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quinta-feira, setembro 18, 2008

(Im)Perfeição


Mais uma página da monografia sendo escrita, e lá vamos nós para meu assunto preferido: ética. Existe? Cadê?

Como diz a Cilene, minha ex-professora de Teoria da Comunicação e Jornalismo Especializado, ética não é uma coisa para se passar no pão. Mas, o que vemos, lemos e ouvimos é a ética de cada um. Isso é ético para mim, mas não é para você. Como se ética se diferenciasse de pessoa para pessoa.

A falta de ética desfila pelos jornais, revistas, emissoras de televisão, corredores da faculdade e empresas. É uma puxação de tapete para se conseguir o que quer, que francamente... dá vergonha.

As pessoas vêem as coisas erradas e deixam para lá. Afinal, não está mexendo comigo, com meu bolso, com minha vida, então eu nem vejo. É assim que funciona. Ninguém luta pelos interesses de uma classe, de um povo, de um país, de uma verdade: o que importa são os interesses pessoais.

Raramente eu vi alguém defender o outro, defender uma idéia, um ideal, uma postura. As pessoas se escoram nos outros, não tem opinião própria, se omitem. Deixam o errado se tornar o certo. E não tentam mudar a situação.

Isso tudo me faz lembrar uma letra do Renato Russo, chamada Perfeição, em que ele cita todas as coisas abomináveis do mundo, mas sempre em tom de celebração.

Diz a letra:

Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...

Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...

Vamos celebrar Eros e Tanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...

Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição ...


Acho essa letra poderosa, como tudo que o Renato Russo escreveu. É de 1992. Passados 16 anos, eu não vejo diferença nenhuma. Continuamos celebrando o horror, a violência, o errado, o anti-ético.

Continuamos perdidos na escuridão da falta de bom senso.

E vem chegando a primavera. E o TCC está acabando.

E eu ainda pretendo escrever, com ética e dignidade, o meu verso.



Janaina Pereira

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