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terça-feira, outubro 25, 2016


Hoje me sinto mais forte


Um dia meu tio disse: "Você ainda vai ter um bom emprego e ganhar muito dinheiro". Eu ri e respondi: "Isso nunca vai acontecer e esse nunca foi o meu objetivo". Deve ser assustador para as pessoas lidar com alguém sem perspectiva. Só que é a mais pura verdade: eu não ambiciono mais nada nesse mundo.

Quando eu trabalhava com publicidade, tinha sonhos e objetivos. Lutei por muitos anos para que as coisas dessem certo - ganhar os prêmios, trabalhar em agência grande, ser bem remunerada, não necessariamente nessa ordem. Isso nunca aconteceu - até consegui ter um salário razoável, mas trabalhava em uma agência desconhecida e sabia que estaria marcada para sempre como a publicitária que não deu certo.

Ao migrar para o jornalismo, deixei as ambições de lado. Nunca quis trabalhar em redação, na TV, na revista ou jornal esse ou aquele. Nunca esperei nada do jornalismo. Desde o começo eu sabia que teria que abrir mão da vida razoável que eu tinha como publicitária. Troquei o apartamento simples, mas legal, com que sempre sonhei por uma quitinete, diminui drasticamente o orçamento, cortei os encontros com os amigos, e vivi, por muitos anos, uma vida de provações.

Em troca, com o passar do tempo, o jornalismo me deu algumas matérias legais, e me abriu as portas de embarque para o mundo. Hoje, minha única ambição é uma pequena lista de lugares que ainda quero conhecer - mas que se eu não conhecer também, não tem problema. Se eu nunca for a Nova York não vai fazer diferença, porque já fui oito vezes a Veneza e estou no lucro.

Acredito que essa vida de sonhos que o mundo impõe - você tem que ter um objetivo, investir na sua carreira, crescer e aparecer - seja angustiante. Pelo menos para mim era, nos 12 anos em que a publicidade sugou essa minha energia. Hoje é muito mais simples viver sem expectativa. Não quero sucesso, não quero fama, não quero prêmios (é, jornalista também ganha prêmios, mas eu nem penso em concorrer por eles), só quero trabalhos que paguem minhas contas e me permitam ter uma vida digna.

Sei que escrevo bem, que poderia ter dado certo seguindo os padrões (trabalhar numa redação de veículo conhecido e assim me tornar famosa no meio), mas eu não quis. Simples assim. Não quis, não quero, não almejo isso. Deve ser complicado para o mundo entender, mas é assim que funciona para mim.

Como diz a música que eu adoro, ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais. Decidi não mais chorar e sofrer por ambições profissionais; abraço todo o trabalho que vem e sigo em frente. Por isso hoje me sinto mais forte, mas feliz quem sabe. O mundo jamais entenderá essa escolha, mas também eu não estou aqui para que o mundo me entenda.

A vida é curta demais para eu perder tempo com objetivos profissionais. Tudo é trabalho, e geralmente ele é cercado de falta de respeito e reconhecimento. Então seguimos o caminho sem expectativas, e o que vier será muito bem recebido.

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