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terça-feira, janeiro 26, 2010

Porque eu gosto tanto do Clint Eastwood



Clint Eastwood é um dos meus cinco diretores preferidos - ao lado de Almodóvar, Tim Burton, Spielberg e Hitchcock. Não lembro de nenhum filme dele que eu não tenha gostado. Fazendo comparações, prefiro Sobre meninos e lobos a Menina de Ouro, por exemplo. Mas gosto de todas as produções que ele dirigiu. Assisti hoje seu mais recente filme, Invictus, que estreia sexta dia 29, cheia de expectativas. E ele manteve seu alto grau de popularidade comigo. Mais uma vez, Clint faz um filme sincero, sensível, com aquele jeitinho doce que ele tem para dirigir grandes histórias - e fazer delas grandes filmes.

Para dar um charme a mais ao filme, ele retoma a parceria com um dos maiores atores americanos de todos os tempos, Morgan Freeman - juntos eles fizeram Os Imperdoáveis e o já citado Menina de Ouro. Só que em Invictus Freeman é simplesmente Nelson Mandela. Preciso dizer mais alguma coisa?

Pois é, mas eu vou falar. O filme retrata o início do governo de Mandela na África do Sul. Você se lembra como era? Eu lembro bem: um país dividido entre negros e brancos, onde havia ainda muita segregação racial e uma fome de vingança pelos que estavam oprimidos durante o apartheid. Para diminuir essa diferença, Mandela viu uma grande oportunidade no rugby, esporte praticado no país.

Com a proximidade da Copa do Mundo de rugby, que seria disputada por lá, o presidente procurou se aproximar do jovem capitão da seleção africana, o loiríssmo François (Matt Damon, praticamente o sósia do personagem de desenho animado He-man). O objetivo de Mandela era encorajar os jogadores e fazer com que o time tivesse chances reais de ganhar o torneio - e aí Clint dá um olhar crítico bastante sutil para a dobradinha política e esporte, afinal, sabemos bem o quanto políticos se aproveitam do esporte para encobrir podres e situações extremistas, como a ditadura, por exemplo.

Para dar força ao time, Mandela usa o texto Invictuous, de William Ernest Henley, que ele mesmo lia no período em que ficou preso. O poema tem frase forte no final: ”Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma”. Impossível não absorver a mensagem embutida nestas palavras.

O ponto alto do longa é a parte final, com o jogo decisivo da seleção africana na Copa. Eastwood mostra todo seu potencial de diretor fazendo cenas primorosas, usando a câmera lenta e o som como aliados. O que se vê na tela é uma verdadeira batalha, onde homens dão suas vidas - e suas almas - para, mais do que vencer um jogo, reconstruir um país. Lindo, emocionante e uma aula de direção.

Claro que nenhuma cena seria tão grandiosa se os dois atores principais não tivessem nascido para os papéis que representam em Invictus. Morgan Freeman como Nelson Mandela - ele foi escolhido pessoalmente pelo presidente para interpretá-lo - é impecável, e por vezes confundimos o ator com o próprio Mandela. Já o capitão François Pienaar é interpretado por um Matt Damon forte na aparência, como o personagem exige, e carregado de emoção numa atuação inesquecível.

Vale resaltar que Mandela não é santo - embora a mídia tentasse, por muitos anos, vender essa imagem do presidente africano. E Clint, com sua habitual elegância, dá as dicas do comportamento contraditório de um personagem mundialmente popular: as (poucas) cenas familiares e um Mandela xavequeiro mostram que ele não é flor que se cheire. Nada que comprometa a imagem carismática do presidente, mas dá uma arranhadinha básica. Ou, como diz um de seus seguranças no filme, "ele (Mandela) também é gente e tem problemas de gente."

Os atores, o diretor e o filme estão concorrendo a vários prêmios na temporada pré-Oscar, mas infelizmente não levaram muita coisa até agora. Freeman ganhou alguns merecidos prêmios como ator, mas na reta final parece que Invictus está implodindo nas premiações. Não se deixe levar por isso: o filme merece ser visto e apreciado como espetáculo cinematográfico que é.

E Clint, ah, Clint é um diretor de milhares de recursos, um cavalheiro atrás das câmeras, um cineasta que brinca com as emoções do espetctador como poucas vezes vi na vida. Vida longa para Clint Eastwood e seus filmes extraordinários.



Janaina Pereira

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