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domingo, maio 05, 2024

  Madonna in Rio


Eu podia estar me lamentando, eu podia estar reclamando, eu podia estar sofrendo, mas eu estava em Copacabana vendo Madonna.

Não foi fácil o caminho até lá. Eu era a garotinha que, na infância, achava o máximo a moça de cabelos loiros esvoaçantes, laçarotes na cabeça, sutiã à mostra e ostentando grande crucifixo. Não sabia inglês, não entendia o que ela cantava, mas pulava sem parar com aquelas músicas dançantes (não à toa, Material Girl ainda é minha favorita dela). Em 1986 ganhei do meu pai o disco True Blue - até hoje o meu preferido. E em 1993 chorei em frente a TV porque minha mãe não quis me levar para ver Madonna no Maracanã. Deste show, lembro especialmente dela cantando Rain, a minha música favorita daquele ano.
A vida caminhou e em 2008 eu disse para minha mãe: "Ainda bem que agora sou adulta e tenho dinheiro para comprar meu ingresso". Fui ver dois shows de Madonna no Estádio do Morumbi, com direito a comprar ingresso de cambista, algo que nunca mais se repetiu, nem antes, nem depois. Quando a vi pela primeira vez, da arquibancada, fiquei emocionada. Eu só lembrava da Janaina criança que pulava no sofá.
Em 2011, Madonna foi lançar seu filme W.E. no Festival de Veneza. E esse foi um dos momentos mais importantes da minha vida. Eu tinha entrevista no horário de sua coletiva, mas esperei ela passar para a sala de imprensa. Eu vi Madonna muito mais de perto do qualquer vipão do Itaú. Ela sorriu. Eu tirei uma foto. E ali eu morri, mas passo bem.
Em 2012, Madonna voltou a São Paulo com novo show e meu amigo William Magalhães me convenceu a vê-la de novo. Fui com relutância, mas queria ouvir um trecho de Material Girl. Madonna detesta a música e não canta mais. Seus shows, extremamente teatrais, não me atraem tanto. Gosto de show com banda. Gosto do show de 1993. Gosto do que não terei mais. Mas Madonna é generosa e canta seus principais sucessos, sempre. Incluindo a minha segunda preferida, a mágica Vogue.
No dia 7 de março, quando o Lauro Jardim anunciou que Madonna viria para um show de graça em Copacabana, já comecei a planejar a logística. Mas a vida não me permitia acreditar que eu iria. Eu fui e ainda estou incrédula que aconteceu. Parte do que sou eu devo a ela. Madonna é, para mim, uma das mulheres mais importantes da minha geração (e a artista mais relevante, ao lado de Michael Jackson). Não só como artista, mas por sua representatividade para o universo feminino. A mulher chamada de vulgar e pervertida, aos meus olhos, sempre foi inclusiva e realista. Tantas vezes xingada, usou a polêmica a seu favor. Soube ser ousada. E está aí, comemorando 40 anos de carreira. Deus te abençoe, Madonna, obrigada pela sua existência!
No final das contas, deu tudo muito certo, até o encontro com meu amigo Will, marcando nosso terceiro show de Madonna juntos - o quarto meu. A Janaina criança agradece a Janaina adulta por todo o esforço físico e mental para ver Madonna. E a Janaina adulta agradece ao Universo por conspirar a favor. Consegui ouvir Rain ao vivo 31 anos depois, teve Vogue novamente, homenagem lindíssima a MJ e até Material Girl instrumental. O Will gravou a versão acústica de Express Yourself e é isso que temos de recordação para os outros. Para nós, ficará na memória a noite que entrou para a história. Um capítulo lindo daquela que tanto faz pela inclusão, pelo feminino e pela diversidade.
Madonna ainda é, para mim, uma lembrança de criança. De uma Janaina criança que nunca entendeu porque os homens podiam tantas coisas e as mulheres sempre eram julgadas. Porque eu tinha que seguir uma cartilha de comportamento 'você é menina, precisa ser assim"???? E até hoje eu sou obrigada a ouvir: "Jana, você é muito independente, homem não gosta de mulher assim". É, Madonna que o diga...
Obrigada por tanto, Madonna. A gente segue nessa luta, e que bom que tenho você para mostrar que vale a pena lutar. 40 anos e contando!!!

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