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sábado, setembro 29, 2007

Cinema em casa


Para todos os gostos, mais uma listinha que pode ser conferida numa locadora bem pertinho da sua casa.


1 – DIÁRIOS DE MOTOCICLETA - baseado nos livros escritos por Che Guevara e seu amigo Alberto Granado a partir da viagem feita por eles em 1952. O objetivo inicial era percorrer 8 000 Km através da América Latina numa moto Norton 500, de 1939, apelidada de La Poderosa. Che, na época apenas Ernesto Guevara de la Serna (o ótimo Gael Garcia Bernal), era um jovem de classe média alta que está prestes a terminar seu curso de medicina. Granado (Rodrigo de la Serna) é um bioquímico que queria comemorar seus 30 anos na estrada. Num primeiro momento são jovens comuns, querendo conhecer a América só vista em livros. Levam um choque ao entrar em contato com uma realidade dura e, até então, desconhecida por eles. A partir dessa aventura, suas vidas não seriam mais as mesmas. O filme fez sucesso no Sundance Festival, concorreu a Palma de Ouro em Cannes e ganhou o Oscar de melhor canção original. Sensível, leve, com várias piadas muito bem colocadas e, ao mesmo tempo, profundo, intenso e reflexivo: assim é a melhor produção do brasileiro Walter Salles.


2 – DISQUE M PARA MATAR – mais um clássico do meu diretor preferido, Alfred Hitchcock. Em Londres, um ex-tenista profissional decide matar a esposa para herdar seu dinheiro e também como vingança por ela ter tido um caso, um ano antes, com um escritor americano. Ele chantageia um colega de faculdade para estrangulá-la, dando a entender que o crime teria sido cometido por um ladrão. Mas, quando algo sai muito errado, ele vê uma maneira de dar um rumo aos acontecimentos em proveito próprio. Com Ray Milland, Grace Kelly e Robert Cummings.


3 – AS CONFISSÕES DE SCHMIDT - um filme sobre personagens com vidas comuns em situações comuns, que mostra, de maneira bem depressiva, a busca pelo “sentido da vida”. Schmidt (Jack Nicholson, maravilhoso como sempre) está se aposentando. Vive em um bairro de classe média em mais uma dessas cidadezinhas anônimas do interior dos Estados Unidos. Sua vida é monótona ao extremo. Ele considera seus amigos desinteressantes, mesmo amando eles. Após a festa de aposentadoria, Schmidt encara uma rotina ainda pior do que quando trabalhava: é obrigado a conviver com sua mulher, pela qual ele não possui mais nenhum afeto. Dirigido por Alexander Payne, de Sideways – Entre umas e outras.


4 – O ÚLTIMO SAMURAI - em 1876, o capitão Nathan Algren (Tom Cruise) é um veterano da Guerra Civil norte-americana que, com seus ideais de honra, coragem e patriotismo destruídos, sobrevive vendendo armas e se embebedando. Sua vida começa a mudar após aceitar a proposta de treinar soldados japoneses no uso de armas de fogo, com a finalidade de sufocar a rebelião dos últimos samurais. Filme de estética apurada, com uma ótima reconstituição de época, em especial do figurino dos samurais, e uma fotografia que engrandece as cenas de ação e de batalha. E ainda tem Ken Watanabe, que rouba todas as cenas de Cruise. Dirigido por Edward Zwick, de Templo de Glória.


5 – CAPITÃO SKY E O MUNDO DE AMANHÃ – só os atores são de verdade neste filme que marca a estréia de Kerry Conran como diretor. Tudo o que se vê é virtual, desde objetos de cena a aviões e cenários deslumbrantes. O filme foi todo rodado sem os atores; depois eles gravaram num fundo azul. Esta técnica é tida como um divisor de águas no cinema, já que é a primeira vez que é levada a este extremo. Claro que em muitas produções os atores atuam em fundos azuis e depois é colocada a imagem, mas nunca se rodou um filme onde absolutamente tudo fosse criado artificialmente. O resultado é único e especial. A jornalista Polly Perkins (Gwyneth Paltrow) se une ao ex-namorado, Capitão Sky (Jude Law), para desvendar o desaparecimento de cientistas famosos. Vale a pena ficar de olho na participação de Laurence Olivier, já falecido, num pequeno papel, a pedido de Law que, além de estrelar o filme, é um dos produtores.


Janaina Pereira

quinta-feira, setembro 27, 2007

Salve, salve, salve


Aprendi, desde criança, a adorar o dia 27 de setembro. Na minha casa sempre foi tradição distribuirmos doces em homenagem aos santos do dia, Cosme e Damião. E, claro, eu ganhava muitos docinhos também. Era uma festa. Minha mãe diz que esse era o único dia do ano em que eu ficava incontrolável. Era tanto doce, tanta festa, tanta alegria... sem dúvida, a melhor parte da minha infância.

Eu cresci mas o dia continuou marcante para mim. Sempre gostei de arrumar os saquinhos com as guloseimas para as crianças, e isso é algo que, desde que vim morar em são Paulo, eu sinto falta. Mas minha colaboração com os pirulitos e balas estão garantidas.

É fato que eu não sei lidar muito bem com os idosos, mas tenho uma paciência sem fim com crianças. Por isso busquei trabalhar com elas em orfanatos, e isso é me faz muito bem. É muito fácil agradar uma criança. E a sinceridade delas é o que perdemos com o tempo, e nos transforma em adultos politicamento (in)corretos.

Quando eu crescer eu quero ser criança. Para sempre.


Janaina Pereira

segunda-feira, setembro 24, 2007

Já foi


Já viajei mais de 400 Km por uma noite.
Já esperei na praia em dia de chuva.
Já acenei para ele da garupa de uma moto alheia.
Já liguei de madrugada para dizer que sentia saudades.
Já caminhei por horas para ter cinco minutos juntos.
Já deixei ele falando sozinho para não brigar.
Já dividi a sobremesa que eu queria comer inteira.
Já ouvi a música que não gostava por ele.
Já sofri por ele.
Já sorri para ele.

Já fiz tanta coisa por eles.

Hoje faço bem mais por mim.



Janaina Pereira

quinta-feira, setembro 20, 2007

A lista


Detesto falsidade. Hipocrisia. Mentira. Traição.
Detesto gente metida. Gente que se acha. Gente abusada. Gente que fala demais.
Detesto jiló e quiabo.
Detesto violência. Assédio moral. Assédio sexual. Qualquer tipo de assédio.
Detesto críticas públicas. Detesto gritos. Detesto escândalos.
Detesto CPMF. Voto obrigatório. Político corrupto. Povo alienado.
Detesto poluição. Lixo na rua. Falta de educação.
Detesto correria. Trânsito. Metrô lotado. Ônibus lotado. Qualquer lugar lotado.
Detesto comida fria. Banho quente no verão. Banho frio no inverno.
Detesto fofoca. Maledicência. Calúnia. Difamação.
Detesto falta de fé. Falta de caráter. Falta de paciência. Falta de vergonha na cara.
Detesto acomodação. Desânimo. Apatia.
Detesto gente chata. Gente folgada. Gente desonesta.
Detesto burocracia. Estupidez. Grosseria. Insensatez.
Detesto burrice. Babaquice. Canalhice.
Detesto inveja. Covardia. Mau humor. E gente que acha que sabe tudo, mas na verdade não sabe absolutamente nada.


Janaina Pereira

sábado, setembro 15, 2007

Preferências


Adoro chocolate. De todos os tipos: branco, preto, meio amargo, com nozes, castanhas, avelãs, coco, menos com passas. Adoro bombom, trufa, brigadeiro, barra de chocolate, waffle de chocolate, biscoito de chocolate, bolo de chocolate, torta de chocolate e mousse... de chocolate. Sou chocólatra, assumida e com prazer.

Adoro praia. Bem cedinho, para dormir. À tarde, para ler. Para pensar e não pensar, para descansar, para namorar, para chorar, para sorrir, para andar, para correr.

Adoro biscoito Passatempo. Para comer enquanto trabalho em meu computador.

Adoro pufes, abajour e incenso.

Adoro cinema. Filmes antigos. Ficção científica, romance, comédia, suspense, aventura. Filmes de guerra. Filme-cabeça.

Adoro barba por fazer, sorrisos, olhares, beijos, abraços, risadas, mãos dadas e sentimentos verdadeiros.

Adoro inteligência. Perspicácia. Tolerância. Paciência. Afeto. Carisma. Conteúdo.

Adoro crianças. Cachorros. Amigos. Família, mas só de vez em quando.

Adoro pizza. Cachorro-quente. Caldo verde. Esfiha. Kibe. Feijão com arroz. Batata-frita. Omelete. Carne seca com abóbora. Strogonoff.

Adoro o sol. A chuva. O vento. O mar. A brisa. A lua. As nuvens. As estrelas. O dia. A noite.

Adoro dormir. Ouvir música. Ler. Dançar. Cantar no chuveiro.

Adoro silêncio. Ficar sozinha. Pensar. Escrever. Sonhar.

Adoro viajar. Tomar sorvete. Fotografar. Caminhar. Comer pipoca. Fazer ginástica.

Adoro sapatos. Bolsas. Sandálias. Saias. Mini-saias. Vestidos. Decote. Frente única. Tomara que caia. Biquini. Brincos. Pulseiras. Colares. Anéis. Lenços. Cachecol. Botas. Casacos. Esmalte vermelho. Tatuagens.

Adoro chopp. Vinho. Caipirinha de saquê. Smirnoff Ice. Cerveja preta. Mojito.

Adoro água de coco. Suco de abacaxi com hortelã. H2OH. Ice Tea. Bliss de morango. Suco de melancia. Guaraná. Ades de pêssego. Iogurte natural batido com maçã, mel e granola.

Adoro comer. Comer. E comer.

Adoro as palavras sinceras. As frases de efeito. As poesias do Quintana. Os versos da Cecília. As letras do Chico. A melodia do Tom. O som do teclado que de mansinho transforma meus pensamentos em um turbilhão de textos desafinados.



Janaina Pereira

quinta-feira, setembro 13, 2007

Partido Alto

(Chico Buarque)

Diz que deu, diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, ó nega
E se Deus não dá
Como é que vai ficar, ó nega
Diz que Deus diz que dá
E se Deus negar, ó nega
Eu vou me indignar e chega
Deus dará, Deus dará

Deus é um cara gozador, adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado me botar cabreiro
Na barriga da miséria nasci batuqueiro (brasileiro)*
Eu sou do Rio de Janeiro

Jesus Cristo inda me paga, um dia inda me explica
Como é que pôs no mundo esta pobre coisica (pouca titica)*
Vou correr o mundo afora, dar um canjica
Que é pra ver se alguém se embala ao ronco da cuíca
E aquele abraço pra quem fica

Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio
Pele e osso simplesmente, quase sem recheio
Mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio
Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio
Que eu já tô de saco cheio

Deus me deu mão de veludo pra fazer carícia
Deus me deu muitas saudades e muita preguiça
Deus me deu pernas compridas e muita malícia
Pra correr atrás de bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia

terça-feira, setembro 11, 2007

Pela Via Láctea, estrada tão bonita


Até ontem, o jornalismo científico não tinha me atraido. Talvez pela complexidade do assunto, ou porque eu já decidi que economia e cultura são mais divertidos. Mas, de repente, lendo sobre a Supernova de Shelton – em 24/02/1987, o astrônomo Ian Shelton, da Universidade de Toronto, viu, a olho nu, no Observatório de Las Campanas, no Chile, um brilho diferente na Grande Nuvem de Magalhães (galáxia-satélite da Via Láctea). Era uma supernova – estrela em explosão - , a mais próxima entre as observadas desde 1604 - percebi que essa área foi a que sempre me fascinou.

Desde pequena, eu queria entender o universo. Adoro astronomia, mas nunca me aprofundei no assunto. Existe algo mais lúdico do que a conquista do espaço? Como fã de ficção-científica, sempre gostei do assunto. Lembro da febre do cometa Halley. Era 1986 e ninguém viu o cometa passar. Mas era notícia. Assim como as viagens espaciais, cujos lançamentos pela NASA causavam sensação mundo a fora. Até a explosão da Challenger, o homem invadia o espaço como se ele fosse todinho seu. E a gente via tudo pela TV.

Mesmo com as teorias de que nunca colocaram aquela bandeira americana na Lua, olhamos para o céu e queremos saber o grande enigma da humanidade: de onde vim e para onde vou? Ainda que seja fascinante, a ciência está longe de ser compreendida. Vejam só, citei aqui alguns assuntos que fizeram parte do meu universo infantil, dos quais me lembro com clareza. Porém, nunca pensei em me aprofundar no assunto. Talvez porque nunca foquem nesses assuntos da maneira certa, justamente para a gente não saber o que acontece.

Além da conquista espacial, a ciência envolve, hoje mais do que nunca, os problemas ambientais, as descobertas revolucionárias no campo da saúde, e o meu assunto preferido: genética. Pois é, eu amava as aulas de biologia só porcausa da genética. O dia que descobri o porquê dos genes castanhos de meus olhos foi uma revolução em minha vida. Eu tinha só 16 anos. Onde a minha fascinação pela ciência se perdeu?

Deve ter sido no cinema. O dia em que enfiei na cabeça que eu só sabia escrever sobre isso, foi o dia em que enterrei meu amor pelo espaço, pelas estrelas, pelo misterioso universo. Ainda que o jornalismo científico seja algo fora da minha realidade, é bom retomar o gosto por um assunto fascinante, mas subestimado pela mídia.



Janaina Pereira

segunda-feira, setembro 10, 2007

Adormecida


Esperar cansa
alcança
adormece
morre aos poucos
lentamente
agoniza
não sobrevive
Esperar é o tormento
o desejo não mais aquece
o mundo muda
você muda
eu mudo
emudeci
esperar é ter esperança
esperança é renascer
mas o que mata não é o tempo
é o medo
o tempo espera
e o medo impera.


Janaina Pereira

quinta-feira, setembro 06, 2007

Os três mal-amados


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


João Cabral de Melo Neto

segunda-feira, setembro 03, 2007

Jornalista não rima com artista


Eu quero ser jornalista, não quero ser artista. Não quero aparecer de cabelo alisado na TV. Não tenho vocação para moça do tempo. Não quero brilhar, quero passar uma informação. Meu foco é a notícia. Não quero andar de salto alto, ficar de olho nos modelos, ir a eventos apenas para ser vista, nem disputar o melhor terninho fashion.

Eu quero ser jornalista, não quero ser artista. Não quero ser maquiada como se fosse aparecer na novela das oito. Não quero ser obrigada a ser um ventrículo. Eu quero informar, e não me conformar. Não quero ser saltitante, esfuziante, apaixonante. Quero apenas ser uma repórter competente.

Eu quero ser jornalista. Isso significa que não tenho perfil para artista. Não sou celebridade. Não sou uma estrela. Não nasci para o palco nem as luzes do cabelo. Não quero aparecer. Quero escrever. E ser jornalista parte do princípio de que, para exercer a profissão, é necessário pensar. Para ser artista é preciso aparecer. Isso é outra história. E isso eu não quero para mim.


Janaina Pereira

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