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domingo, maio 17, 2009

Você sabe quem foi Simonal?


Infelizmente, o Brasil não é um país em que os documentários fazem parte da vida cinematográfica das pessoas. Há um preconceito de que documentário é chato ou coisa de gente cult. Se você também acredita nisso, pode tentar fazer o esforço de se livrar dessa ideia e ir ao cinema assistir Simonal – Ninguém sabe o duro que dei, de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal. O documentário, a partir de hoje nos cinemas, relata a vida controversa do cantor Wilson Simonal e é um dos mais emocionantes e significativos já feitos por aqui.

Para começar, se você tem menos de 30 anos e nunca ouviu falar de Wilson Simonal, terá uma aula de música e, de quebra, vai saber um pouco mais sobre os bastidores de uma parte cruel da nossa história – a época da ditadura militar, sob a ótica cultural. Se você, como eu, já sabia quem foi Simonal, terá a grata surpresa de embarcar no suingue e na simpatia do cantor, para depois acompanhar as versões – algumas inéditas – de sua conturbada vida fora dos palcos.

Wilson Simonal foi o primeiro cantor negro brasileiro a alcançar posição de estrela na mídia. Dono de voz marcante e cheio de gingado, cativou multidões em shows históricos, lotando ginásios como o Maracanãzinho, no Rio. Na primeira parte do filme, acompanhamos sua carreira musical e uma coletânea de seus sucessos como Meu limão, meu limoeiro, Mamãe passou açúcar em mim e a versão patropi de País Tropical, do então Jorge Bem.

Para contar essa história, os diretores usaram imagens da época e depoimentos de gente que conviveu com Simonal, como os produtores Nélson Motta e Miéle, o cantor e ator Tony Tornado e os humoristas Castrinho e Chico Anysio, além dos filhos do cantor – Max de Castro e Simoninha - e até mesmo Pelé, com quem Simonal bateu bola no Santos e no México, às vésperas do tricampeonato de 1970.

A segunda parte do documentário, porém, mostra a virada na carreira do cantor: após um incidente com seu contador, em que foi acusado de agredir o funcionário e mandá-lo ao DOPS – o órgão do Governo que controlava e reprimia os movimentos políticos e sociais – Simonal é apontado como delator e favorável à ditadura. Nos anos 1970, auge do regime militar no Brasil, esse tipo de acusação era o fim da carreira de qualquer artista. E o filme, entre depoimentos e manchetes dos jornais da época, coloca o dedo na ferida, apresentando a classe artística e a imprensa como responsáveis pela derrocada de Simonal.

Um grande mérito dos diretores foi conseguir o depoimento de Raphael Viviani, o contador de Simonal e que deu início a confusão na vida do cantor. Sem nunca ter sido ouvido para contar sua versão, ele deixa no ar a suposta ingenuidade que os amigos de Simonal apontam como o motivo para ele ser considerado ‘dedo-duro’. Mas o objetivo de Simonal – Ninguém sabe o duro que dei não é fazer do artista herói ou vilão de sua própria história. É apenas contar os dois lados da mesma moeda da vida deste grande nome da música brasileira – o sucesso e o ostracismo, os aplausos e as vaias, o sorriso e as lágrimas.

Tudo isso é apresentado de forma contagiante, como o próprio Simonal era. Vai ser difícil alguém resistir ao carisma do cantor e ao emocionante relato de sua trajetória.



Janaina Pereira

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