sexta-feira, dezembro 11, 2009
Traficantes do Asfalto
Acabo de assistir Tropa de Elite. Tá, eu sei, estou atrasada. Mas tenho esse defeito, odeio filmes do tipo 'espreme e sai sangue'. Nunca vi Carandiru e Cidade de Deus até o fim - e não tenho nada contra o Meirelles, pelo contrário, adoro o segundo filme dele, O Jardineiro Fiel.
Quando Tropa de Elite bombou nos cinemas, eu achei que era mais um filme de 'polícia e bandido' e não quis ver. Mesmo o prêmio em Berlim 2008 não me empolgou. Mas como o longa ia passar ontem na TV, eu parei para assistir. E adorei.
O filme me ganhou por um motivo muito simples: o roteiro - muito bem escrito, por sinal - coloca a classe média como uma das principais responsáveis pelo tráfico de drogas do Rio. Eu sempre falo isso, digo que são os mauricinhos e patricinhas da Zona Sul carioca quem bancam o tráfico. E lá está, estampado para todo mundo ver, em cenas bem chocantes do filme, o que esse povo faz.
Só por isso o filme já vale. Mas tem mais. Tem o Wagner Moura dando show como o Capitão Nacimento - que não é corrupto mas adora uma tortura. É assim mesmo que funciona. No Rio não há vilões e mocinhos: polícia e bandido estão ali defendendo o que é seu. Sobra para inocentes, claro, e o filme apresenta isso muito bem.
Tropa de Elite ainda aponta como um policial pode ficar feroz facilmente, como o Rio está dominado pelo tráfico e como a burguesia praiana é alienada e escrota. Muito fácil ver o mundo da janela do Leblon e subir o morro para rebolar em baile funk e comprar um baseado. O filme esfrega isso na cara e - é péssimo dizer isso, mas é verdade - como eu vi algumas pessoas que conheço ali, entre os bem-nascidos que são usuários de maconha e acham que não fazem mal a ninguém. Claro, a fumaça da maconha e a cocaína escorrendo no nariz impedem esse povo de enxergar a merda em que se meteram.
Outra cena impressionante é a morte de um dos 'agentes sociais' da ONG localizada no morro. A cena repete a morte do jornalista Tim Lopes, mostrando que a lei do morro é matar ou matar.E mostrar a PUC como o centro dos estudantes idealistas que fazem trabalho social mas também fumam seu baseado e colaboram com o tráfico foi sensacional. A tropa de elite é o BOPE, mas a elite mesmo formou a sua própria tropa de traficantes do asfalto.
Tudo no longa de José Padilha funciona bem, do elenco a direção, da trilha sonora a montagem, da fotografia ao roteiro. Tropa de Elite é um filme de ação, sem culpa e sem medo de mostrar o Rio como ele é. Porque o problema carioca não está nas favelas, mas nas pessoas que sobem os morros - policiais, bandidos, traficantes, usuários de droga. É sujeira para tudo quanto é lado e, sei lá, acho que não tem mais jeito.
Entre mortos e feridos, salve-se quem puder.
Janaina Pereira
Acabo de assistir Tropa de Elite. Tá, eu sei, estou atrasada. Mas tenho esse defeito, odeio filmes do tipo 'espreme e sai sangue'. Nunca vi Carandiru e Cidade de Deus até o fim - e não tenho nada contra o Meirelles, pelo contrário, adoro o segundo filme dele, O Jardineiro Fiel.
Quando Tropa de Elite bombou nos cinemas, eu achei que era mais um filme de 'polícia e bandido' e não quis ver. Mesmo o prêmio em Berlim 2008 não me empolgou. Mas como o longa ia passar ontem na TV, eu parei para assistir. E adorei.
O filme me ganhou por um motivo muito simples: o roteiro - muito bem escrito, por sinal - coloca a classe média como uma das principais responsáveis pelo tráfico de drogas do Rio. Eu sempre falo isso, digo que são os mauricinhos e patricinhas da Zona Sul carioca quem bancam o tráfico. E lá está, estampado para todo mundo ver, em cenas bem chocantes do filme, o que esse povo faz.
Só por isso o filme já vale. Mas tem mais. Tem o Wagner Moura dando show como o Capitão Nacimento - que não é corrupto mas adora uma tortura. É assim mesmo que funciona. No Rio não há vilões e mocinhos: polícia e bandido estão ali defendendo o que é seu. Sobra para inocentes, claro, e o filme apresenta isso muito bem.
Tropa de Elite ainda aponta como um policial pode ficar feroz facilmente, como o Rio está dominado pelo tráfico e como a burguesia praiana é alienada e escrota. Muito fácil ver o mundo da janela do Leblon e subir o morro para rebolar em baile funk e comprar um baseado. O filme esfrega isso na cara e - é péssimo dizer isso, mas é verdade - como eu vi algumas pessoas que conheço ali, entre os bem-nascidos que são usuários de maconha e acham que não fazem mal a ninguém. Claro, a fumaça da maconha e a cocaína escorrendo no nariz impedem esse povo de enxergar a merda em que se meteram.
Outra cena impressionante é a morte de um dos 'agentes sociais' da ONG localizada no morro. A cena repete a morte do jornalista Tim Lopes, mostrando que a lei do morro é matar ou matar.E mostrar a PUC como o centro dos estudantes idealistas que fazem trabalho social mas também fumam seu baseado e colaboram com o tráfico foi sensacional. A tropa de elite é o BOPE, mas a elite mesmo formou a sua própria tropa de traficantes do asfalto.
Tudo no longa de José Padilha funciona bem, do elenco a direção, da trilha sonora a montagem, da fotografia ao roteiro. Tropa de Elite é um filme de ação, sem culpa e sem medo de mostrar o Rio como ele é. Porque o problema carioca não está nas favelas, mas nas pessoas que sobem os morros - policiais, bandidos, traficantes, usuários de droga. É sujeira para tudo quanto é lado e, sei lá, acho que não tem mais jeito.
Entre mortos e feridos, salve-se quem puder.
Janaina Pereira
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