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terça-feira, abril 15, 2008

Jornalismo para jornalistas


No último dia 7 de abril foi comemorado o dia do jornalista. Eu nem sabia que essa data existia - ainda vivo no dia mundial da propaganda, 4 de dezembro - mas diversos jornais publicaram listas de filmes que falam dessa cobiçada profissão.

Se eu for contar todos os filmes sobre jornalistas que eu já vi, a lista seria enorme. De todos, o mais marcante ainda é "Todos os homens do presidente". Eu vi quando tinha uns 9 anos de idade, e fiquei fascinada pela profissão. Ainda assim, jornalsimo nunca foi - e ainda não é - a primeira opção da minha vida.

Dos filmes mais recentes, gosto muito de "O Informante", mas gosto também daqueles que focam os bastidores da televisão - e não, especificamente, os jornalistas - como "Quiz Show" (baseado numa assustadora história real) e "O show de Trumam" (uma fabulosa história sobre o poder da televisão). Dos mais antigos, meu preferido é "A montanha dos sete abutres", com o Kirk Douglas, que mostra a imprensa marrom, agora chamada apenas de sensacionalista. É bom assisitr para perceber que o jornalismo continua igual: adora um espetáculo.

No curso de jornalismo assisti a poucos filmes sobre a profissão - aliás, o que vi na sla de aula eu já vira no cinema ou na televisão - mas o que me deixa pasma é que nunca, nenhum professor falou do maior clássico do cinema, que, por coincidência, é um filme que fala da indústria da comunicação: Cidadão Kane. E, obviamente, a maioria dos alunos nunca ouviu falar do filme. Além de ser inovador como cinema em si - com tomadas que nunca tinham sido feitas até então - o filme é um tapa na cara de qualquer jornalista - mas foi feito em 1941, ou seja, até hoje o filme esbofeteia a profissão.

Escolhi cinco filmes que os futuros jornalistas não podem deixar de ver, mas que o público em geral pode assistir para refletir se o cinema dá um glamour desnecessário à profissão. Dos filmes citados abaixo, menção honrosa para "Capote", um jornalista absolutamente ordinário e brilhante.


1 – Cidadão Kane (Citizen Kane, EUA, 1941)

Cidadão Kane foi escolhido o melhor filme de todos os tempos, em votação realizada em 1998 pelo American Film Institute. Esta opinião é compartilhada por diversas associações cinematográficas em todo o mundo. A obra de Orson Welles é repleta de inovações, como as tomadas de câmeras diferentes e a narrativa não-linear, recursos até então inéditos. Isso fez desta produção uma referência. Aos 25 anos, Welles mudou a história do cinema com este clássico que ele dirigiu, produziu, roteirizou e estrelou. O roteiro gira em torno da ascensão de um mito da imprensa americana, Charles Forster Kane (Welles), de garoto pobre do interior a magnata de um império dos meios de comunicação. O filme, uma crítica ácida à sociedade e à imprensa, foi inspirado na vida do milionário William Randolph Hearst e ganhou o Oscar de melhor roteiro.

2 – Todos os homens do presidente (All president's men, EUA, 1976)

Baseado na história real dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, vividos por Robert Redford e Dustin Hoffman, do Washington Post. Em 1972, sem ter a menor noção da gravidade dos fatos, Woodward e Bernstein iniciam uma investigação sobre a invasão de cinco homens na sede do Partido Democrata. A série de reportagens dá origem ao escândalo Watergate, que teve como conseqüência a queda do presidente americano Richard Nixon. O roteiro é uma adaptação do livro homônimo de Woodward, que iniciou as investigações, e Bernstein, que ajudou a fazer as matérias. A direção é de Alan J. Pakula. O filme mostra cenas históricas, permeadas às demais dirigidas por Pakula, reforçando sua intenção de reproduzir de maneira fiel o que foi o caso Watergate, com imagens da rotina de um jornal e o objetivo principal dos repórteres: contar a verdade, de maneira certa. Bernstein, atualmente, é assessor da campanha de Hilary Clinton. E em 2005 foi, finalmente, revelado o nome da fonte que ajudava Woodward em suas matérias - e o mundo viu o rosto do famoso Garganta Profunda.

3 – Reds (Reds, EUA, 1981)

Cinebiografia do jornalista e escritor americano John Reed, que escreveu Os dez dias que abalaram o mundo, considerado o documento mais completo sobre a Revolução Russa. O filme foi escrito, produzido, dirigido e estrelado por Warren Beatty, e concorreu a 12 Oscars, ganhando três: diretor (Beatty), atriz coadjuvante (Maureen Stapleton) e fotografia. John Reed (Beatty) já é um jornalista famoso quando conhece Louise Bryant (Diane Keaton), uma mulher casada por quem se apaixona. Louise larga tudo para morar com Reed, e entre muitas turbulências no relacionamento, eles participam da Revolução Russa de 1917. Este acontecimento inspira o casal, que volta para os EUA tentando liderar uma revolução semelhante. Louise começa a dar forma ao sonho de ser escritora e Reed alcança o sucesso com o livro Os dez dias que abalaram o mundo, que o coloca na linha de frente do movimento socialista. Um dos destaques desta produção é a participação de 32 pessoas que realmente conheceram John Reed e aparecem pontuando toda a narrativa.

4 – Capote (Capote, EUA, 2005)

Truman Capote foi um dos maiores escritores e jornalistas do século passado. Autor do clássico Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's), que inspirou o filme de Blake Edwards, com Audrey Hepburn, já era famoso quando iniciou um gênero chamado por ele de non-fiction novel (romance de não-ficção). Com A sangue frio, sobre o assassinato de uma família numa cidade do Kansas, marcou a literatura mundial e o jornalismo literário. O processo de criação do livro, que levou sete anos para ser escrito, mudou para sempre a vida de Capote. E é este o fio da meada da cinebiografia dirigida por Bennet Miller, sobre a pesquisa do escritor para fazer aquela que seria sua obra de maior sucesso. O roteiro de Dan Futterman, baseado no livro de George Clark, inicia-se em novembro de 1959 quando Truman Capote (Phillip Seymour Hoffman, vencedor do Oscar por esta interpretação), então um escritor conhecido e jornalista da revista The New Yorker, vai ao Kansas com sua amiga Harper Lee (Catherine Keener). Capote deseja escrever sobre um quádruplo assassinato que abalou uma pequena cidade local. Diante dos assassinos, percebe que tem material para um livro e inicia uma longa jornada para escrevê-lo. Ele faz amizade com um dos acusados, Perry (Clifton Collins Jr.), e esta relação mexe com sua vida e com o que está escrevendo. Mesmo se revelando quase apaixonado pelo assassino, Capote quer que ele morra para poder, finalmente, concluir seu livro. Mas o grande mérito do filme é mostrar como o jornalista acabou sendo influenciado pela sua obra, a ponto de nunca mais escrever.

5 – Boa noite e Boa Sorte (Good night and Good Luck, EUA, 2005)

Baseado em fatos reais, o filme se passa no início dos anos 50, e conta como o jornalista Edward R. Murrow lutou para desmascarar o senador Joseph McCarthy (que aparece em imagens originais da época). McCarthy inaugurou a era do 'mccarthismo' ou 'caça às bruxas', período polêmico da história americana em que várias pessoas foram acusadas, sem provas, de serem favoráveis ao comunismo. Murrow, interpretado por David Starhairn, foi um dos maiores jornalistas da história americana. Famoso no rádio, graças as transmissões que fez durante a Segunda Guerra Mundial, levou seu carisma e inteligência à televisão. Era apresentador do jornalístico "See it now" e do programa de entretenimento "Person to person", ambos na CBS, quando resolveu enfrentar o senador McCarthy. Com o apoio do diretor de seu programa, Fred Friendly (George Clooney, que também escreveu e dirigiu o filme) e a conivência do diretor da emissora, Bill Paley (Frank Langella), Edward Murrow travou uma batalha pública contra os métodos de Joseph McCarthy. Muitos dos textos são falas do próprio Murrow aproveitadas por Clooney e pelo co-roteirista Grant Heslov, que tiveram a colaboração do verdadeiro Friendly. O título foi tirado da frase que o jornalista dizia ao final de seus programas. O filme, produzido em preto e branco, retrata o mcchartismo ao mesmo tempo em que mostra o fim da era da informação e o início da TV como entretenimento.


Janaina Pereira

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