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sábado, dezembro 08, 2007

Entre mortos e feridos


Eu sei bem como é triste ter que encarar a morte de perto. Perder alguém que se ama, saber que nunca mais veremos a pessoa... é doloroso. Às vezes me pergunto como sobrevivo aos anos de ausência do meu pai. Sinto muita falta dele, mas falo com tanta serenidade do assunto que parece que nunca passei por tamanha dor. Grande engano. Essa ferida dói, mas eu consigo viver com ela.

Lembro perfeitamente dos dias que antecederam a morte de meu pai. Inclusive, lembro da última vez que ele me olhou. Era um olhar triste, de alguém que não queria ir embora. No dia da morte dele, eu senti uma dor profunda no meu coração, e horas depois ele estava morto. A maior lembrança desse dia é da tristeza da minha mãe, desesperada, viúva aos 38 anos com uma filha de 14 anos para criar. Lembro que as amigas dela pediam para que eu não chorasse para minha mãe não sofrer. Lembro das lágrimas silenciosas que fui obrigada a derramar escondida, solitária.

Mas, o mais marcante, é que todo dia eu esperava meu pai chegar do trabalho. E, na primeira semana após a sua morte, eu ia dormir cedo. Exatamente sete dias após o enterro dele, minha mãe perguntou porque eu estava indo dormir tão cedo. Respondi: "Porque ele nunca mais vai voltar." Eu simplesmente não queria ficar acordada para ver que ele não chegaria. Que ele não entraria pela porta como sempre fazia, e sentaria no sofá para conversar comigo. Era duro saber que ele não estaria mais lá quando eu precisasse. Foi nesse momento que minha mãe conversou comigo que a vida continuava, que meu pai estaria sempre por perto para me ajudar, eu apenas não iria vê-lo. E com a força que só ela tem – e é por isso que ela é minha mãe – naquele que foi o pior momento de nossas vidas, ela conseguiu ser forte para não me deixar cair.

Cada pessoa passa por essa dor de maneira única, e cada um reage de um jeito. Eu lembro do meu pai com muito carinho e, embora sinta muitas saudades, tenho plena certeza de que ele está feliz por eu ser quem sou.

Eu daria minha vida para vê-lo novamente. Mas já que não posso, apenas agradeço a Deus por ter me dado a benção de conviver com ele. Foram apenas 14 anos, mas esse amor é eterno, e é isso o que me conforta todos os dias.


Janaina Pereira

Comentários
Nossa!!!!
Enchi meus olhos de lágrimas lendo seu texto.
 
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