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sexta-feira, junho 05, 2009

A vida é doce... mas, às vezes, amarga

Existem filmes e filmes que falam do universo feminino. Há muito tempo sabemos que Pedro Almodóvar é um dos raros diretores a filmar com verdade e poesia este mundo tão particular. De vez em quando aparece alguém que capta o espírito e consegue mostrar as mulheres como elas realmente são: sem máscaras, sem maquiagem, sem sutilezas. E foi este o caminho seguido pela atriz e diretora libanesa Nadine Labaki, que faz de Caramelo (Caramel), que estreia nesta sexta, 5, uma pequena obra-prima.

O filme nasceu no projeto Residência do Festival de Cannes, realizado por Nadine em 2004. O longa foi selecionado para o Festival de Toronto 2007 e para a Quinzena dos Realizadores de Cannes 2007. Impossível não se encantar com a história mas, especialmente, com a forma como ela é mostrada.

Usando um elenco de não-atrizes – apenas ela é atriz profissional – para ficar mais próxima da realidade feminina, Nadine Labaki narra a vida de cinco mulheres, que se encontram regularmente no salão Sibelle, em Beirute.

Layale (Labaki) é deslumbrante e cheia de vida, arrasta admiradores por onde passa, mas prefere se prender a um homem casado, que a coloca em segundo plano – e que, obviamente, não vai largar a esposa por ela. Nisrine (Yasmine Al Masri) parece ter o relacionamento perfeito, mas prefere fazer uma arriscada cirurgia para ‘voltar’ a ser virgem do que revelar sua ‘condição’ ao amado. Rima (Joana Moukarzel) é – e ela e todo mundo sabem disso – homossexual, mas não consegue assumir nem lidar com a cliente pela qual se encanta. Jamale (Gisèle Aouad) fracassa nos testes de atriz, mas quer ser jovem a qualquer custo – especialmente depois que o marido a trocou por uma mulher mais jovem. E na história mais tocante do filme, Rose (Siham Haddad) precisa se decidir entre um amor na terceira idade ou seguir com sua vida medíocre, cuidando da irmã mais velha.

No salão, entre cortes de cabelo e depilação à base de caramelo (receita oriental tradicional: açúcar, limão e água), homens, amor, sexo, casamento, maternidade e amadurecimento estão no centro de suas conversas mais íntimas. A forma como cada um dos assuntos é tratado, e como cada mulher é vista pela lente da diretora, é o que faz toda a diferença no filme.

Todas essas mulheres têm seus encantos, mas ao mesmo tempo suas dúvidas e dores. Todas são belas de alguma forma, mas não conseguem se olhar no espelho e encarar suas realidades. Todas são amigas e aconselham umas as outras, mas são incapazes de seguirem um rumo por suas próprias pernas. Todas são tratadas com incrível respeito pelo roteiro – Rodney El Haddad, Jihad Hojeily e Nadine Labaki – tornando-se reais e apaixonantes para o público.

Como propõe o título – uma metáfora sobre o doce que também pode machucar – Caramelo traz o melhor e o pior do universo feminino: o preconceito sexual (seja para gays ou para não-virgens), o amor não correspondido, a falta de amor próprio, o medo de envelhecer, a solidão, a amargura e a tristeza. Tudo isso é abordado de forma delicada, leve e sensível, e ao mesmo tempo forte e devastadora. Exatamente como as mulheres são.


Janaina Pereira

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