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sexta-feira, dezembro 04, 2009

O crítico e a crítica


Ontem fui ao CineSesc acompanhar a abertura da 10ª Retrospectiva do Cinema Brasileiro. De 4 a 30 de dezembro, o CineSESC exibirá títulos como Divã, A mulher invisível, Os Normais 2 e Se eu fosse você 2; documentários musicais, como Loki, O milagre de Santa Luzia, Waldick e Herbert de perto; sobre futebol, como Fiel, 1983: O ano azul e Nada vai nos separar; premiados, como Se nada mais der certo e A festa da menina morta; filmes infantis, como Cocoricó e Grilo Feliz, ou documentários que causaram diferentes tipos de polêmica, como Moscou, Alô, alô, Terezinha e Garapa.

Na abertura para convidados foi exibido o excelente documentário Crítico. Durante oito anos, o crítico de cinema e cineasta Kleber Mendonça Filho registrou com uma câmera digital críticos e cineastas no Brasil e no exterior. Eles falaram sobre ver e fazer filmes, o prazer e a frustração, os egos do artista e do observador no cinema.

Entre os cineastas que aparecem no documentário estão Fernando Meirelles, Walter Salles, Gus Van Sant, Costa Gravas e Curtis Hansom, que contam como aprendem – ou não – com os críticos de cinema. Em contraponto, a difícil arte de falar – na maioria das vezes, mal – do filme alheio é apresentada na perspectiva de jornalistas estrangeiros e brasileiros, como Ricardo Calil e Luiz Carlos Zanin.

Crítico mostra desde jornalistas despreparados diante dos cineastas e atores – como o caso do jornalista brasileiro que confunde Samuel L. Jackson com Laurence Fishburne – aos que conquistam a amizade e o respeito dos diretores de cinema. E ainda aponta a crueldade das palavras e símbolos que podem destruir um filme.

Claro que me fez pensar muito no que estou fazendo da minha vida. Não me considero crítica de cinema. Eu sou jornalista. E isso já muda minha visão das coisas. Como jornalista, trabalho com prazos. E se tenho prazos, não fico digerindo um filme por dias antes de decidir se eu gostei dele ou não. O filme acabou, a luz acendeu, e a reação é na hora. O que eu sinto ali é o que estará no papel.

É errado escrever sobre um filme da perspectiva de um mero espectador? Não sei. Mas é assim que faço e assim que vai ser. Até analiso algumas partes técnicas, porque curto fotografia e trilha sonora e sei minimamente algumas coisas. Mas não vou ficar bancando a pseudo-intelectual e falando difícil. Não é isso que o público quer ler.

Lembro que minha primeira crítica oficial foi recusada. Estava técnica demais, sem emoção. Ai escrevi sobre o mesmo filme aqui para o meu blog, com o olhar de espectadora. Foi aprovada. Ali eu percebi que o segredo era continuar fazendo o que sempre fiz: vendo o filme com a mesma paixão da minha infância, com o olhar de quem está no cinema por diversão.

Não é por causa disso que só vejo o que gosto. Eu vejo de tudo, gosto de muita coisa, detesto outras, mas sei falar mal de um filme com elegância. Não vou sair por aí destruindo o filme só porque não gostei. Quem sou eu para fazer isso? Também não vou falar que amei só para agradar os outros. Gosto muito do que fiz na crítica de 2012, por exemplo. Não gosto do filme, mas sei que é o tipo de longa que o povo ama. Então, fui sarcástica.

Outro que rendeu uma boa crítica foi Anticristo. Na avaliação mais minuciosa que usei para falar de um filme particulamente difícil para mim, consegui uma análise sobre a dor que eu nunca achei que poderia fazer.

Claro que filmes que adoro são mais fáceis de serem analisados. 500 dias com ela rendeu o maior número de comentário do tipo - "eu não ia ver este filme, vi porque li o que você escreveu". Isso é sensacional. Saber que meu olhar apaixonado pelo filme fez muita gente ir ao cinema para vê-lo. E as pessoas gostaram do que viram, porque o filme é mesmo legal.

Mas ainda acho que minha análise mais legal foi de Distrito 9, um filme que trouxe à tona o que eu tenho de mais forte: minha memória. Reviver todos os meus sci-fi para chegar a conclusão de que Distrito 9 é um novo olhar para a ficção científica foi bom demais. Adorei escrever, foi uma viagem no tempo.

Mas, na maioria das vezes, é um parto falar dos filmes, alguns simplesmente não tenho o que dizer. E ai entra a parte mais legal do documentário Crítico, em que alguns entrevistados dizem que o crítico é fruto do filme que ele vê. Perfeito.

Eu quero continuar escrevendo sobre cinema, mas não quero ser crítica, jamais. Eu sou só uma jornalista que por acaso cobre cinema, que ama cinema, que ama aquela sensação de embarcar numa viagem na telona. Claro que meu texto é menos apaixonado e mais jornalístico, mas o que importa é que as pessoas leem e vão ao cinema graças ao que escrevo. E, pincipalmente, elas não desistem de um filme por causa da minha opinião.

Eu não sei de nada. Mas o que vejo nas telas, e a forma como vejo, compartilho com vocês.


Janaina Pereira

Comentários
Leio seu blog de baixo pra cima rs fico tempo sem entrar na net (estou sem net em casa) aí quando passo por aqui quero ver o que perdí...
Acredita que lendo o post sobre o Tropa de Elite fiquei com vontade de assistir novamente, realmente vc tem o dom da escrita.
UM beijo. Deus te abençoe sempre!!!
 
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