser humano.

A vida é assim, cheia de dores, de sofrimento, de stress. Mas muita coisa é procurada e muita gente adora arrumar historinha para cair no bate-boca, na confusão. A vida é tão simples, por que a galera quer complicar ? Tô fora. Para mim a vida é poesia, é música, é humor, é uma viagem muito maneira. Tem seus solavancos, é verdade, mas faz parte. Já que sou publicitária – embora muita gente ache que sou jornalista, minha alma foi vendida mesmo para propaganda e custou bem baratinho – tenho que dizer que a vida é como o slogan do celular Oi: simples assim.

Meu escritório é na praia e eu estou sempre na área. Então deixa estar como está. Deixa a vida me levar porque não sou eu quem me navega. Quem me navega mesmo, hoje, ontem e sempre, é o mar. E se meu coração é um músculo involuntário e ele pulsa por você, deixa ele ficar com taquicardia por amor, não por stress ou preocupação. I’m like a rolling stone. And it’s my way.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
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segunda-feira, outubro 20, 2003

A pedra no meio do caminho


Apesar da minha aparência frágil, do corpo magro e da alimentação nada nutritiva, eu sempre fui uma pessoa saudável. Nunca tive maiores problemas de saúde, jamais fiz uma cirurgia, não sei nem o que é ter dor de dente e fazer tratamento de canal. Meu siso não nasceu e só engessei o braço quando criança porcausa de uma luxação. As maiores doenças da minha vida foram uma caxumba aos 5 anos de idade, a catapora aos 17 e duas pneumonias – uma aos 6, outra aos 20 anos. Esta última foi muito traumática e gerou uma série de mudanças no meu comportamento.

Fora a rinite alérgica que me acompanha desde os 24 anos, o resto é um resfriado aqui, uma dor de garganta acolá. Nada sério. Eis que a dor que me corroeu por dias – e já relatada aqui – eram pedras no meio do meu caminho. Sim, no meio do caminho tinham algumas pedras.

Corpos estranhos habitaram meu corpo mas eles não fazem parte de mim. Metidos, esses seres esquisitos fizeram de tudo para aparecer. Pularam, sacolejaram, passearam dentro de mim como se me pertencessem. Tudo isso para chamar a atenção. E conseguiram. Por conta deles, fiquei com dor, chorei, sofri, mal conseguia andar. Desejei a morte, porque morrer faria com que aquela dor infernal desaparecesse. Esses instrusos, essas pedras que apareceram no meio do caminho, bem no meio do meu corpo cansado, precisaram entender que eu não queria nada dentro de mim. A não ser meus órgãos saudáveis e meu sangue que corre quente pelas veias.

Cada pedrinha tinha seu nome e sobrenome, teve um porquê de estar ali, instalada nos meus rins. Elas foram parar no local errado, indevido e se acharam donas da situação. Um segundo de tensão, um minuto de angústia, uma hora de tristeza, um dia de stress, uma semana de ansiedade, um mês de aborrecimentos e pronto ! Várias pedrinhas habitando meu corpo, meus rins, minha vida !

Segui meu caminho, até trabalhei, e sentia a cada segundo aquela dor insuportável. Mesmo assim resisti e puxa vida ! Eu sou mesmo brava, forte e resistente. Por mais que doesse, eu não sucumbi. Mas em alguns momentos eu quase cai, eu perdi as forças, eu chorei pela falta de amor que tive comigo mesma.

No momento tudo se aquietou. Aparentemente eu coloquei uma por uma para fora de mim. Foi quase um parto, uma dor fenomenal, um sentimento de impotência diante do mundo. No meu caminho não têm mais lugar para pedra nenhuma. Se elas sairam, que não voltem nunca mais. Foram todas removidas e atiradas num abismo. Chega de dor, de cansaço, de stress. Chega de pedras no meu caminho.


Janaina Pereira
Redatora
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quarta-feira, outubro 15, 2003

Eu também quero


Sempre que a coisa fica esquisita, o tempo fecha e o cansaço bate eu penso naquela música “Eu quero uma casa no campo”. Eu também quero ! Quero somente uma casa no campo onde possa ter meus amigos e livros e nada mais.

Na verdade eu quero uma casa na praia. De frente pro mar, daquelas que você abre a porta e já pisa na areia. Quero dormir com o barulho das ondas. Quero sentir o cheiro do mar entrando pela janela da cozinha. Quero uma casa na praia para ter meus amigos, meus livros e algo mais … um cachorro. Flores. Discos. Um amor.

Um amor e uma cabana ? Não, aí já é um pouquinho demais … não acredito que o amor sobreviva numa cabana. Amor precisa de pufes, Cds do Marvin Gaye, vinho tinto e varandas. Amor precisa de jantares especiais, chopinho no bar, corrida no calçadão, escalada em montanhas, viagens ao desconhecido, carro enguiçado no meio do caminho. Amor necessita de cama com lençóis macios, travesseiros soltos e roupas pelo chão. Amor tem que ter almoço de frente para TV, vídeo em noite de chuva, e-mails para dizer nada, telefonemas para dizer tudo. Amor só existe com sofás, tapete e lua cheia.

Então a casa no campo, na praia ou o apartamento no 20º andar da Paulista precisa ter mais do que livros e amigos. Precisa ter o amor, mesmo que seja o amor errado, porque o certo está realmente superdifícil de achar. O amor pode vir com 1,70 de altura, mas também pode ser mais alto ou mais baixo. Pode pesar 80 Kg, um pouco mais ou um pouco menos … talvez tenha olhos claros, cabelos escuros, pele bronzeada e sorriso fácil. Às vezes ele pode aparecer com gênio forte, cheio de ciúmes e repleto de perguntas. Ele também pode parecer um tanto quanto frio e distante. Mas o que importa mesmo é que a casa no campo, na praia ou aquele apartamento de fundos na Avenida Atlântica tenha amigos, livros, discos e o amor, que preencha os espaços vazios dos corações solitários.

Eu quero uma casa no campo. Na praia. Um apartamento na Lagoa. Nos Jardins. Não preciso de móveis. Eu só preciso ter meus amigos, meus livros, meus Cds, meu amor… e nada mais.


Janaina Pereira
Redatora
www.fotolog.net/janaredatora

terça-feira, outubro 14, 2003

Raios que me partam


Todo mundo sempre disse que parir é a pior dor do mundo. Não é à toa que somente as mulheres dão à luz. Minha mãe sempre falou que as dores que sentiu pra me colocar neste mundo foram insuportáveis. É por isso que mãe é tão especial, porque só mulheres especiais podem suportar tanta dor para pôr outro ser neste planeta.

Mas eis que eu fui testada com a dor que, segundo os médicos, é a pior que o corpo humano pode suportar. A tal dor nos rins veio pra me derrubar. Veio pra me deixar na cama, de cama, com vontade de morrer. Caralho, que porra é essa ? Que dor é essa que me quebrou, que me impediu de dormir, de comer, de viver ?

O pior de tudo é saber que meu corpo paga pelos problemas, pelo stress, pelo desequilíbrio emocional momentâneo. Eu nunca admiti ter úlcera ou gastrite, isso é coisa de gente ansiosa. E eu sou ansiosa, mas jurei pra mim mesma que não agrediria meu corpo assim. Como agora, tantos anos depois, eu tenho uma dor que toda mulher já teve na vida – mas que eu nunca tive e nunca quis ter e nunca mais quero ter. Eu não quero dor, não gosto de ficar inerte e imóvel, odeio ser dependente de qualquer coisa. Ainda mais de remédios. Se é pra ser dependente de algo, que seja de chocolate, é mais gostoso.

E olha eu aqui, suportando a dor que parece não ter fim, sem saber o que me aguarda. No meio do desespero, lembro que se eu não me preocupasse tanto com coisas sem importância, eu não estaria assim. Fico irritada com minha própria falta de bom senso, com minha agressão ao corpo, com meu stress infundado que agora me deixa sofrendo.

As mulheres nasceram para sentir dor. A gente já veio ao mundo com essa sina, nosso corpo resiste bravamente a isso. Os homens, ao contrário, com um mero resfriado já estão morrendo. Queria ver um deles agora, com a dor que me dá calafrios, sentadinho na frente de um computador, trabalhando. Duvido. Dentre todas as dificuldades femininas, temos também nosso próprio corpo, feito com tanta riqueza de detalhes, tão geometricamente estruturado de modo que permita que nossos órgãos se escondam e ocultem problemas. O meu corpo, que não aguenta nem deitar porque dói, tudo dói, só está pedindo para eu não me estressar.

Depois de tanta dor, parir não vai ser problema. Porque se eu já estou tendo a pior dor do mundo, quando eu tiver filho vou tirar de letra.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
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quinta-feira, outubro 09, 2003

Como os nossos pais


Diz a lenda que quando minha mãe descobriu que estava grávida e contou para o meu pai, ele falou: “Deixa a Janaina nascer”. Minha mãe não gostou, porque sempre quis ter um filho que se chamaria Marcelo. E se fosse menina, seria Andréa. Mas meu pai tinha razão e foi feita a vontade dele. Em 14 de agosto de 1974 eis que nasce a tal da Janaina, com 4 kg e 250 gramas distribuidos por 52 cm. Uma gracinha de menina. Mamãe adora dizer que fui eleita o bebê mais bonito do berçário. Eu era realmente uma fofura, gordinha, bochechuda, já com uma pequena juba cheia de caracóis.

Meu pai sempre quis ter uma filha. Segundo ele me disse (quando eu tinha 12 anos) porque minha mãe precisava de companhia. É verdade. Sou filha única e grande companheira da Dona Marcia, minha querida e amada mommy, hoje lá no Rio de Janeiro enquanto eu estou aqui na Paulicéia. Papai morreu quando eu tinha apenas 14 anos. Mas no pouco tempo que vivemos juntos, eu pude ter a certeza que tive o melhor pai que o universo poderia me oferecer. Apesar dos conflitos normais que sempre existem nessas relações, eu e papai éramos muito próximos. Sim, eu sinto muita falta dele, tanta que meu coração dói quando eu lembro que nos melhores e piores momentos da minha vida ele não está mais aqui. Porém, eu sinto também que de alguma forma ele está presente, ele está por perto, ele está sempre dentro do meu coração.

Mas por que Janaina ? Meu pai adorava samba e no ano que nasci a Mangueira ganhou o Carnaval do Rio com um samba onde se ouvia “Janaina ago, agoia, ela gosta de samba, ela é uma sereia, ela é Iemanjá.” Foi porcausa desse samba que eu me chamo Janaina. Janaina é um dos nomes de Iemanjá, quer dizer “Rainha do Mar”. Está presente em várias músicas, sambas, canções espirituais de ritos de umbanda e candomblé. Digamos que é um nome forte, cheio de luz e energia.

Não consigo me imaginar como uma Andréa, por exemplo, como queria minha mãe. Não é a minha cara. Andréa é um nome tão comum, tão simples, não tem nada a ver comigo. Mas Janaina é absolutamente perfeito. Combina com o corpo e a alma que tenho, com meu jeito de ser, com minha vida e minha história. Não existe nome mais adequado pra mim do que este.

Meu nome não tem acento, embora a maioria das pessoas insista em colocar um agudo - que não existe – na letra “i”. E Janaina gera milhares de apelidos, nem todos legais, mas tudo bem, eu não ligo para isso. Meu apelido de infância eu não revelo nem sob tortura. Nunca, jamais, em hipótese alguma. Graças a Deus eu cresci e ninguém me chama mais por aquele nominho ridículo. Hoje em dia eu sou somente Jana, em casa e para a maioria das pessoas. Alguns me chamam de Janinha, que eu acho carinhoso. Em São Paulo várias pessoas me chamam de Jan, que eu acho legal. Uma amiga minha no Rio me chama de Jane (pronúncia em inglês, por favor !), que eu adoro. Mas tem gente que me chama de Jajá… eu não gosto muito, mas tudo bem. Agora ‘Já’ é foda, né ? Nada a ver ! O melhor de todos é quando as pessoas me conhecem desde sempre mas continuam me chamando de Janaina. Acho engraçado porque para mim Janaina é apenas o meu nome para estranhos. E para mamãe, quando quer brigar comigo.

Depois de alguns anos de trabalho em propaganda eu virei Janaina Pereira. Ou Jana Pereira. Foi difícil abrir mão de um sobrenome. Eu lutei para ser sempre Janaina dos Santos Pereira, mas o nome é grande demais. Assino sempre meu nome completo mas profissionalmente assino apenas o sobrenome do meu pai. Janaina, um nome forte, acompanhado de sobrenomes de origem judia. Uma mistura total.

Essa descoberta de como o nome da gente foi escolhido é interessante. É como se a sua identidade estivesse sendo construída a partir dessa informção. Adoro a história que cerca a origem do meu nome. Porque eu, enquanto era um feto no ventre da minha mãe, já tinha um nome cheio de significados. Que bom que meu pai escolheu um nome tão poderoso para mim. Um nome cheio de bossa, cheio de melodia, um nome que deu samba. E hoje, quase 30 anos depois, combino perfeitamente com esse (samba)enredo.


Janaina Pereira
Redatora
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terça-feira, outubro 07, 2003

Este é um dos meus textos preferidos. Originalmente para o site do programa Saia Justa.


A terceira pessoa do singular


Um belo dia você olha para um cara, ele olha para você, e algo diferente acontece. Pinta um clima. Você dá um sorriso, ele retribui e pronto: estão apaixonados. Tá, tudo bem, pode não ser tão simples assim. Mas vocês se apaixonaram e estão namorando. Tudo vai indo bem até a rotina chegar. Ou o excesso de trabalho atrapalhar. Ou a monotonia aparecer. Ou qualquer outra coisa acontecer e vocês começarem a brigar.
Aí, num outro belo dia, você resolve sair para se distrair. Você vai pegar sua amiga em casa e dá de cara com o irmão dela, gatíssimo, alguns anos mais jovem que você. Você pára e pensa: “ e eu perdendo tempo com um namorado que nem liga pra mim!”
Num outro belo dia seu namorado sai com os amigos para um inocente choppinho após o trabalho. No bar, ele vê uma mesa lotada de mulheres e seus olhos não desgrudam de uma, nem tão bela, mas sorridente e extrovertida. Ele pára e pensa: “ porque eu fico perdendo meu tempo com uma namorada que só sabe me cobrar e vive brigando comigo ?”
Ok, os pensamentos podem não ser esses. Mas o desgaste nos relacionamentos é o primeiro e decisivo passo para a traição. Nem é preciso pular a cerca: pode apertar a campainha ao lado. Seu vizinho bonitão está ali, ao seu alcance. E a amiga gostosona do trabalho dele e o seu personal trainner também.
Só que eu não quero falar dos casais, homens e mulheres que mesmo com um relacionamento aparentemente estável, acabam se envolvendo com outras pessoas.
Quero falar das outras pessoas, aquelas que acabam se envolvendo com alguém comprometido. As pessoas que têm rolos, casos e amantes na vida. Se bem que amante é uma palavra meio antiquada. Ser o outro ou a outra ganhou mais status. Hoje em dia você vira affair, romance, e até mesmo namorado da mulher casada. Ou namorada do gatinho que é noivo.
A gente não escolhe por quem vai se apaixonar. E às vezes, mesmo sabendo que pode estar entrando numa furada, acaba se envolvendo. Você está solteira e pode escolher o cara com quem vai sair. E acaba saindo com um cara casado, noivo ou com namorada. No começo pode ser uma aventura. Ou apenas alguém para fazer companhia ocasionalmente. Ele procura você quando pode. Ou quando quer. Ou quando briga com a oficial. Ou quando quer sair da rotina e apimentar o cardápio.
Quem nunca olhou com interesse para alguém comprometido que atire a primeira pedra. Não dá pra fugir. A tentação pode vir de repente, ou planejadamente. Pode vir do cara galinha que tenta a todo custo ficar com você – mesmo ele tendo uma namorada desde sempre. Ou pode vir do estranho que você conheceu na boate justamente na noite que ele brigou com a namorada.
Entrar nessa história é machucar o coração. É ligar na hora errada – a hora que ele está com a namorada no cinema. É comemorar o dia dos namorados na véspera (ou no dia seguinte). É sair no meio da noite, é se encontrar no início do dia, é fugir para passar um fim de semana juntos, é conviver com as mentiras e desculpas que seu rolo inventa para ficar com você.
Ser a terceira pessoa de uma relação é não ter relação nenhuma com ninguém, é estar sozinha estando com alguém. É disfarçar olhar, é não andar de mão dadas em lugar público, é entrar pela porta dos fundos, é fugir no elevador de serviço, é disfarçar, omitir, nunca se entregar.
Quem aposta que ele ou ela vai terminar o namoro/noivado/casamento para investir nesta nova relação, pode se machucar. Não existe nova relação. Existe um tempero para um feijão-com-arroz de sempre, um motivo para o fim de uma história que nem sempre quer dizer o começo de outra. Eu decidi – e já faz muito tempo - que não nasci para ser reserva. Quero ser sempre titular. Não quero ser ela, a terceira pessoa do singular. Ela, a que fica com o que restou de uma história que não termina por falta de coragem. Porque coragem para apertar a campainha da vizinha você pode ter. Coragem para envolver, seduzir e levar para sua vida uma pessoa que por idiotice se apaixonou por alguém comprometido, para isso não faltou. Mas para terminar o relacionamento destrutivo que se arrasta a tanto tempo, ah, para isso falta a tal da coragem. E sobra covardia.
Quero relacionamento com briga, com stress, com paixão, com tesão, com carinho, amor, açúcar e afeto. Quero liberdade, quero minha vida, mas também quero dividi-la com alguém. Quero ser a primeira pessoa do plural. Quero que seja sempre nós, nunca, jamais, eu, tu e ela. E ela não é a namorada/noiva/esposa. Ela é a outra mesmo. Ela é você que entrou na vértice do triângulo. Ela é você que conjugou o verbo errado.
O certo é nós amarmos. E não eu, tu e ela amarmos. Nós amamos. Um ao outro. Sem a terceira pessoa, que merece sua própria história. Singular.


Janaina Pereira
Redatora
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sexta-feira, outubro 03, 2003

O segundo que antecede o beijo



Nada melhor do que os momentos sedutores que antecipam uma grande conquista. O flerte, o xaveco, a azaração, ou como você preferir chamar, é o momento mais encantador de um relacionamento. Cada olhar, suspiro, palavra, mensagem, e-mail, messenger, icq, bilhete, tudo, absolutamente tudo é fascinante. A partir do momento que os olhares se encontram, tudo se torna indispensável. Começa uma série de armas sedutoras para conquistar o outro. Você se prepara tanto para o momento de ficar com a outra pessoa que tudo fica especial. Tudo, tudo, tudo … essa é a palavra definitiva para seduzir.

Se você olhou pro cara e ele retribuiu com aquele olhar avassalador… pronto ! Jogue todas as suas fichas neste momento único. Ele nunca mais vai voltar. Quando você começa o processo de conquista, tudo é fascinante. Cada jogada do outro pode ser decisiva para o início de um namoro, de um caso-relâmpago ou simplesmente uma aventura. Mas o prazer de ser alvo das investidas – e o prazer de investir em alguém também – é tão lisonjeador que se torna o melhor momento do jogo da sedução.

Mas um dia aquilo vai se concretizar. Um dia, se realmente houver um interesse mútuo, vai rolar pelo menos um beijo. E o beijo é o começo do resto. Se o beijo der certo, tudo mais pode acontecer. Mas palavras e atitudes foram decisivas para que aquele beijo rolasse. E se ele rolou, foi porque todo jogo de sedução valeu a pena. Tudo conspirou a favor daquele beijo. Se o beijo não der certo, as palavras e atitudes que fizeram parte da sedução foram puro entreterimento. E só.

O que fica são juras nem sempre sinceras, palavras ditas para a gente ouvir, atitudes milimetricamente pensadas, tudo muito planejado para chegar ao tal do beijo, ou até mais longe – a cama mesmo. E um só beijo, uma só noite, põe pôr terra toda sedução, todo encantamento, todo envolvimento que havia até ali. Acabou-se em um beijo.

Claro que existem relacionamentos que vão além do beijo. A sedução foi certeira e atingiu o coração. Você foi fisgada ou fisgou alguém … perfeito ! Mas muitas vezes tudo não passou de um processo de sedução, que acaba numa noite, em alguns dias, meses, anos … que acaba um dia, que morre com o tempo. Que muitas vezes a memória esquece, mas nem sempre o tempo apaga do coração.

Quando fechar os olhos antes do beijo que cela momentos sedutores, lembre-se que aquilo não volta mais. No final, como sempre, a gente olha pra trás e se dá conta de que foi bom enquanto durou. E hoje nada mais importa. Aproveite o beijo e não deixe de olhar para os lados. Tem sempre alguém esperando por você na próxima esquina. Com um pote de sedução nas mãos prontinho para derramar na sua boca.

Janaina Pereira
Redatora
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quarta-feira, outubro 01, 2003

Pros amigos do Rio

Saudades dos papos com o Marcos,
Do abraço apertado da Dani,
Do ombro amigo da Cida,
Dos olhos brilhantes da Chris,
Dos almoços com a Luiza,
Das baladas com a Lu,
Das longas conversas com a Cinthya,
Da alegria contagiante da Vany,
Do apoio incondicional da Paty,
Dos sábios conselhos da Si,
Da presença querida da Pri,
Das gargalhadas da Nilda,
Da companhia divertida da Cintia,
Do sorriso sincero da Carmen,
Dos ouvidos atentos da Vivi,
Do convívio fraterno com o Jorge,
Das piadas do Marcelo,
Dos passeios com a Carol,
Das palavras amigas do Mauro,
Dos chopinhos com a Danny,
Das noitadas com a Clau.
Saudades do Árabe da Lagoa,
Dos mergulhos em Ipanema,
Das saladas do Chaika,
Do sanduíche da Barraca do Pepê,
Do happy hour no Rio Sul,
Do crepe de chocolate com sorvete do Chez Michou,
Dos shows no Ballroom,
Da água de coco no Mirante do Leblon,
Do Mundo Mix na Marina da Glória,
Das festas de propaganda no Copacabana Palace,
Da Babilonia Feira Hype,
Da pizza do Bella Praia,
Da cerveja do Manuel e Joaquim,
Do céu de estrelas da Joatinga,
Da lua cheia deitada na areia,
Do pôr-do-sol no Arpoador.
Saudades do Rio
Saudades dos amigos do Rio
Saudades do Rio cheio de amigos
Saudades sempre saudades sempre saudades sempre.

Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora

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