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domingo, novembro 07, 2010

O herói morre no fim



Na quinta-feira, dia 4, assisti ao filme-documentário sobre Ayrton Senna. Todo mundo sabe que sou fã do Ayrton desde criança. Meu pai sempre gostou de Fórmula-1, e quando o Ayrton começou, em 1984, meu pai disse: “Esse cara vai ser o melhor do mundo.”

Papai tinha razão. Foram 11 temporadas torcendo pelo Ayrton até a trágica morte dele, no GP de Ímola, em 1994. Todo mundo sabe quem foi Ayrton Senna, mas talvez as novas gerações – aqueles que eram crianças quando ele morreu e os que nasceram depois de sua morte – não tenham ideia do significado real de Senna para o esporte, para o Brasil e para o mundo.

Em um resgate do que foi e do que ainda representa Ayrton Senna, o filme Senna, de Asif Kapadia, pode ser considerado uma homenagem ao piloto, que estaria com 50 anos se estivesse vivo. Mas a produção vai além disso: Senna traz à tona alguns podres da Fórmula-1 e mostra a força de Ayrton fora das pistas – força que era comentada na época, e que agora é constatada.

Senna, o filme, não pretende polemizar em relação à vida pessoal do piloto. Embora mostre imagens inéditas de Ayrton com a família, apenas reforça a lembrança que todos têm dele: um cara tranqüilo, gente boa, simpático, simples. O Ayrton Senna piloto, porém, é apresentado de forma um pouco diferente. A garra e o perfeccionismo, marcas registradas dele, ficam ainda mais evidentes nas imagens de Ayrton fora das pistas. Foi nas articulações dos bastidores da F-1 que ele fez muita diferença, se tornando líder e tentando mudar aquilo que não poderia ser mudado.

As brigas com o francês Alain Prost ocupam boa parte do filme, com as clássicas farpas que um trocava com o outro. Prost, no entanto, não é o vilão da história. O vilão mesmo é o sistema ditatorial da F-1, na época sob o comando de Jean –Marie Ballestre, o calcanhar de Aquiles de Ayrton.

As imagens de Senna batendo de frente com Ballestre são mostradas pela primeira vez. Lá nos anos 1990, tudo que sabíamos é que eles não se davam bem e Ballestre fazia de tudo para prejudicar Ayrton. Agora o filme mostra imagens inéditas das reuniões de piloto, onde Ballestre se colocava como o único dono da verdade. Destaque para a sequência em que até Nelson Piquet – que nunca gostou de Senna – defende o brasileiro em uma reunião e Ayrton, contrariado com os rumos dos bastidores do ‘circo’, abandona a sala revoltado com as normas impostas pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo).

O filme ainda esclarece alguns pontos nebulosos da carreira de Senna – sim, ele ganhou o título de 1989 e por politicagem não levou; sim, ele desconfiava das maracutaias da Benetton de Flávio Briatore já em 1994 mas a Williams não fez nada em defesa do Ayrton. Ou seja, tudo que a gente sabia agora é comprovado com imagens e declarações de pessoas influentes no ‘circo’ da F-1.

Senna, o filme, é um documentário com linguagem ficcional, opção do roteirista e produtor Manish Pandey, fã de Ayrton. A história de Ayrton Senna é contada do ponto de vista do piloto brasileiro, com depoimentos de algumas pessoas importantes na carreira de Senna, como Ron Dennis, o todo-poderoso da McLaren, e Sid Watkins, médico da F-1 que se tornou um dos melhores amigos de Ayrton no ‘circo’. Esses depoimentos, no entanto, só aparecem em off.

Três corridas fundamentais para a criação do mito Ayrton Senna ganharam destaque: o GP de Mônaco de 1984, em que Senna ganharia a prova se não tivessem terminado ela antes do previsto; o GP do Japão de 1988, em que o carro dele morreu na largada, ele caiu da pole para a 12ª posição e foi passando carro por carro para conquistar seu primeiro título; e o GP Brasil de 1991, primeira vitória de Ayrton no País que fez dele um herói nacional.

O heroísmo de Senna, aliás, é o grande foco do filme. Cada gesto de bravura, cada luta contra o sistema, cada vitória são apresentados como parte das conquistas de um homem comum, como qualquer um de nós, que só queria fazer o que gosta: correr.

Dentro e fora das pistas Ayrton Senna construiu sua vida como aquele que ressurgia das cinzas, que não se deixava abater, que não desistia jamais. Mais brasileiro do que isso, impossível. É esse lado heróico que o filme reforça, sem dar margem para dúvidas sobre quem é o melhor piloto de F-1 de todos os tempos. Porque Senna não foi, ele é, sempre e para sempre, o melhor.

Senna, o filme, estreia nesta sexta, dia 12, em 120 salas de cinema de todo o Brasil. Na verdade é a história de um cara que venceu na vida mas pagou um preço alto para isso. O herói morre no fim, mas suas conquistas são eternas, assim como as boas lembranças que tenho dele.

E, no final das contas, tudo que sinto é muita saudade daquelas manhãs de domingo.



Janaina Pereira

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