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terça-feira, março 24, 2009

A hora da minha morte


Meu pai morreu em 1989. Ele era um homem muito tranquilo, simples, do tipo que gostava de uma cervejinha com os amigos, papear, jogar futebol aos sábados e assistir corrida de F-1 aos domingos. Meu pai morreu aos 44 anos. Sempre me perguntei o porquê. E sempre soube a resposta.

Meu pai morreu porque suportava muita coisa calado. Ele era um cara extremamente inteligente e perspicaz. Tinha um bom emprego, era respeitado em seu ambiente de trabalho. Sua carreira era um sucesso - ele era executivo da indústria de distribuição de oxigênio. Trabalhava em uma das maiores empresas do Brasil. Poderia ter tido uma vida ainda mais confortável se tivesse aceitado algumas propostas de trabalho - que recusou por causa da minha mãe. Mas isso é outra história.

Meu pai teve um derrame aos 40 anos de idade. Por que? Porque ele suportava tudo calado. Porque ele não levava problema para casa, porque ele era o chefe que entendia os funcionários, porque ele era bom demais. O segundo derrame, aos 44 anos, foi fatal. De tanto guardar o estresse e os problemas para si, morreu e me deixou aqui para, 20 anos depois, escrever sobre isso.

Sempre disse que não queria morrer como ele. Sempre falei que não morreria de derrame, que prefiro infartar. Sempre tentei colocar meu ponto de vista, por mais cruel que seja. Sempre procurei mostrar minha insatisfação, meu descontentamento, minha mágoa. Mas o tempo me mostrou que, às vezes, temos que segurar a onda, temos que ficar calado, temos que engolir sapos.

Eu já tenho 34 anos. Já senti meu coração disparar, minha nuca pressionar, minhas mãos ficarem geladas e ainda ter aquela sensação horrível de que um trator passou pelo meu corpo. Eu sei que vou morrer, mas não quero morrer porque me estressei demais, porque sofri por algo que está fora do meu controle, porque fiquei p. da vida com alguma coisa.

Eu não quero que os outros me perturbem ao ponto de acabarem comigo. Não quero que os problemas sejam maiores que eu. Não quero que a história se repita. Não quero dar moral a essas coisas estúpidas do dia-a-dia que, sim, me matam aos poucos. Mas não podem me deixar morrer.



Janaina Pereira

Comentários
Engraçado como minha história é um pouco oposta. Meu pai morreu aos 51, e eu não dou a mínima para isso, pois acho que já foi tarde. Eu sempre fui "ensinado" a manter meus problemas só para mim, mas eu sempre fiz justamente o contrário. E bom, eu tenho 6 anos a menos que você, mas já passei por maus bocados de saúde também. Ainda assim, independente de idade, de condição de saúde, o que vale é algo que, apesar de não ser religioso, eu acredito: a alma.

Bjos
 
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