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terça-feira, maio 07, 2019

Um Estranho no Ninho


Assisti ontem pela primeira vez a Um Estranho no Ninho, o clássico filme de Milos Forman. Aproveitando a retrospectiva sobre o diretor tcheco, realizada pelo Cinesesc, estou tentando colocar a obra dele em dia. Lembro que, na adolescência, vi Amadeus e achei chatíssimo. Daí nunca fui muito a fundo nos filmes de Forman. Estou assumindo isso porque, para quem escreve sobre cinema, parece um pecado não ter visto todos os diretores importantes do mundo. Mas acontece.

Dito isso, vi Amadeus no cinema e achei bem legal. Assisti a versão do diretor, com 20 minutos a mais, o que tornou o filme uma experiência de três horas. Cansativo, mas Mozart era uma personagem fascinante - e ver a entrega de Tom Hulce ao papel é muito legal (uma pena que o ator não tenha conseguido mais trabalhos interessantes no cinema).

Mas vamos a Um Estranho no Ninho. Que filme! Vai num crescente impiedoso e termina de forma arrebatadora, embora sem surpresas. Jack Nicholson faz o melhor personagem de sua vida. Carismático, ele consegue trazer empatia ao estuprador Mac, que de louco não tem nada, mas finge ser doido para sair da prisão e passar um tempo num hospital para doentes mentais. O cara acha que se fingir de maluco é tranquilo, mas quando começa a presenciar o sistema opressor do local percebe que se meteu numa enrascada.

Um Estranho no Ninho é de 1975. Concorreu ao Oscar no ano seguinte ao lado de Tubarão e Um Dia de Cão, dois filmes espetaculares, o que só enaltece ainda mais a vitória do filme. Milos Forman venceu como diretor superando Fellini, Kubrick, Sidney Lumet e Robert Altman. É muita gente boa numa categoria só! Detalhe: Spielberg não foi indicado como diretor, e ali começava a antipatia que a Academia nutriu por ele durante duas décadas, e que só acabou em 1994, quando ele venceu com A Lista de Schindler.

Jack Nicholson ganhou seu primeiro Oscar de ator. E ganhou em cima de Al Pacino, que está maravilhoso em Um Dia de Cão. Al Pacino só venceria em 1993, com Perfume de Mulher. Nicholson ganharia outras duas estatuetas. Taí uma das maiores discordâncias do Oscar: Pacino foi muito mais ator em outros filmes do que Nicholson. E depois de Um Estranho no Ninho fica difícil premiar Jack Nicholson em qualquer outro filme - foi o melhor personagem dele, não há a menor dúvida disso.

O mais interessante em Um Estranho no Ninho - e isso é bem triste de afirmar - é que o filme tem uma temática muito atual. Quem é louco? E o que as instituições fazem para melhorar a vida daqueles que, supostamente, possuem algum problema mental? Uma pessoa sã pode enlouquecer por causa do sistema?

As respostas são assustadoras. E o filme é, 44 anos depois de sua estreia, um verdadeiro louvor à vida e as mentes que resistem. Uma ode à liberdade, feita da maneira mais contundente possível. Uma das grandes obras do cinema, e a melhor da carreira de Milos Forman.



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