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sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Tristeza não tem fim


Eu gostaria que o dia de hoje não existisse. Porque ontem já foi demais para mim. Tanta lágrima, tanta dor, tanto sofrimento. Tanto coração partido, tanta tristeza, tantos olhos pedindo um minuto de esperança.

Hoje eu queria que o dia amanhasse mais feliz, mas ele está mais triste. Hoje eu queria receber um abraço, mas eu sou a pessoa que vou abraçar você.

Hoje eu queria ser forte, mas eu sou fraca.

Hoje eu queria sorrir. Mas só me resta chorar.

A vida não é aquilo que queremos. São estas linhas tortas que Deus escreve e a gente nunca entende os porquês. E tudo que eu tenho para dizer é que sinto muito.

E todos os meus problemas parecem pequenos agora. Porque o mundo desmoronou, porque algo se perdeu, e porque a dor da perda sempre é insuportável.

A gente resiste.

Mas a saudade, que droga, é eterna.

Hoje eu só posso dizer que você pode contar comigo.

Hoje eu só posso pedir a Deus que abrace a todos que precisam de um alento.

Hoje eu quero chorar por você, por ela, por mim, por todos. Hoje eu quero ficar completamente só para chorar. A dor da alma não vai passar. Mas vai aliviar.



Janaina Pereira

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Futuros Amantes

(Chico Buarque)

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Pílulas



O assédio moral cresce no trabalho e na vida. Será que algum dia as pessoas vão se dar conta de que apelidar o outro, ou questioná-lo em público, é ofensivo?

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O mundo virtual parece a cada dia mais confortável para a maioria. As relações humanas se perdem e o contato físico se anula. Vivemos presos na gaiola chamada computador. Lamentável.

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A pílula sobre Oscar Wilde rendeu comentários. Realmente eu acho que é possível amar com a alma. Mas, até hoje, minha alma só sentiu dor.


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Se você quer saber como são as minhas matérias jornalísticas, veja o que estou aprontando no jornal da faculdade.


www.uninove.br/inove


Sob a supervisão do professor e jornalista Alexandre Barbosa e com a colaboração da editora (e também estudante de jornalismo) Carla Menezes, estamos batalhando por um espaço cada vez maior para os estudantes de jornalismo.


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Rolling Stones e U2 fazem a festa do rock no Rio e em São Paulo. Poucas coisas nessa vida são melhores do que ouvir o Mick Jagger cantando “Satisfaction”. E a melhor coisa que o Bono já cantou ainda é “The swest thing”.



Janaina Pereira

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Pausa


Estou me sentindo fraca. A febre não passa, o corpo dói, meu coração bate em ritmo acelerado. A tosse, incessante, faz o pulmão doer. A garganta se fechou. Não consigo comer, nem falar, e fico deitada na cama, chorando copiosamente.

É uma morte lenta, de sentimentos até ontem fortes, e que hoje parecem sumir aos poucos. Sinto dor física, mas o que mais dói é minha alma. Há um peso, uma sensação de que errei, de que sou culpada. Eu destrui tudo, destruí minha própria vida. É meu suicídio. A minha morte anunciada.

Tive pesadelos, delírios, e senti muito medo. As palavras distorcidas ecoam. Quando as outras pessoas precisam da gente, quando os outros estão carente, tudo é diferente... tudo é sensato. As outras pessoas podem entrar na sua vida abruptamente, com seus problemas e anseios, pedindo carinho e atenção. Eu acolho todos, eu recebo todo mundo... mas quando sou eu que tenho minhas dúvidas, que tenho meus receios, que preciso de afeto... rapidamente me transformo em alguém indesejável. Facilmente substituída.

Hoje, especialmente, estou me sentindo mais sozinha do que nunca. Sinto-me triste, sinto-me perdida, sinto-me sem rumo. É como se eu fosse deixada na beira da estrada, e estivesse lá até agora esperando alguém me segurar nos braços e me carregar, pois já não tenho forças para andar.

Tenho milhares de defeito, mas eu tento melhorar. Dizer que não consigo mudar, duvidar das minhas palavras e atitudes, ser acusada por coisas que não fiz, não me parece justo. Mas o que é justo, afinal? Não quero olhar para trás e me arrepender do que fiz. Se errei, meu corpo paga agora. Mas o pior é ver que só eu erro, só eu tenho atitudes que incomodam, só eu faço coisas que podem ser recriminadas. Eu sou um problema.

Um dia eu deixei para trás minha família, meus amigos e toda minha vida. Para que? Para ficar sozinha, para viver minha vida como eu queria. Demonstrar afeto parece fazer mal aos outros. Moro numa cidade onde é necessário ser frio e distante o tempo todo. É assim que devo ser, é assim que as pessoas me aceitam.

Várias vezes eu achei que a morte seria a solução dos meus problemas. Mas não acredito mais nisso, pois não quero levar essa dor na alma. Agora eu só acredito que toda febre é um reflexo do meu estado espírito.

Não é meu corpo que morreu.

É minha alma que não para de sangrar.


Janaina Pereira

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Sem segredos


Há um certo exagero em torno do favorito ao Oscar, “O Segredo de Brokeback Mountain” (Brokeback Mountain, EUA, 2005). A nova produção do diretor Ang Lee é apenas uma grande história de amor. Só que entre dois homens. Pronto, foi dada a largada para um festival de elogios e preconceitos em relação ao filme.

Longe de ser uma obra-prima, “O Segredo de Brokeback Mountain” tem em sua narrativa pausada o seu maior trunfo. Baseado em conto de Annie Proulx, o roteiro percorre vinte anos da vida de Ennis (Heath Ledger) e Jack (Jake Gyllenhall), dois caubóis que se conhecem no ponto geográfico do título, apaixonam-se e vivem, como podem, este intenso romance. Com o passar do tempo, sufocar esta paixão parece perturbá-los de formas diferentes, e enfrentar a conservadora sociedade americana nem sempre é uma boa idéia.

Impossível não se impressionar com a bela fotografia do filme, assim como a primorosa direção de Lee. Entre os atores, Jake Gyllenhall sobressai mais que Heath Ledger. E a trilha sonora, de uma melancolia única, também chama a atenção. Com méritos, o filme concorre a oito Oscar,sendo o favorito na categoria filme e diretor.

Ang Lee já abordou a homossexualidade no excelente “Banquete de Casamento”. Agora, levando o preconceito com os gays para o universo mais machista dos americanos, o mundo country, conseguiu despertar o interesse até da burocrata academia de Hollywood.

“O Segredo de Brokeback Mountain” é simplesmente uma história de amor, com os mesmos percalços, o mesmo medo e a mesma intensidade que todo amor verdadeiro tem. O preconceito que existe neste caso é porque são dois homens que se amam, mas poderia ser um branco e uma negra, uma mulher mais velha com um homem mais novo, e por aí vai. Aliás, o amor é um dos maiores alvos de preconceito da sociedade: tudo que foge do padrão ‘homem branco mais velho + mulher branca mais nova” gera polêmica. Então se é para polemizar, não saiam do cinema quando os belos rapazes deixam a paixão florescer. Porque a vida é assim: o amor deve ser vivido até a última gota, independente da cor, da raça, da religião e do sexo.


Janaina Pereira

sábado, fevereiro 11, 2006

Muito mais que uma carinha bonita

A liberdade de imprensa é um assunto em eterna discussão. Em um mundo em que o capitalismo impera e as grandes corporações dominam, a imprensa ainda é uma ferramenta tanto do domínio quanto da democracia. Atualmente, a imprensa mundial questiona o governo americano, que tenta oficializar uma lei que permita a vigilância de seus cidadãos, em nome da luta contra o terrorismo. No meio desta polêmica estreou "Boa noite e boa sorte" (Good night, and good luck, EUA, 2005), de George Clooney, um libelo contra os excessos do poder.

Baseado em fatos reais, o filme se passa no início dos anos 50, e conta como o jornalista Edward R. Murrow (David Starhairn, em atuação excepcional) lutou para desmascarar o senador Joseph McCarthy (que aparece em imagens originais da época). Perseguindo aqueles que eram contrários a sua autoridade, McCarthy inaugurou a era do ‘mccarthismo’ ou ‘caça as bruxas’, período polêmico da história americana em que várias pessoas foram acusadas sem provas de serem favoráveis ao comunismo.

Murrow foi um dos maiores jornalistas da história americana. Famoso no rádio, graças as transmissões que fez durante a Segunda Guerra Mundial, levou seu carisma e inteligência à televisão. Era apresentador do jornalístico “See it now” e do programa de entretenimento “Person to person”, ambos na CBS, quando resolveu enfrentar o senador McCarthy. Com o apoio do diretor de seu programa, Fred Friendly (George Clooney) e a conivência do diretor da emissora, Bill Paley (Frank Langella), que tentava fazê-los desistir, mas acabou apoiando-os, Edward Murrow travou uma batalha pública contra os métodos de Joseph McCarthy.

Filmado em preto e branco, “Boa noite e boa sorte” (o título foi tirado de uma frase que Murrow dizia ao final de seus programas) tem uma narrativa poderosa e enxuta, com diálogos fortes (muitos dos textos são falas do próprio Murrow aproveitadas por Clooney e pelo co-roteirista Grant Heslov, que tiveram a colaboração do verdadeiro Friendly). O elenco dá conta do recado, com nomes como Jeff Daniels e Robert Downey Jr. em papéis importantes, mas o destaque maior é para David Starhairn, que brilha na pele de Murrow com postura e voz inesquecíveis. O filme retrata fielmente a época, nos transportando ao período asfixiante do mcchartismo. Ao mesmo tempo, relata o fim da era de informação na televisão e o início da TV como entretenimento, numa crítica ácida a cultura de massa.

Assim como Edward R.Murrow, que era bem mais que uma cara bonita na TV, George Clooney mostra que é muito mais que um galã de cinema. Com bastante ousadia para um diretor em seu segundo filme - desde a escolha do tema até o tratamento da imagem, os cortes da edição e montagem, e a direção impecável – Clooney levou para as telas um dos melhores filmes dos últimos tempos. Ganhou prestígio e aplausos: só ele concorre a três Oscar – melhor filme e diretor por “Boa noite e boa sorte” e ator coadjuvante por “Syriana”. Sua saga jornalística levou ainda mais quatro indicações: ator (David Starthairn), roteiro original, direção de arte e fotografia.

“Boa noite e boa sorte” é um daqueles filmes imperdíveis e que marcam para sempre. Uma ótima reflexão sobre como a liberdade editorial está profundamente ligada à qualidade da TV, e que é preciso que os espectadores percebam e exijam ambos. É uma grande oportunidade para cada um pensar o que a televisão fez com as nossas vidas. E uma prova que, pelo menos neste caso, um rosto bonito como o de George Clooney não vence apenas pela beleza.


Janaina Pereira

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Guerra sem fim



Sempre fui fã incondicional de Steven Spielberg. Mas seus últimos filmes, todos com finais felizes – mesmo as histórias sendo pesadas para o final ser satisfatório – me causaram incômodo. Ainda assim fui assistir “Munique”. E não me arrependi. Spielberg soube, como poucos, relatar com imparcialidade um dos momentos mais trágicos que o mundo presenciou: o ataque terrorista aos atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de Munique. Mais do que isso, o diretor partiu deste fato para narrar o que teria acontecido depois dele.

Longe de ser um filme comercial, “Munique” (Munich, EUA, 2005) mostra a vingança que a primeira ministra de Israel, Golda Meir (Lynn Cohen), teria autorizado contra os onze líderes palestinos após o massacre ocorrido nas Olimpíadas de 1972, em que onze atletas israelenses foram mortos por terroristas. A missão, extremamente secreta e perigosa, é entregue a Avner (Eric Bana, de “Hulk”), ex-agente do Mossad e ex-segurança de Golda. Ele é encarregado de comandar uma reduzida equipe de agentes que sairá pelo mundo à caça de onze nomes escolhidos a dedo. Mas, quanto mais se dedica a sua missão, mais Avner se desencanta e se desespera ao tomar contato com a gigantesca sujeira em que se meteu.

Apesar do roteiro duramente criticado, o argumento do filme não é de Spielberg, e sim do escritor George Jonas em seu livro “Vengeance: The True Story of an Israeli Counter-Terrorist Team”. Mesmo assim, o cineasta tem sido recriminado por parte da comunidade judaica em todo o mundo, após a estréia do filme nos EUA, ocorrida em dezembro passado. Muitos não gostaram de ver nas telas dos cinemas Israel se utilizando dos mesmos métodos terroristas que sempre foram tão criticados, quando usados por palestinos. Outros protestaram argumentando que a palavra “Vingança” (título do livro) seria inadequada para a ação empreendida por Golda. Quando o assunto é árabes contra judeus – e vice-versa - os ânimos sempre se exaltam.

Spielberg poderia ter optado por uma estética glamourosa, no estilo de 007. Mas, sabiamente, optou por uma fotografia escura, um clima sombrio e uma narrativa sólida. E é isso que faz de “Munique” um grande filme, zeitgeist dos anos 70, com uma história densa, difícil e dolorosa, o que tem desagradado a maioria – é fracasso de bilheterias nos EUA e muitas pessoas no Brasil saem do cinema antes do final de sua exibição.

O grande mérito de Steven Spielberg, um notório e militante representante da comunidade judaica, é não glorificar a violência, mas mostrá-la crua, como realmente é. E tentar, de alguma forma, mostrar que os caminhos que nos levam a guerra deveriam nos conduzir a paz.



Janaina Pereira

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Mergulhando na angústia de Oscar Wilde


Estreou no Espaço Satyros a peça “De Pronfundis”, escrita por Ivam Cabral e dirigida por Rodolfo García Vázquez, a partir da obra homônima de Oscar Wilde. O texto resgata alguns aspectos da carta original que o dramaturgo escreveu para Lord Alfred Douglas, o Bosie, em seu período na prisão.

O espetáculo é pontuado pela angústia e desespero que Wilde sempre transmite em suas palavras; sua crença de que todo homem mata o amor e que o prazer está relacionado ao corpo, enquanto a dor está ligada à alma. No cenário, dividido em três ambientes que reproduzem uma cela, os atores passam para o público os mesmos sentimentos que povoaram a cabeça de Oscar Wilde durante o seu confinamento: a solidão, o medo, o fracasso, o amor e a loucura. A sobreposição das prisões e a proximidade com o elenco – a platéia fica enclausurada com o personagem do dramaturgo num cubículo – faz com que o espectador acompanhe estes sentimentos com muita profundidade.

As intervenções vocais dão um clima de devaneio à peça, e a iluminação minunciosa de Rodolfo Garcia Vázquez,indicado ao prêmio Shell de Teatro, trabalha com sombras nos três níveis de confinamento. Isso faz com que o público viaje pelas palavras de Oscar Wilde, desde sua paixão pela arte até sua reflexão sobre a existência, vivenciando como é a prisão do corpo e da alma.


De Profundis
Texto: Ivam Cabral
Direção: Rodolfo García Vázquez
Elenco: Marçal Costa, Germano Pereira, Irene Stefania, Robson Moreira, Sergio Gizé, Vanessa Bumagny, Ilana Volcov, Nô Stoppa e Helô Ribeiro
Sextas e Sábados às 24h00
R$ 20,00 (estudante paga meia!)
Lotação: 70 lugares (reserve seu ingresso antes)
Recomendada para maiores de 14 anos
Espaço dos Satyros Dois - Praça Roosevelt, 124 – Centro – São Paulo – SP
Tel. 3258 6345
Em cartaz por tempo indeterminado


Janaina Pereira

domingo, fevereiro 05, 2006

Pílulas


Tenho que concordar com a percepção de Oscar Wilde sobre o amor: o prazer é do corpo. A dor é da alma. Afinal, quando se ama, é o corpo que fica feliz. Quando se sofre por amor, alma é quem sente tudo. Se quando morremos só resta a alma, o que levamos então é dor. O amor morre com o corpo e é triste se concluir isso.

Será que conseguiremos um dia amar com a alma e deixar o prazer físico de lado?

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Vem aí o Carnaval. Detesto esta data. Nem dá para acreditar que meu nome é originário de um samba-enredo. Mas, vamos lá, preciso passar por ela, nem que seja a fórcipes.

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Está aberta a temporada de caça ao Oscar. Já assisti “Munique” (comentários em breve) e tenho uma listinha pessoal para cumprir. Mas já adianto que Ang Lee sempre falou com lirismo dos gays desde “Banquete de Casamento”. E que George Clooney segue com firmeza os passos de Clint Eastwood na direção. E que Steven Spielberg, quando quer, sabe fazer cinema dos melhores.

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A loucura pelos ingressos do U2 não se justifica. Já assisti ao show deles – que é muito bom, realmente – mas essa fila insana é, definitavamente, coisa de paulista que não tem o que fazer. Já a gratuidade do show dos Rolling Stones deve gerar muita confusão explícita nas areias cariocas.

Se eu tivesse que escolher, pagava qualquer coisa para ver Stones novamente. Quem viu uma vez, como eu, sabe que ouvir Mick Jagger cantando “Satisfaction” é inesquecível. Este momento só é comparável a ouvir Paul McCartney cantando “Sgt. Pepper´s lonely heart club band”. Os mitos sobrevivem a tudo.

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Trancoso foi a descoberta das minhas férias. Simpático, agradável, charmoso e belo, o vilarejo é uma benção. Caro, mas paga-se o preço por estar num lugar que realmente vale a pena.



Janaina Pereira

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Uma relação delicada


Lembro de tudo que senti quando cheguei a São Paulo. A incerteza, a angústia, os dias sombrios, as noites vazias. As pessoas estranhas, a cidade que insistia em me expulsar.

Eu não fui embora.

Todo ano lembro com orgulho que completo mais um aniversário aqui. Agora são cinco anos e eu nunca imaginei que fosse chegar tão longe... logo eu, que achava que o tempo passaria rápido... e seria justo comigo. Não foi. Não foi rápido e por isso não foi justo. Mas certamente fiquei mais forte por ter passado tantas coisas aqui.

Lembro com clareza as privações, o dinheiro contado, a falta de perspectiva, a saudade que não passava, o preconceito, as brincadeiras que me magoavam. Lembro que eu era uma pessoa perdida na multidão, deixada de lado, deixada para trás. Era uma estrangeira em meu próprio país. Era uma carioca em São Paulo.

Ainda sou uma carioca em São Paulo. Perdi a identidade, o rumo mudou, a vida se apresentou diferente. Perdi as referências, os amigos de sempre hoje mal fazem parte da minha história. Acham que virei paulista e isso é como cortar meus pulsos. Detesto que mudei minha naturalidade. Eu nunca vou deixar de ser carioca somente porque não moro mais lá.

Esse assunto parece lugar comum: volta e meia estou aqui, falando as mesmas coisas... mas é a minha vida, a minha história, escrita com muito suor. Não sou exemplo para ninguém, cometo erros e pago caro por eles. Mas sou uma pessoa que nunca deixou de acreditar que devemos viver a vida, e jamais ficar parado esperando ela passar.

Se você rever os textos antigos desse blog, achará minhas opiniões sobre meus outros aniversários em Sampa, já que todo ano escrevo sobre isso. Esta data, que significou o rompimento da minha relação de amor com a cidade em que nasci, é um novo aniversário para mim.

Então hoje já tenho cinco anos de São Paulo; já sei andar, falar, e caminhar com meus próprios passos por aqui. Sofro calada mas nem sempre sozinha. Neste final de semana vou refletir mais uma vez o que significou esta mudança tão radical na minha vida.

O que eu fiz por São Paulo? Talvez tenha deixado um rastro de cores na cidade.

O que São Paulo fez por mim? Talvez tenha deixado uma semente de força em minha alma. E esta semente germinou e me tornou esta frágil mulher forte.


Janaina Pereira

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Salve Rainha


Que ela me abençoe com as lágrimas que me fazem aprender.
E que me abençoe também com a ternura, o canto e o encanto das palavras doces e difíceis.
Que ela me proteja com o amor de mãe.
E que me proteja também com a fé em Deus.
Que ela me ilumine a cada passo do meu longo caminho.
E que me ilumine também nos momentos de dúvida e dor.
Que ela me carregue nos braços quando eu perder a força.
E que me carregue também quando eu me desesperar.
Que ela não me esqueça.
Que ela não me perca de vista.
Que ela não me deixei só.
E que a cada dia possa me fazer melhor. E muito maior do que um dia imaginei ser.

Hoje é dia de Iemanjá.
Dia de Janaina.
Dia de usar azul e branco, oferecer flores ao mar e fazer reverências.

Hoje é dia de luz, de amor, de festa.
Hoje é dia da Rainha do Mar, a Mãe das Águas, a mulher que chora, mas que nunca desiste.



Janaina Pereira

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Sem fronteiras


Fernando Meirelles era um grande diretor de filmes publicitários quando entrou para a história do cinema nacional com “Cidade de Deus”, em 2003. No ano seguinte, tornou-se o único brasileiro a ser indicado ao Oscar de Melhor Diretor. Este ano colocou o Brasil novamente a caminho da maior premiação do cinema, graças as quatro indicações que seu mais recente filme, “O Jardineiro Fiel” (The Constant Gardener, EUA/ Reino Unido, 2005), recebeu. E assim vai construindo uma carreira de sucesso, com méritos.

“O Jardineiro Fiel” é a adaptação do livro homônimo de John Le Carré. Com um roteiro complexo, porém bem-resolvido por Jeffrey Caine, o filme consegue surpreender e chocar, deixando, no entanto, um rastro de esperança no ar. A história gira em torno de Justin Quayle (o competente Ralph Fiennes), diplomata inglês cujo hobby é a jardinagem – ele é o jardineiro fiel do título. Sua mulher, Tessa (Rachel Weisz, em brilhante atuação) é brutalmente assassinada numa cidade queniana e o principal suspeito é seu colega de trabalho, um médico que se encontra foragido. Tudo indica que o crime foi passional, o que deixa Justin perturbado pela culpa e assobrado pela possibilidade de infidelidade da esposa.

A história de amor do casal é contada por meio de flashbacks. Ao mesmo tempo, o espectador acompanha o que ocorre no presente, quando Justin sai em uma odisséia, tentando descobrir a verdade sobre as atividades de Tessa e os motivos que levaram ao seu assassinato. A partir daí a trama vai crescendo até chocar o público ao revelar os reais motivos do crime.

Os maiores destaques de “O Jardineiro Fiel” são o roteiro e a montagem. A força da trama política (que passa desapercebida no começo do filme) e a crueza das cenas (que mostra as mazelas africanas sem pudor) fazem a diferença e conquistaram indicações ao Oscar. O filme ainda concorre com sua emocionante trilha sonora e a atuação perfeita de Rachel Weisz como coadjuvante, que vem sendo premiada mundo afora. Apesar de não ter sido indicado como diretor, Fernando Meirelles merece aplausos pelo belo trabalho. Ele conseguiu deixar sua marca no filme, valorizando a excelente fotografia de César Charlone, impondo seu ritmo acelerado nas cenas e conduzindo os atores com sensibilidade. Conseguimos perceber que o gélido Justin e a voluntariosa Tessa formam um casal antagônico, mas que a vida se encarrega de unir e modificar.

“O Jardineiro Fiel” é um daqueles filmes que vale a pena ver no cinema, com toda a emoção que ele merece. Reconhecido pela crítica - vem conquistando prêmios em todo o mundo – e pelo público – que reconhece suas próprias fraquezas na trama - é uma história forte, que mescla tristeza e esperança em doses homeopáticas. Uma história que mostra que o amor e a corrupção não têm barreiras, e que lutar por um ideal ainda faz sentido. Afinal, palavras e idéias são o que modificam o mundo.


Janaina Pereira

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