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sábado, fevereiro 11, 2006

Muito mais que uma carinha bonita

A liberdade de imprensa é um assunto em eterna discussão. Em um mundo em que o capitalismo impera e as grandes corporações dominam, a imprensa ainda é uma ferramenta tanto do domínio quanto da democracia. Atualmente, a imprensa mundial questiona o governo americano, que tenta oficializar uma lei que permita a vigilância de seus cidadãos, em nome da luta contra o terrorismo. No meio desta polêmica estreou "Boa noite e boa sorte" (Good night, and good luck, EUA, 2005), de George Clooney, um libelo contra os excessos do poder.

Baseado em fatos reais, o filme se passa no início dos anos 50, e conta como o jornalista Edward R. Murrow (David Starhairn, em atuação excepcional) lutou para desmascarar o senador Joseph McCarthy (que aparece em imagens originais da época). Perseguindo aqueles que eram contrários a sua autoridade, McCarthy inaugurou a era do ‘mccarthismo’ ou ‘caça as bruxas’, período polêmico da história americana em que várias pessoas foram acusadas sem provas de serem favoráveis ao comunismo.

Murrow foi um dos maiores jornalistas da história americana. Famoso no rádio, graças as transmissões que fez durante a Segunda Guerra Mundial, levou seu carisma e inteligência à televisão. Era apresentador do jornalístico “See it now” e do programa de entretenimento “Person to person”, ambos na CBS, quando resolveu enfrentar o senador McCarthy. Com o apoio do diretor de seu programa, Fred Friendly (George Clooney) e a conivência do diretor da emissora, Bill Paley (Frank Langella), que tentava fazê-los desistir, mas acabou apoiando-os, Edward Murrow travou uma batalha pública contra os métodos de Joseph McCarthy.

Filmado em preto e branco, “Boa noite e boa sorte” (o título foi tirado de uma frase que Murrow dizia ao final de seus programas) tem uma narrativa poderosa e enxuta, com diálogos fortes (muitos dos textos são falas do próprio Murrow aproveitadas por Clooney e pelo co-roteirista Grant Heslov, que tiveram a colaboração do verdadeiro Friendly). O elenco dá conta do recado, com nomes como Jeff Daniels e Robert Downey Jr. em papéis importantes, mas o destaque maior é para David Starhairn, que brilha na pele de Murrow com postura e voz inesquecíveis. O filme retrata fielmente a época, nos transportando ao período asfixiante do mcchartismo. Ao mesmo tempo, relata o fim da era de informação na televisão e o início da TV como entretenimento, numa crítica ácida a cultura de massa.

Assim como Edward R.Murrow, que era bem mais que uma cara bonita na TV, George Clooney mostra que é muito mais que um galã de cinema. Com bastante ousadia para um diretor em seu segundo filme - desde a escolha do tema até o tratamento da imagem, os cortes da edição e montagem, e a direção impecável – Clooney levou para as telas um dos melhores filmes dos últimos tempos. Ganhou prestígio e aplausos: só ele concorre a três Oscar – melhor filme e diretor por “Boa noite e boa sorte” e ator coadjuvante por “Syriana”. Sua saga jornalística levou ainda mais quatro indicações: ator (David Starthairn), roteiro original, direção de arte e fotografia.

“Boa noite e boa sorte” é um daqueles filmes imperdíveis e que marcam para sempre. Uma ótima reflexão sobre como a liberdade editorial está profundamente ligada à qualidade da TV, e que é preciso que os espectadores percebam e exijam ambos. É uma grande oportunidade para cada um pensar o que a televisão fez com as nossas vidas. E uma prova que, pelo menos neste caso, um rosto bonito como o de George Clooney não vence apenas pela beleza.


Janaina Pereira

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