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segunda-feira, outubro 15, 2007

A aurora de Autran


Eu sempre disse que precisava ir ao teatro para ver dois atores: Fernanda
Montenegro e Paulo Autran. Ela, eu nunca vi ao vivo. Ele, eu vi em 2002,
quando Autran completou 80 anos e fez o monólogo “Quadrante” no teatro.

Lembro que fiquei profundamente emocionada ao vê-lo no palco. E para sempre
vou recordar da cena em que ele diz 'vou declamar um poema que representa um
olhar diferente em minha vida. Li pela primeira vez aos 8 anos, e agora, aos
80, ele tem outro significado.' E Autran, com lágrimas nos olhos, recita
Casimiro de Abreu.

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


Paulo Autran era um ator maior do que a televisão poderia conceber. Por isso o
palco sempre foi o seu lugar.


Janaina Pereira

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