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terça-feira, junho 23, 2015

O lado bom da vida


Está acontecendo agora o Festival de Cannes de Publicidade. Vendo os anúncios e parte da minha timeline do Facebook comentando, me perguntei: como um dia eu fiz parte de tudo aquilo?

Olho para o meu portfólio e tenho orgulho da redatora que sou (não digo que fui, sou ainda, porque a publicidade, de certa forma, mora em mim). Mas eu tenho muito mais orgulho da jornalista que sou. Eu passei muitos anos trabalhando dentro de agências de publicidade, e tendo a certeza de que aquele mundo me pertencia. Só tinha amigos publicitários, só frequentava festas publicitárias, tudo era em torno da publicidade. E eu adorava. Lembro com saudades de muitos bons momentos, pessoais e profissionais, que envolviam esse fantástico e particular mundo que é a propaganda.

Mas tinha um outro lado que me incomodava. Aquela necessidade absurda de ganhar prêmios, de ver e ser visto, de ter seu nome vinculado a uma grande agência senão você caia no ostracismo. Isso me deixava amargurada. Eu lutava de todo jeito para trabalhar em uma agência que me desse visibilidade, mas nunca conseguia. Por que?

Porque não era o meu lugar. Por muitos anos eu achei que fosse, mas não era. E quando as opiniões de que meu texto era 'jornalístico demais' ficaram muito rotineiras, eu resolvi que ia mudar. Eu cansei daquela vida de tentativas em vão e joguei tudo para o alto. Fui fazer jornalismo, e tive o apoio de poucos, mas bons amigos. E quando as portas da publicidade se fecharam para mim, as do jornalismo se abriram de forma muito interessante: e desde então eu construí um caminho que eu nunca imaginei que poderia traçar para minha vida.

Outro dia um amigo que trabalhou comigo em meu primeiro emprego em São Paulo disse que eu sou muito superior a Janaina que ele conheceu. Fiquei muito feliz com essa observação, porque aquela Janaina que chegou em São Paulo em 2001 era uma garota assustada, que tinha certeza que iria vencer na vida como publicitária, que moraria só cinco anos em São Paulo e voltaria realizada para o Rio. A jornada foi tão dura, tão cheia de tropeços e desilusões mas, principalmente, de surpresas! Eis que 14 anos depois eu sou outra pessoa sim, embora a essência não tenha mudado, porque sei exatamente de onde vim e o que passei para estar aqui.

Eu lembro de todas as pessoas que me fecharam as portas, que disseram na minha cara para eu desistir, que tinham certeza que tudo daria errado. Assim como eu lembro de cada um que me estendeu a mão quando eu precisei.  Eu estive tantas vezes no fundo do poço, e eu nem sei como tive forçar para sair dele. Mas eu sai e, acima de tudo, me considero uma sobrevivente. E sou grata a todos que me ajudaram e me apoiaram, porque a luta sempre foi muito árdua e eu nunca estive sozinha nela.

Outro dia também me perguntaram como eu conseguia ser a pessoa que sou. Achei a pergunta curiosa. Acho impossível alguém ser como eu porque, sem falsa modéstia, eu sou única. Acho que na vida poucas pessoas teriam a coragem de mudar a vida duas vezes como eu fiz. Sair do conforto da casa da mãe no Rio de Janeiro para se aventurar em São Paulo sem emprego, sem lugar para morar, sem amigos. E depois de alguns anos lutando, e quando finalmente a vida estava estabilizada, morando em um bom apartamento e com um emprego legal, jogar tudo para o alto e mudar de profissão. Pior: passar a ganhar apenas 30% do que ganhava e se endividar por anos, até ser recompensada com o bem maior: um mundo inteiro de descobertas por meio da palavra e das viagens.

Sim, a maior recompensa da minha vida foi o dia que Deus colocou no meu caminho o cinema e as viagens. Eu nunca imaginei isso, eu não planejei, mas Ele me deu esse presente. Claro que foi tudo difícil como sempre, e óbvio que tinham - e ainda têm - pessoas pouco confiáveis no caminho, mas foi a mudança de rumo mais incrível da minha vida.

A vida continua complicada. Bom saber que algumas pessoas queridas, do tempos de publicidade e do início do jornalismo, ainda estão nela. Pessoas que me viram crescer, evoluir, mudar, ser uma outra Janaina. Uma Janaina melhor, uma Janaina que só eu consigo ser. Porque na vida é preciso muita coragem para ser eu. É preciso um querer maior, uma vontade infinita, uma força que nem eu sei de onde vem. É preciso muita lágrima e muito sorriso; muito ombro amigo; um coração partido e a tentativa de sempre seguir em frente sem olhar para trás.

Uma coisa que acho curiosa é como eu tenho bons amigos que me acompanham ao longo desses anos. Alguns eu não vejo com frequência, por conta da distância e das circunstâncias da vida, mas todos são presentes. Todos estão ali torcendo, incentivando e dispostos a ter um gesto de afeto quando eu preciso. E eu tenho plena consciência que sou uma pessoa bem complexa de lidar, mas ainda assim as pessoas gostam de mim. Ainda assim eu tenho amigos capazes de dizer coisas como 'eu queria tirar essa dor que você sente agora com as minhas próprias mãos' ou 'eu me preocupo com você' ou 'eu quero apenas que você fique bem'. Eu não sei o que seria de mim sem essas pessoas, a grande maioria tão diferente de mim, mas que  me aceitaram como eu sou, com todas as minhas imperfeições, e souberam perceber que mesmo sendo tão complexa, eu tenho o maior coração do mundo. E neste coração há sempre espaço para quem me quer bem.

Assim como muita gente querida continua comigo, algumas pessoas que eu julgava importantes sumiram com o tempo. E neste lento mais iluminado caminho, Deus sabia, de alguma forma, que eu tinha que escolher entre o mundo e a vida pacata que sonharam para mim. Eu escolhi o mundo. E nada nem ninguém tira isso de mim. E ser Janaina é isso: é cair várias vezes, levantar em todas, é nunca desistir, é aproveitar os momentos de felicidade porque a tristeza é certa. Mas, ainda bem, ela também é passageira na minha jornada. Porque de permanente aqui só mesmo a coragem de viver como se não houvesse amanhã.

Por tudo isso o único conselho que posso dar é ache seu lugar no mundo. Arrisque. Seja ousado. Faça o que tem que ser feito, e se o que tem que ser feito implica em mudar de cidade, de país, de casa, de emprego, faça. Faça porque o amanhã pode nunca chegar. E se tudo der errado, pelo menos você tentou. Mas eu acho que quando é de verdade, quando é o seu lugar mesmo, tudo dá certo. Ou, como alguém que já não está mais nesse plano espiritual me disse uma vez: já deu certo. Só não aconteceu ainda.

Porque para quem tenta, vai dar certo sempre. E para quem fica parado esperando as coisas acontecerem, ou cheio de dúvidas e incertezas... já deu errado faz tempo.



Comentários
E eu que vi você tão menina, tão nova e já tão guerreira e cheia de vontade, de força e de disposição. Parabéns pelo que já trilhou, parabéns por tudo que vem pela frente. O resto é ensinamentos! Beijo de sua fã, Paty!
 
Que texto maravilhoso Jana. Que Deus te abencoe muito mais, com oportunidades,viagens, saúde,amigos e com uma vida longa. Bjs Ivy
 
Que texto maravilhoso Jana. Que Deus te abencoe muito mais, com oportunidades,viagens, saúde,amigos e com uma vida longa. Bjs Ivy
 
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