Veneno da Gata

Sinais do tempo


Para ler ouvindo "Losing my religion", do REM.


Às vezes dá uma vontade desesperadora de sair correndo. De sumir. De ser esquecida pelo mundo. De ser esquecida no mundo. Um desespero. Um vazio. Um mal-estar. Uma sensação muito ruim. Detesto dizer não quando eu deveria – e queria – dizer sim. Dói, mas eu sei que, em certas situações, isso é necessário.

Eu não suporto incompetência, ter que (re)fazer trabalho dos outros, ter que cuidar de todo mundo. E me incomoda ainda mais ouvir desculpas. Ah, essa palavrinha que depois de inventada simplificou o mundo. Ou as pessoas. Porque o mundo é simples, as pessoas é que complicam e atrapalham.

Eu não sou e não quero ser perfeita, mas profissionalismo não tem a ver com perfeição. Não custa nada ser atento, cumprir prazos, tentar fazer o melhor – de verdade, e não fingir que faz mas não faz – e, especialmente, dizer a verdade. Prefiro que a verdade sempre prevaleça. Se não dá para fazer, avisa. Mas não diz que vai fazer e não faz. Detesto isso. Detesto esperar por algo que não virá.

Ao contrário do que possa parecer, eu penso muito nos outros, e muitas vezes abri mão de coisas minhas em favor do próximo. Quando tive um agradecimento? Raras vezes. E talvez essas pessoas possam ser mais felizes e mais bem-sucedidas do que eu, embora eu não consiga enxergar nelas qualquer sinal de sucesso futuro. Sucesso, para mim, está ligado à uma série de fatores entre os quais carisma e competência estão relacionados. E não é o caso.

Quando eu acho que tudo vai se resolver, as coisas só se complicam. Quer dizer, as pessoas complicam tudo. Eu queria acordar amanhã e descobrir que tudo não passa de um grande pesadelo e que vai valer a pena cada ruga e cabelo branco que estou ganhando. Porque quando me olho no espelho, já não me reconheço mais. Acho que nunca me senti assim antes.

Não dá mais para voltar no tempo. Eu envelheci. E como uma pessoa mais velha e com mais experiência de vida, não sou obrigada a aturar certas coisas. E, graças a Deus, não preciso mais agradar ninguém a não ser a mim mesma.



Janaina Pereira