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sábado, junho 09, 2012

No País das Maravilhas


Você não pode mais chorar. A você foi negado o direito de reclamar, ficar triste, ter problemas, gritar, ficar chateado, calar-se, querer ficar sozinho por um tempo. Você não pode mais sentir dor, mágoa, frustração, raiva. Você não tem direito a sentimentos ruins, ficar de baixo astral então, nem pensar.

Caso você viole essa lei imposta pela sociedade, que agora vive num mundinho cor de rosa perfeito, você corre o risco de ser banido para sempre. Você não terá mais amigos, porque virou uma pessoa chata. Você não conseguirá ninguém para te ouvir, porque está sempre sendo negativo. Você se isolará de todos, afinal, os outros são alegres, felizes e contentes, não têm problemas e não sofrem, e você é que vive achando a vida um saco.

Você não tem direito também a querer ficar quietinho no seu canto. Por uns dias, por um mês, por um ano... a vida é sua e os problemas são seus, mas se você resolver não agir e não dar a volta por cima... nossa! Você será amaldiçoado por toda a eternidade por essas pessoas que, uau, são tão perfeitas.

Porque o mundo te julga sem dó nem piedade. As pessoas não querem saber o que aconteceu, elas só dizem 'isso passa' e exigem que você siga em frente sem olhar para trás. Elas não estão preocupadas com você, elas querem apenas que você pare de se lamentar para que não precisem ficar ouvindo suas reclamações e dores. Isso faz mal, não é? Faz mal para quem? Para a pessoa que ouve, claro, afinal ela é tão ocupada!

As pessoas não têm tempo de perguntar como você está porque elas são muito ocupadas. Estão sempre ocupadas, não é mesmo? Mas são capazes de twitar ou deixar mensagem no Facebook falando de seus feitos, suas glórias, seus momentos importantes, seus 15 minutos de fama. Esse tempo que elas perdem falando de si mesmas poderia servir para mandar um email ou uma mensagem - nem falo em ligar porque isso já não existe né? - para saber se o outro está melhor. Mas para que fazer isso? Nos dias de hoje o outro não importa. Só importa a própria pessoa. Aliás, o outro importa sim, quando ele pode ser um bom contato, quando ele pode ser usado para algo que for conveniente.

Ah, o ser humano... tão correto, tão íntegro e tão sensato nos dias de hoje! Se preocupa com os outros sim, na hora de xeretar as redes sociais e fazer fofoca. Se preocupa em agir sempre em seu próprio benefício. Se preocupa em fazer as coisas para ganhar alguma vantagem com elas.

Eu sou muito objetiva em relação a amizade. Existem aqueles em que confio muito, os que confio um pouco e os que eu nunca confiei. Existem os que eu sei que gostam de mim, o que gostam de mim porque é conveniente, e os que não gostam de mim mas são obrigados a me suportar. Então existem os meus amigos e aqueles que acham que são meus amigos.

E nas duas categorias as pessoas passam dos limites. Elas tomam liberades que não gosto. Elas falam o que pensam, acham que estão dando conselho e fazem questão de dizer como eu devo agir em determinada situação. Eu pedi ajuda? Eu pedi alguma coisa? Então fica na sua. Se eu perguntar, responde, mas se eu não perguntar, não fale também. Qualquer decisão que eu vou tomar na minha vida só diz respeito a mim. Por que a vida é minha, certo?

Eu não tenho paciência para as pessoas. Algumas até alteram o tom de voz para mostrar que eu estou errada! Puxa, e desde quanto se tornaram os donos da verdade? Francamente, é por isso que eu me afasto de gente que adora ficar dando pitaco na vida dos outros.

Fça um favor a si mesmo - já que não consegue fazer um favor para mim nem ninguém: cuida da sua vida, da sua casa, do seu trabalho. Não se mete onde não foi chamada. Se alguém está com problemas, quer desabafar e você não está a fim de ouvir, deixa a pessoa de lado. Aliás ando preferindo mais os que ignoram meus emails do que aqueles que adoram ficar me dando conselhos. Se você não consegue apenas ouvir mantendo a sua boca fechada, então não ouça.

A palavra vale prata, mas o silêncio vale ouro. Aprenda que, no seu País das Maravilhas, eu não sou habitante. Meu mundo é real, cheio de dores e tristezas. Eu sou do tipo que ainda chora quando alguém morre, que sente a ausência e que vive o luto. Eu não sei quanto tempo isso vai demorar para passar, e eu não fico me perguntando isso. E se hoje eu acho o mundo uma merda, é um direito que eu tenho. E ninguém tem nada a ver com isso.

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