<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Eu sou uma drag queen


Assisti ontem ao filme Amor sem Escalas, que estreia no dia 22. Sabe o novo filme do George Clooney? Pois é, esse mesmo. Aquele que ia ganhar o Globo de Ouro, que era um dos favoritos ao Oscar mas está perdendo fôlego. Justamente, o próprio.

Confesso que, até quase o final, eu estava gostando do filme mas sem achar a tal faísca brilhante que o fazia ser tão comentado. George Clooney interpretando ele mesmo - charmoso, carismático, praticamente irresistível com aquela risadinha que não mostra os dentes, 'odeio' homens que fazem isso! - não me entusiasmava com sua perfomace nem tão digna de prêmios e tal. Ai uma cena, uma única cena, e eu me rendi: o filme é bom pacas.

Pior foi descobrir que sou o Ryan, o personagem de Clooney. O cara não pensa em casar, nem em ter filhos muito menos em assumir um compromisso real (de acordo com os padrões da sociedade), porque o real dele é cada um na sua. Ele não se preocupa em comprar uma casa, ter bens, nada. Ele não quer se comprometer, simples assim. E todo mundo questiona esse jeito tão peculiar, aparentemente solitário, mas que foi uma escolha dele. E a vida é feita de escolhas, não?

Fiquei me perguntando como sou masculina nesse ponto. As mulheres são obrigadas a assumirem esse papel de 'mãe e esposa' que a sociedade impõe - e quem foge dos padrões está lascada. Se um homem quer ser solteiro por toda a vida, pode ouvir aqui e ali mas passa. A mulher não. Ela é defeituosa porque não tem filhos, incompleta porque não casou, imatura porque não assumiu a responsabilidade de construir uma família.

Caramba, que injusto. Eu me sustento sozinha, tenho uma casa para cuidar, uma vida para administrar e não sou responsável? Francamente. Não preciso casar e ter filhos para ser adulta. Eu cresci faz tempo e não tenho que provar nada a ninguém.

O filme acabou me conquistando por mostrar situações tão comuns hoje - o isolamento humano, a tecnologia substituindo pessoas, o individualismo exagerado. E de repente percebi que as minhas roupas coloridas disfarçam bem o que realmente eu sou: um homem. Mas como gosto de homens, então sou gay. Mas como não sou gay, então sou uma drag queen.

Muito complexo isso. Eu só fiz uma escolha (que não é mudança de sexo), talvez eu me arrependa dela algum dia e quando voltar nesta decisão... poderá ser tarde demais. Mas até o momento eu não me arrependo de nada. Acho que não me apegar às pessoas, aos lugares e ao mundo que me cerca foi a melhor maneira de me proteger do inevitável: é bom ter companhia, mas no final da história você morre só.

É assim que vai ser, e ninguém poderá mudar isso. Eu não era assim, mas depois de morar em São Paulo eu fiquei muito seletiva, praticamente me isolando e evitando qualquer coisa que me comprometa. Ok, pode ser uma válvula de escape, pode ser que lá no fundo eu queira jogar tudo para o alto e ir ao encontro daquela vida supostamente feliz ao lado do suposto homem da minha vida. Mas isso é utópico. Não existe o homem da minha vida. Existe a minha vida e quem quiser me acompanhar nela.

Nossa, eu sou mesmo o Ryan do filme. Medo.


Janaina Pereira

Comentários
Adorei, Jana! Às vezes eu me sinto meio homenzinho também. Preciso ver este filme! hehehe
 
Jana, adorei.

O q acontece é que o mundo é machista e preconceituoso com tudo. Mulher acima dos trinta sem casar, é encalhada - sem ter filhos, é seca - e sem namorado (homem) é lésbica. Agora se ela arruma um namorado mais novo, é interesse (dele claro).
Já o homem nessas situações ainda é chamado de "O CARA". Fala sério!!!

p.s: Eu "ainda" espero encontrar um amor pra toda vida. Pq a vida é melhor com companhia. (vi o trailler)
+ "perfect man" definitivamente não existe...
 
Postar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?