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quarta-feira, novembro 16, 2022

Obrigada, Isabel


Cresci na frente da TV vendo esportes. Essa é a maior herança que meu pai me deixou. A gente não via só futebol: vôlei, basquete, natação, tênis, F-1... acompanhávamos tudo. E a imagem que tenho da Isabel é ela jogando grávida. Um escândalo na época. Hoje as jogadoras de vôlei pedem para sair da seleção para terem seus filhos e Isabel jogava grávida nos anos 1980! Minha mãe ficava horrorizada: "E se ela levar uma bolada na barriga?", dizia.

Também lembro perfeitamente da Isabel sendo cortada da seleção por suas posições firmes: ela cobrava igualdade de condições com a seleção masculina e foi a primeira a falar abertamente da sexualização no esporte. Ao lado da Jackie, Isabel foi pioneira não só no talento, mas na postura firme pelos direitos da mulher. A elas se somava Vera Mossa, outro talento das quadras, em uma geração que ficou à sombra da geração de prata do vôlei masculino.

Levei um susto ao saber da morte de Isabel. Como assim? Que mundo é essa que tem levado tantas mulheres incríveis e imprescindíveis (Susana, Gal...), uma semana após a outra? Aí penso 'a maioria nem sabe quem é a Isabel' e me deparo com inúmeras homenagens, e a TV explicando aos mais jovens quem foi Isabel.

Isabel foi uma força da natureza. Luz, garra e talento nas quadras e areias. Pioneira, destemida, sorriso largo e voz inconfundível. Isabel foi mãe, uma das mães mais famosas do Rio de Janeiro. Isabel foi um exemplo de mulher, da mulher que pode e faz, que deseja e quer, que luta, vai em frente, cai e levanta, sabe do que é capaz.

Foi um privilégio ter visto Isabel jogar. Foi um privilégio ter vivido na mesma época que ela. Foi um privilégio crescer aprendendo que mulher é isso aí: a gente pode e faz, a gente deseja e quer, a gente sabe do que é capaz.

Obrigada por tudo e que a passagem seja serena e luminosa, como você, Isabel. E o mar, ah, o mar sempre estará lá para te abençoar.

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