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quarta-feira, dezembro 23, 2009

Filmão


Guy Ritchie ficou mais conhecido como o marido de Madonna. O cineasta de Snatch, Porcos e Diamantes, esteve envolvido nos últimos tempos com um projeto bastante ambicioso: (mais) uma adaptação para o cinema do clássico personagem de Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes. Os mais céticos acreditavam que Ritchie não daria conta do recado. Grande engano. O diretor não só imprime seu estilo como joga luz e glamour sobre um dos personagens mais fantásticos da literatura. Sherlock Holmes, o filme que estreia dia 8, é sofisticado, elegante, irônico, moderno e autêntico. Uma obra perto da perfeição.

Para quem acha que Sherlock é ‘apenas um detetive’, vamos a algumas explicações. Criado por Sir Arthur Conan Doyle, o personagem surgiu pela primeira vez em Um Estudo em Vermelho, editada pela revista Beeton’s Christmas Annual no Natal de 1887. Sisudo, arrogante e fabulosamente inteligente, já aparece como um brilhante detetive, capaz de desvendar os maiores mistérios usando seus conhecimentos de química e a dedução.

Sempre acompanhado de seu fiel escudeiro, o médico John Watson, não se exercita por vontade própria, mas tem ótima forma, é bom corredor e dotado de uma força pela qual, segundo Watson, poucos poderiam dar-lhe crédito. Apontado como ”excepcionalmente forte nos dedos” (frase do livro A Coroa de Berilos) e um “aperto de aço” (do livro Seu Último Adeus), muito hábil no boxe, esgrima e baritsu, um sistema japonês de defesa pessoal.

Mestre do disfarce, Holmes pode passar facilmente despercebido. Frio, desprendido de qualquer sentimento, sem a menor compaixão pelas mulheres e irônico até dizer chega, nunca usou o cachimbo curvo (usava cachimbo comum) e jamais pronunciou uma das frases mais famosas do mundo.

Isso mesmo. “Elementar, meu caro Watson”, não aparece nos livros. Mas as adaptações teatrais e cinematográficas recriaram o personagem, fazendo da frase uma marca registrada de Sherlock. Guy Ritchie não segue a linguagem que popularizou o herói, e se apoia nos textos de Doyle para fazer seu filme, dando um ar jovial e viril ao personagem. Em Sherlock Holmes, o detetive tem o corpo (e que corpo!), a alma e toda a ironia de Robert Downey Jr, escolha acertadíssima para o papel. O ator está completamente à vontade, e encarna o personagem com convicção. Um raro caso de ‘foram feitos um para o outro’ - Downey Jr é o melhor Sherlock que poderia ser.

Não existe Holmes sem Watson, e coube a outro galã, Jude Law, vestir a elegância discreta do médico. Carismático, doce e amigo fiel, o Dr. Watson de Law ilumina a tela, não sendo um mero coadjuvante. Nesta versão, ele tem destaque e personalidade própria. As melhores cenas do longa são so duelos verbais da dupla, em que podemos perceber como os atores se divertiram enquanto filmavam. Desde já, Law & Downey Jr – ou Watson & Sherlock – formam uma das melhores dobradinhas do cinema.

Guy Ritchie leva para a telona uma história baseada nos quadrinhos de Lionel Wigram, e inspirada nos contos clássicos de Sir Arthur Conan Doyle. O thriller de ação e mistério narra uma nova aventura de Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) e seu leal parceiro Watson (Jude Law). Tudo parece anormal na vida de ambos: após a resolução de mais um caso – eles conseguem deter o Lorde Blackwood (Mark Strong), que matou inocentes mulheres em rituais e foi condenado à morte – Sherlock não encontra motivação para desvendar outros mistérios e Watson pretende dar um novo rumo à sua vida.

Para surpresa de quem está acostumado às histórias antigas do detetive e seu amigo médico, Dr. Watson está prestes a se casar e Holmes não quer perder o companheiro de aventuras – taí uma sacada bem bacana do roteiro, que permite revelar um pouco do sentimento do personagem, sempre tão racional e preciso.

Mas, para infelicidade – ou não! – da dupla, Lorde Blackwood ressurge das cinzas. O maquiavélico vilão não morre, o que faz Watson voltar a ajudar Holmes, mesmo a contragosto. Eles se unem para deter Blackwood, que está disposto a executar um plano ainda mais diabólico, que pode fazer com que Londres vá pelos ares.

A história é intrincada, como todas de Holmes. É preciso prestar atenção para desvendar os mistérios, saber os rumos da trama e não se perder pelo meio do caminnho. Isso faz parte da essência dos livros e não é diferente no filme. É preciso embarcar na aventura e não tentar adivinhar como tudo termina – sempre achei impossível seguir a lógica de Sherlock, embora no final tudo faça sentido.

Vale ressaltar ainda que o filme conta com Rachel McAdams (Irene Adler, citada em um dos livros de Doyle, uma das poucas mulheres que Holmes via com certo apreço) como o ’enfeite’ da vez. Além de ser sem sal, sem pimenta e sem tempero, a atriz é ‘engolida’ pelas atuações de Downey Jr e Law. Fraquinha que só ela, é totalmente dispensável em uma futura e bem possível continuação do longa.

Sherlock Holmes ainda mostra que o estilo ‘diretor de videoclipe’ de Ritchie faz bem mesmo em uma obra tão clássica: os cortes rápidos, a câmera lenta que logo agiliza a resolução da cena, as tomadas suspensas, tudo funciona com graciosidade, dando um ar moderno e vigoroso à trama.

Outro destaque é a ótima trilha sonora de Hans Zimmer, além dos belos figurinos e da fotografia exuberante, que imprime um ar obscuro, mas luminoso, para a Londres vitoriana de Sherlock – algo que lembra um pouco os tons sombrios de Tim Burton.

Posso dizer que Sherlock Holmes é daqueles filmes apaixonantes, que permitem o espectador embarcar na telona sem a menor cerimônia. É divertido, inteligente, simpático e bonito de se ver, não só pelo visual do filme, mas também pela boa forma de sua dupla de protagonistas. Elementar, meu caro Guy Ritchie.


Janaina Pereira

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