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domingo, outubro 13, 2013

Cinema - como tudo começou


Descobri o cinema aos 4 anos, quando uma amiga da minha mãe me levou para ver Os Trapalhões no Planeta dos Macacos. Aos 8, graças ao ET de Steven Spielberg, eu me apaixonei de vez pelo cinema. Devo esse amor ao Spielberg, e todos os filmes que ele produziu nos anos 1980, porque foi ali que o cinema se tornou a minha maior diversão.

Fiz minha primeira crítica aos 12 anos, mas nunca imaginei trabalhar com isso. Nunca pensei em escrever roteiro ou dirigir um filme. Quando fui fazer vestibular, lembro das minhas colegas de colégio surpresas porque eu não ia fazer Cinema na UFF. Eu queria estudar publicidade ou jornalismo. Cinema nunca foi uma opção. Nunca pensei em ser cineasta, e não fui trabalhar como jornalista de cinema por ser uma cineasta frustrada! Não! Isso não fazia parte dos meus planos. Entrevistar artistas então, nem pensar! Mas quando a oportunidade surgiu, eu agarrei com unhas e dentes e mudei completamente a minha vida. O ano era 2008, eu trabalhava com jornalismo econômico e tive a chance de continuar nesta área - que eu adorava - e ainda escrever sobre cinema. Aceitei, mesmo sabendo que meu destino seria ganhar pouco e trabalhar muito.

De lá para cá, tudo foi muito rápido. Da primeira coletiva internacional - Rio, 2009, Hugh Jackman - ao primeiro festival internacional fora do Brasil - Veneza, 2010 - o tempo passou voando e a vida foi generosa comigo. Lembro bem do dia que recebi a resposta da minha primeira viagem a Veneza: fiquei tão atordoada que mal sentia meus pés no chão. Tive sim oportunidades de trabalhar somente com cinema, mas pelas circunstâncias da vida isso não foi possível. Hoje trabalho com muitas coisas - cultura, moda, gastronomia, turismo, e ainda economia! - mas o cinema é o assunto que eu mais gosto, não tenho como negar.

Mais do que ver filmes, gosto de conhecer as pessoas por trás dos filmes. Prefiro entrevistar diretores, porque eles sempre têm algo a me dizer, e normalmente são pessoas interessantes, com um olhar particular para  vida. São mais fáceis de lidar, mais acessíveis e de todos que entrevistei até hoje, só um foi mal humorado - então meu saldo é positivo. Atores quase sempre incorporam um papel até na hora da entrevista - muitos não saem do personagem e se fecham diante dos jornalistas. Tem ainda um grupo de atores que são focados demais no que fazem, e o jornalista extrai tudo que consegue sobre aquele momento de sua vida - e só. Todo o resto, o passado e o futuro do ator, são incógnitas. Ainda assim, minha entrevista de maior sucesso é com um ator - Michael Fassbander. Tenho orgulho de ter entrevistado Fassy no momento que o mundo o descobria - e eu lutei muito por essa entrevista, feita no Festival de San Sebastian (2011). O filme dele na época - Shame, do Steve McQueen - nem tinha sido vendido para o Brasil, mas o meu feeling dizia que eu deveria apostar naquele ator. E deu muito certo - a entrevista, a publicação e a repercussão. E Fassbender é um caso raro de ator legal para se entrevistar, centrado, inteligente, educado.

Uma atriz que me surpreendeu em sua entrevista foi Glenn Close. Sua doçura - que contrasta com suas personagens - é marcante. Mas nada nem ninguém se comparar a Meryl Streep. Depois que a conheci, tive a certeza de que nenhum outro artista poderia superá-la - vai ser difícil achar uma pessoa tão humilde mesmo sendo uma estrela.

Em todos esses anos foram muitas coletivas, junkets, exclusivas, roundtables, festivais. Há uma cobrança - imensa - para que eu vá ao Festival de Cannes, o maior do mundo. Mas eu, como freelancer, tenho dificuldades de vender esta pauta, que é muito concorrida. Claro que, por mim, eu iria a todos os festivais de cinema, inclusive no Brasil, mas as coisas são bem mais complicadas do que parecem. Porém, não posso me queixar - tenho o privilégio de cobrir festivais de cinema nas duas cidades mais lindas do mundo - Veneza e Rio - o que mais posso querer? (ok, eu quero mais, mas não depende só de mim!)

O curioso nisso tudo é que não consigo mais cobrir a Mostra de Cinema na cidade que escolhi para morar. Em São Paulo, onde cobri a Mostra até 2011, tive minha credencial negada ano passado, e hoje prefiro cobrir outros eventos cinematográficos na cidade, como a Mostra dos Direitos Humanos e a Semana do Cinema Italiano.

Então se você acha que é glamouroso cobrir um festival de cinema, saiba que eu trabalho até 20 horas por dia (em Veneza ou no Rio), para atender as minhas próprias exigências: ver os filmes, pesquisar sobre os diretores, atores e produtores, fazer as entrevistas (na maioria das vezes são internacionais, ou seja, mais cansativas porque tenho que falar em outras línguas), decupar as gravações (e quando o gravador apaga tudo, hein?), escrever as matérias (como também trabalho para sites, preciso fazer textos diários), atender todas as pautas (sou freelancer, trabalho para mais de um veículo), correr atrás dos furos de reportagem. Em Festival de Cinema eu trabalho muito mais do que em meu dia a dia, sou muito mais exigente comigo, preciso muito mais que as coisas funcionem bem - e quando não funcionam, preciso de jogo de cintura para contornar tudo. Procuro estabelecer um dia de folga para ir à praia - a minha válvula de escape - mas nem sempre isso é possível  (no Festival de Berlim, com frio de lascar, me permiti passear pela cidade em um dia de muita neve).

O trabalho nem sempre tem reconhecimento ou elogios - e para os entrevistados, eu sou só mais uma jornalista que senta na frente deles com um gravador e muitas perguntas. O resultado - nem sempre o entrevistado é interessante, mas é minha obrigação que o texto seja bacana - tem que levar a audiência a pelo menos ler e se interessar pelas minhas palavras. Eu vi o filme, eu entrevistei quem o fez ou o dirigiu, e eu vou escrever o que tudo aquilo representa. É muita responsabilidade, por isso quando eu gosto de um filme eu 'vendo' como se fosse meu; eu indico mesmo, eu faço marketing. Se eu não gosto, porém, não estou aqui para detonar e impedir as pessoas de ver o filme - tem gosto para tudo, eu simplesmente não gostei mas não quer dizer que os outros vão detestar.

Eu sou muito honesta com meu trabalho, com meus editores e com os leitores. Isso é a base de tudo, tenho ética e transparência em tudo que faço nesta vida. Mas, confesso, mesmo amando cinema,  é muito difícil trabalhar nesse meio. Só com muito amor para suportar as puxadas de tapete e as dificuldades. E, só para deixar claro: não sou crítica de cinema. Sou uma jornalista que cobre (e gosta de) cinema.

Nem todos os filmes terminam com final feliz, mas minha história com o cinema já teve tantos capítulos incríveis que, para mim, é uma história de amor que deu certo. Mesmo que a gente se veja bem menos do que gostaria, mesmo que eu precise flertar com outras áreas. Tudo que eu escrevo sobre cinema e sobre as pessoas que trabalham com ele, tem a ver com amor. Tem a ver com sensibilidade e gostar realmente do que se faz. Tem a ver com respeitar o trabalho dos outros, e ter o meu respeitado também. Não é por glamour, para conhecer artistas, pisar em tapetes vermelhos, pegar autógrafos ou pedir fotos. É trabalho, feito com dignidade e muita paixão.







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