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sexta-feira, setembro 18, 2009

A vida não é filme


A trilha sonora da minha vida é repleta de músicas dos Paralamas do Sucesso. A primeira vez que ouvi Vital e sua moto gostei daquele som meio inusitado para um suposto rock. Eu tinha sete anos. Titãs, Legião e Barão chegaram na minha vida muito mais tarde. E, embora admire Cazuza e Renato Russo como compositores, sempre fui apaixonada pelas letras do Herbert Vianna.

Meus amigos cariocas sabem da paixão que eu sinto pelo Paralamas. Meu primeiro show nacional, a banda que mais vi ao vivo, a que tenho mais CDs, a que sei todas as músicas. Acho o Herbert um cantor ruim, mas um ótimo compositor. Só ele e Chico conseguem escrever bem para as mulheres - e, agora, o Nando Reis também sabe como fazer isso.

Herbert sempre foi muito bem interpretado por cantoras. Todas que gravaram ele transformaram as aparentes banalidades em pequenas pérolas. O rock divertido Meu Erro tem outra bossa na versão acústica com Zizi Possi. Um amor, um lugar, gravada pela Fernanda Abreu, tem uma letra inspiradíssima. E por aí vai.

Adoro o Herbert porque ele sempre foi um patinho feio e cantava suas frustrações. A melhor música de fim de relacionamento é dele.

"Se tudo tem que terminar assim
que pelo menos seja até o fim
pra gente nunca mais ter que terminar"
(Caleidoscópio)

A melhor música de mudança de vida é dele.

"Eu hoje joguei tanta coisa fora
eu vi o meu passado passar por mim
cartas e fotografias
gente que foi embora
e a casa fica bem melhor assim"
(Tendo a Lua)

A melhor música de 'ele(a) não está a fim de você' é dele.

"Há algo errado no paraíso
É muito mais que contradição
Sou eu caindo do precipício
Você passando num avião
Você olhou, fez que não me viu
Foi como se eu não estivesse ali
Desligou a luz, deitou, dormiu
Nem pensou em se divertir
Vai ver que a confusão, fui eu quem fiz fui eu"
(Fui eu)


E a música que reflete perfeitamente a dor da traição também é dele.

"Eu te procurei pra me confessar
que eu chorava de amor
e não porque eu sofria
mas você chegou, já era dia
e não estava sozinha
eu tive fora uns dias
eu te odiei uns dias
eu quis te matar"
(Uns dias)

Poderia enumerar todas as músicas dele que fazem parte dos meus 35 anos de vida. Mas para que? Ontem eu vi Herbert de Perto, o ótimo documentário sobre a vida do meu compositor preferido. A crítica oficial eu deixo para depois, porque agora tudo que eu preciso é acalmar meu coração. Péssimo ter que me conter na cadeira e só balançar os pés quando tocou Óculos, Alagados e Uma brasileira. Pior foi disfarçar as lágrimas quando - assim como na música - eu vi o meu passado passar por mim.

O dia do acidente do Herbert foi o dia em que vim morar em São Paulo. Luiza, minha amiga querida, me ligou dizendo que ele ia morrer. E eu disse a frase que ficou marcada e virou minha premunição particular. "Ele não vai morrer e eu ainda vou ver um show dos Paralamas em São Paulo."

Herbert estava praticamente morto, eu não tinha emprego nem casa em São Paulo. A verdade é que ninguém achava que a gente ia sobreviver. Exatos 22 meses depois, eu e ele estávamos lá em São Paulo. Ele, no palco, e eu na plateia. Liguei para a Luiza e falei: "Não te disse que ia ver o show dos Paralamas em São Paulo?"

Eu sobrevivi - e sobrevivo a cada dia - e ele, bem, ele está aí, paraplégico, mas vivo. Cantando, compondo, criando os filhos. Impossível eu não chorar quando vi as cenas do acidente e os jornais que mostraram, ao longo de meses, sua recuperação lenta e sofrida. Impossível eu não lembrar de quantas vezes eu caminhei pelas ruas de São Paulo aos prantos, sozinha, sem saber se eu conseguiria sobreviver ao dia seguinte.

Meu coração ficou apertado ao final do documentário. Porque eu sei que a gente supera toda dor calado, mas a dor volta e meia assombra. Aí você tem vontade de gritar mas não pode porque a vida continua e só nos resta viver da melhor forma possível.

Herbert Vianna é meu compositor preferido porque, de alguma forma, eu me encaixo perfeitamente na história do patinho feio que, não importa em que lugar, nem como, nem porque, sempre consegue sobreviver.

A vida não é filme e você não entendeu. Mas eu já saquei isso faz tempo. E o abençoado Herbert também.


Janaina Pereira

Comentários
Que momento bom Jana!! Imagino sua alegria, adoro Paralamas...

"Quando tá escuro e ninguem te ouve..."(essa é minha) to sempre na lanterna rs.
Beijão
 
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