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terça-feira, abril 07, 2015

Dia do Jornalista


Eu queria muito que hoje fosse um dia para comemorar. Mas não é. Eu fiz uma escolha, e estou naquela fase de me perguntar: valeu a pena?

Eu era publicitária. Passei alguns anos ouvindo que meu texto era jornalístico demais. Lutava para ir a Cannes, fazia peças fantasmas para renovar o portfólio, ia a todos os eventos, e nada disso adiantou. Talvez eu não tivesse tanto talento. Talvez não fosse minha praia. Mas eu tentei, por um bom tempo, até o dia em que cansei.

Veio o jornalismo. As portas se abriram para mim. Passei a ganhar 30% do que recebia como publicitária, e foram pelo menos quatro anos com a conta bancária no vermelho. Precisei morar num local mais simples e menor; abri mão de muita coisa e, em troca, ganhei a oportunidade de trabalhar com cinema.

Viajei, conheci gente, fiz matérias legais. Mas o dinheiro, que é necessário para sobreviver, não vem. Abri outras portas, fui atrás de outras possibilidades. E quando parecia tudo tranquilo, quando finalmente a vida tinha um rumo... vem a tempestade e destrói meu castelo - que sim, era de areia.

Aí começa tudo de novo. Manda currículo, fala com as pessoas, contatos daqui e dali; sugestões de pauta, cadastro em sites de emprego, e nada acontece. Ouço coisas como ' você só viaja'; 'eu não sei o que você faz da vida'; 'freelancer não tem emprego'; 'você trabalha com cinema e deve ganhar bem'.

Às vezes dá uma vontade imensa de mandar todo mundo a merda. De simplesmente sumir e nunca mais voltar. Eu só não faço isso porque existe uma pessoa que ainda se importa comigo, e ela depende emocionalmente de mim. Mas, sinceramente, achar que minha vida se resume a tapetes vermelhos é não entender a pessoa que sou e a profissional que me tornei.

Fazia tempo que eu não chorava. Fazia tempo que eu não me sentia tão triste.Fazia tempo que o Dia do Jornalista não significava apenas um gosto amargo.

Só para esclarecer: eu trabalho. Muito. Eu sou competente. Eu sei que sou boa profissional, escrevo bem, tenho talento para exercer a minha profissão. Escolhi o home office para ter mais qualidade de vida e ganhar um pouco mais, já que jornalista é pobre por natureza. Foi isso que me possibilitou conhecer os lugares que conheço hoje e ser uma jornalista melhor.

Sinto muito se não sou a 'funcionária padrão de carteira assinada' que as pessoas acham que todo mundo tem que ser. E exatamente por isso não tenho como comemorar o Dia do Jornalista. Porque quero ter aquilo que mais prezo no jornalismo: a liberdade de expressão. Quero trabalhar sim, muito, home office ou não, quem sabe, mas que ter a liberdade de me expressar na profissão que escolhi. E se as pessoas não entendem a minha escolha, só lamento.



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