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sexta-feira, outubro 28, 2016

Jornalismo e jornalista


Estava refletindo sobre o que escrevi aqui outro dia - que não gosto quando dizem que sou crítica de cinema, ou que associam meu nome ao cinema. O lance de me chamar de crítica eu detesto mesmo - não sou crítica de cinema, nem de gastronomia, e me irrita profundamente quando me chamam assim. Crítico é outra coisa, eu sou jornalista. Já esse negócio de me associarem ao cinema, algo como 'jornalista de cinema', também me incomoda. Menos, mais incomoda.

Penso que não deveria ser assim, mas é porque sempre vi as pessoas denegrirem quem trabalha com cultura. "Ah, isso não é jornalismo"; "Ah escrever sobre filmes é fácil". Como sempre fui humilhada neste sentido, fico incomodada quando associam meu nome ao cinema. O que é um absurdo, eu deveria sentir orgulho.

Sim, eu me sinto mesmo diminuída em relação aos jornalistas que cobrem economia, política, e afins. Eles fazem jornalismo de verdade, eu não. Talvez no fundo, bem lá no fundo, eu também ache fácil escrever sobre filmes e comidas, porque são assuntos que eu domino - mais filmes, do que comida, aliás. Sou capaz de escrever uma matéria sobre um determinado filme sem pesquisar, com riqueza de detalhes. Este é um mundo que sempre amei, que sempre tive contato e que eu tenho realmente algum conhecimento. Mas não é um mundo respeitado, o que me torna uma jornalista 'menor'.

Na real acho até que tenho vergonha de ser jornalista 'de cinema'. Eu realmente me sinto inferior aos meus colegas que fazem coberturas dos fatos, que são politizados, que entendem do que rola no controverso mundo sócio-econômico. E eu adorava trabalhar com economia, adorava entender o que acontecia fora do mundo encantado da TV. Estudei e aprendi muito como jornalista econômica, mas a cultura, que sempre foi um assunto confortável para mim, falou mais alto.

Acho que deveria ter orgulho de dominar um assunto tão complexo, mas o fato é que não tenho. Talvez porque a cultura hoje não passa de entretenimento; talvez porque eu sempre fui rebaixada por escrever sobre isso; talvez porque eu não me dê o devido valor. Não sei dizer. Só sei que os rótulos me incomodam, Prefiro ser apenas jornalista, repórter, daquelas que escrevem sobre qualquer assunto.

Não nego que cultura, especialmente cinema e gastronomia, e esportes são assuntos que domino. Mas preciso admitir que também sinto falta das pautas de economia e negócios, que volta e meio ainda faço. Eu sempre enxerguei o jornalismo com idealismo, e provavelmente é isso que me decepcione tanto. Meu idealismo foi para o ralo e só sobrou o lado raso das coisas.

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