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sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Uma relação delicada


Lembro de tudo que senti quando cheguei a São Paulo. A incerteza, a angústia, os dias sombrios, as noites vazias. As pessoas estranhas, a cidade que insistia em me expulsar.

Eu não fui embora.

Todo ano lembro com orgulho que completo mais um aniversário aqui. Agora são cinco anos e eu nunca imaginei que fosse chegar tão longe... logo eu, que achava que o tempo passaria rápido... e seria justo comigo. Não foi. Não foi rápido e por isso não foi justo. Mas certamente fiquei mais forte por ter passado tantas coisas aqui.

Lembro com clareza as privações, o dinheiro contado, a falta de perspectiva, a saudade que não passava, o preconceito, as brincadeiras que me magoavam. Lembro que eu era uma pessoa perdida na multidão, deixada de lado, deixada para trás. Era uma estrangeira em meu próprio país. Era uma carioca em São Paulo.

Ainda sou uma carioca em São Paulo. Perdi a identidade, o rumo mudou, a vida se apresentou diferente. Perdi as referências, os amigos de sempre hoje mal fazem parte da minha história. Acham que virei paulista e isso é como cortar meus pulsos. Detesto que mudei minha naturalidade. Eu nunca vou deixar de ser carioca somente porque não moro mais lá.

Esse assunto parece lugar comum: volta e meia estou aqui, falando as mesmas coisas... mas é a minha vida, a minha história, escrita com muito suor. Não sou exemplo para ninguém, cometo erros e pago caro por eles. Mas sou uma pessoa que nunca deixou de acreditar que devemos viver a vida, e jamais ficar parado esperando ela passar.

Se você rever os textos antigos desse blog, achará minhas opiniões sobre meus outros aniversários em Sampa, já que todo ano escrevo sobre isso. Esta data, que significou o rompimento da minha relação de amor com a cidade em que nasci, é um novo aniversário para mim.

Então hoje já tenho cinco anos de São Paulo; já sei andar, falar, e caminhar com meus próprios passos por aqui. Sofro calada mas nem sempre sozinha. Neste final de semana vou refletir mais uma vez o que significou esta mudança tão radical na minha vida.

O que eu fiz por São Paulo? Talvez tenha deixado um rastro de cores na cidade.

O que São Paulo fez por mim? Talvez tenha deixado uma semente de força em minha alma. E esta semente germinou e me tornou esta frágil mulher forte.


Janaina Pereira

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