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quarta-feira, novembro 25, 2015

Sou mulher sim, e daí?

Diz a lenda que minha mãe chorou muito quando descobriu que ia ter uma filha. "Mulher sofre", foi o que ela pensou na época. Passei boa parte da minha infância ouvindo que "ter filho é mais fácil" porque o mundo era cruel com as mulheres. Sempre odiei a ideia de que eu tinha que ser homem para que tudo fosse do jeito que eu queria. E talvez esse tenha sido o impulso para eu me tornar quem sou.

Não tinha jeito, nasci mulher. E fui criada para ser mulherzinha: pintar as unhas, ter cabelo grande, ser magrinha, casar, ter filhos e obedecer ao marido. Estudar até podia, mas não precisava ir muito longe. O importante era não ficar encalhada, afinal, como não tenho irmãos, seria sempre chamada de solteirona, nem poderia 'ficar pra titia'. Meu pai, curiosamente, dizia que eu devia estudar sim, porque casamento não era emprego. Como ele morreu quando eu era muito nova, fiquei sem entender porque ele e mamãe discordavam - ela achava que eu tinha que casar, ele não.

O tempo passou e eis que quando comecei a trabalhar percebi o quanto o mundo era mesmo cruel. Lá estava eu, 19 anos com corpo de 16 e cara de 15. Logo fiquei apavorada com aquela sensação de ser 'uma ovelha prestes a ser abatida'. Em um ambiente masculino como a publicidade, fui assediada mas nunca cedi. Eu sempre quis ser reconhecida pelo meu talento, jamais por qualquer outro motivo. Mas não pensem que eu ficava calada. Sempre denunciei os assédios. Comprava briga. E aprendi que precisava ser menos mulher e mais homem para tratá-los de igual para igual.

Virei aquela garota curta e grossa, que fecha a cara ao menor elogio físico. Detesto que um homem que mal me conhece coloque a mão em mim. Detesto perceber o cara olhando a minha roupa, ou o meu corpo, enquanto falo com ele. Detesto ouvir o que o cara acha de mim se eu nem tenho intimidade com o fulano para isso. Se nossa relação é profissional - ou de amizade - não dou liberdade para o fulano me achar bonita ou qualquer coisa do gênero. Guarde sua opinião para você porque tenho espelho e não preciso dela.

O tempo passou mais ainda, fui fazer jornalismo, já com muita estrada nas costas. Já era uma mulher de personalidade forte, e virava a mesa quando necessário. De repente percebi que era muito mais forte que a maioria dos homens que eu conhecia, porque eles insistiam em ser os machos alfas. Tédio. Mas eu precisava me comportar ainda dentro da sociedade machista. E ouvia de minhas amigas 'não pode sair com o cara e ficar no primeiro encontro', 'não pode demonstrar que está interessada', 'não pode ficar com mais de um cara'. Oi? Por que? Porque o mundo machista acha isso e as mulheres concordam. Chocada, quebrei alguns tabus e descobri que era melhor ficar sozinha do que mal acompanhada (e isso serve para pseudoamigos e namorados).

Você vai levando a vida mas volta e meia surge um homem para te tirar dos eixos. A conversa fiada é sempre a mesma, e o final da história também. Um grande amigo me disse que o cara tinha que ser muito homem para namorar comigo. E ele está certo. A grande maioria não é, porque querem mulherzinhas que possam servi-los, do tipo que adoram suas idiotices e aceitam suas limitações.

Mas tem o outro lado da história. Dos caras que afirmam adorar mulheres independentes e na hora H fogem. Sempre fogem, São covardes, percebem que as mulheres são melhores que eles (e eles não têm condições de bancar alguém que sobressai mais). Afinal, eles são tão medíocres em seus mundinhos que se surge uma fulana que veste saia, usa batom e ganha mais do que ele (ou viaja mais, ou trabalha mais, ou faz o que ele gostaria de fazer)... nossa, o cara não segura a onda. Arruma logo outra mais fácil de ser manipulada. Melhor para nós, esse seleto grupo de mulheres independentes que não precisa de um estorvo na vida.

O que a vida me ensinou é que eu vou ser o que eu quero ser independente de ser mulher. Sou mulher sim, qual o problema? Isso não dá a ninguém o direito me desrespeitar. No Dia Internacional de Combate à Violência Contra à Mulher é bom lembrar que mulheres se detonam entre si, e esse é um dos motivos das coisas serem como são. Então mães: não criem seus filhos para serem novos machistas. Vamos lembrar que somos todos seres humanos e vamos todos para o mesmo lugar - porque a morte, meus caros, chegará para cada um de nós.

E vocês, homens, aprendam que menos é mais. Menos 'passar a mão' sem conhecer a moça; menos 'convidar para um programa íntimo' sem ter intimidade; menos 'chamar de gostosa' quando a moça se quer deu liberdade para você falar isso; menos 'saio com várias mulheres' quando a garota nem te perguntou nada; menos 'expressar sua opinião sobre a inteligência ou não' da garota se não foi perguntado. Menos, homens do mundo, menos. Aprendam a respeitar as mulheres exatamente como vocês querem respeito para suas mães, avós e filhas (só para citar mulheres que a maioria do sexo masculino ainda expressa o mínimo de respeito).

Ah, sim, e aprendam também a beijar, a fazer sexo, a expressar carinho, a falar coisas legais para a mulher que está com vocês, e a entender que sim, existe mulher que também não está a fim de compromisso... porque queridos, o mundo mudou, e vocês estão precisando correr atrás do prejuízo. Sério. Algumas mulherzinhas até aceitam homens meia-boca, mas as mulheres de verdade passam longe desse tipo. Fica a dica.



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