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domingo, junho 24, 2007

Negócios da educação


Quando eu escolhi estudar na Uninove, não foi, obviamente, pelo padrão da faculdade, e sim pela mensalidade mais barata. Tinha um grande amigo estudando lá, e achei que valia a pena arriscar. Mas desde o meu primeiro dia de aula eu percebi que teria problemas. A Uninove se mostrou um grande shopping center, um poço de vaidades, de alunos medíocres e um grande negócio envolvendo um bem maior, que é a educação.

A faculdade não dá nenhum suporte ao aluno. Falta laboratório, falta estrutura, falta grade, falta competência. Sobra arrogância, problemas com a secretaria e o financeiro e assédio moral. O nível intelectual dos alunos é ínfimo, e alguns professores até tentam, mas nem sempre conseguem fazer da sala de aula um ambiente agradável.

Atualmente, no mundo dos negócios da educação, você não passa de um número. Não interessa se é bom aluno, tem competência e se garante: você é tratado igual aos alunos que colam, negociam provas descaradamente e fazem qualquer coisa em busca da nota. O importante é passar de semestre, a todo custo, se auto-denominar jornalista, advogado, enfermeiro, publicitário ou o que quer que seja. Aí vem alguém com o papo – furado – de que o mercado seleciona. Grande mentira! Os medíocres se formam e conseguem emprego, entram no mercado e sobrevivem.

Um dos clássicos dos estudantes de jornalismo é o plágio. Sim, eles fazem isso com a maior cara de pau. Alguns professores descobrem e tomam atitudes, outros, fingem que não estão entendendo. Mas tudo acaba na mesma: o aluno passa, e na Uninove passa fácil, com a famosa média global. Então para que eu vou tirar 10 se o fulano tira 2 e passa? Ah, para ter um bom histórico e conseguir um bom emprego. Jura? Que piada. Para a Uninove, o aluno que tira 10 é igual ao que tira zero, tem os mesmos direitos. Na verdade, o que tira 10 é um pouco pior: é invejado, discriminado, ameaçado e amaldiçoado. E a faculdade faz vista grossa quando ele acusa o assédio moral.

Eu já me conformei que estou comprando meu diploma. Porque é isso que está acontecendo, o ensino não passa de uma mercadoria. É a coisificação do homem: eu não sirvo para nada, e a educação que deveria fazer a diferença em minha vida, é um artigo de luxo.

Acho que todas as faculdades são assim, algumas piores que as outras. No caso da Uninove, o que irrita é que a qualidade humana é péssima, e as pessoas se acham. E se há uma coisa que me irrita é gente medíocre que não sabe nem falar e acredita que é um puta jornalista.

Então tá. É por isso que esse país nunca vai dar certo. Porque se a educação virou um negócio e a saúde não existe, nunca vamos conseguir chegar a lugar nenhum. E já não há mais aeroporto para fugir. É o fim do caminho.


Janaina Pereira

Comentários
Está verborrágica e crítica esses dias. Concordo com tuas opiniões....qta mediocridade e infelicidade
 
Concordo com você Juliana. Já ouvi de diversos professores que o aluno é quem faz a universidade e confesso, um dia acreditei. É no mínimo broxante você ver seus ideais irem dia após dia por água abaixo. Na Uninove, você engole um sapo por dia, não existe coordenação, não existe administração, enfim, acho que EU não existo, o que tenho certeza que existe é o meu R.A. e o meu extrato financeiro.Este a Uninove conhece bem.
Um dia desses, conheci um dos caras que fez a primeira campanha da Uninove, na época com o Miguel Falabella, e disse a ele:"Se você tivesse noção do que é a Uninove, você se arrependeria a cada dia de ter participado da criação do MALDITO UNINOVE É DEZ".
 
Concordo com muito do que vc disse, as vezes tenho a impressão que ainda estou no colégio, este semestre por exemplo foi uma piada, terminei com a melhor média até entaum, entretanto, saí quase da mesma maneira que entrei, é lamentável ter de dizer isso, mas...enfim, se esperarmos apenas da universidade a qualificação necessária para o mercado de trabalho,estaremos correndo o sério risco de continuarmos na faculdade pra sempre, só q do lado de fora... vendendo cachorro quente.
 
Olá Jana...
Infelismente até me comovi com o que disse, pois estou trancando a faculdade. Já não aguento tanta mediocridade, falta de respeito com os alunos (e eu me incluo na lista). Não sei o q será do meu futuro, vou transferir p outra faculdade (e correr o risco de ser igual, ou um pouco melhor), mas o que não dá é justamente ter que frequentar um centro comercial todas as noites, e não um centro universitário!!
Lá dentro vc não consegue comer, pois não há espaço no intervalo, e nem sequer estudar, pois qdo vc tenta (e eu fiz bastante isso, mas deixei de fazer há 2 semestres), acham que vc quer ser a melhor, ou simplesmente tentam te menosprezar como se vc não pudesse ter o direito p tanto, já q vc paga por isso!!
Um querendo engolir o outro, e não enxergam o principal à sua frente: para quê?? Não há qualidade alguma naquilo que estamos comprando!! Se reivindicamos algo, não obteremos sucesso!!
Ali dentro, diferente da profissão a qual queremos exercer, a palavra não tem força.
Não queira começar a praticar o que vc acha q está aprendendo lá dentro, pois não vai adiantar!!
Foi só um desabafo, eu precisava!!
Sinto só em deixar sinceros amigos, mas não consigo continuar!!!
Abraços...
 
Uninove é Dez

No dia em que fui realizar a minha matrícula para estudar no campus Memorial da Universidade Nove de Julho - Uninove, havia duas filas de espera, uma de triagem e outra para efetuação da matrícula, ambas contando com apenas uma atendente cada. Milhares de alunos aguardavam de dez a doze horas para serem atendidos e alguns eram obrigados a pegar senha para voltarem no dia seguinte. Após mais de dez horas nas filas, efetuei minha matrícula, mas só consegui porque em cada fila de espera ganhei uma senha de pessoas que estavam a minha frente e haviam desistido de esperar.

No começo dos semestres letivos, ficávamos semanas sem aula de algumas disciplinas, porque alguns professores ainda não haviam sido contratados. Tivemos um professor que não compareceu a mais da metade das aulas. Este professor costumava aparecer uma vez por mês, porque trabalhava em outros projetos no horário de sua aula.

Certa vez, a atendente do meu banco errou o cálculo do desconto da mensalidade e me cobrou dez Reais a menos. Eu não conferi o cálculo e paguei a mensalidade. Para reparar o meu erro, tive que esperar na fila de espera da secretaria por mais de dez horas, sem exagero. Peguei a senha de manhã, fui para a biblioteca, saí para almoçar, tomei meu lanche das quatro horas da tarde, perdi as aulas noturnas e fui atendido após as dez horas da noite para pagar a dívida pendente, de dez Reais. Ironia do destino, mas não escolhi o número dez, trata-se de coincidência, se este for o nome para tal fenômeno.

Em certo semestre, tivemos de assistir às aulas em um espaço improvisado no meio do corredor do prédio. Este espaço era delimitado por divisórias e não possuía janela alguma, apenas um aparelho de ar condicionado que não podia ser ligado porque estava quebrado. No primeiro dia desta fase, dissemos à professora que não iríamos assistir aula naquele espaço, e ela nos disse que se quiséssemos fazer revolução que estourássemos bombas e explodíssemos a faculdade, e nos obrigou a entrar para a aula, recusando-se a colaborar com nossa reivindicação.

No final de um dos seis semestres, uma professora havia registrado uma nota inferior àquela que obtive na prova, por engano, constando uma DP indevida em meu nome. Para a reparação da nota e retirada da DP indevida, tive que procurar a coordenadora do curso por três semanas seguidas, após as quais ela me encaminhou à secretaria. Depois de esperar em uma fila de espera considerada pequena naquela secretaria (uma fila do tamanho de uma grande fila de caixa de banco), o atendente me disse que não possuía orientação alguma sobre o que deveria fazer. Na verdade, nem entendia o que havia acontecido, e me recomendou que voltasse a procurar a coordenadora. Com as várias idas e vindas que fiz durante um mês, sendo obrigado a chegar mais cedo na faculdade e perdendo algumas aulas, repararam o erro. Frequentemente presenciei tumultos, gritarias e desesperadas formas de protesto de alunos cansados de enfrentar por muitas e muitas horas a fila da secretaria sem conseguir atendimento. Todas as vezes em que entrei na coordenação, encontrei alunos indignados por não conseguirem encontrar os coordenadores. Em seis anos de estudo, todos os dias eu passei ao lado de uma grande fila de espera na secretaria, localizada ao lado do acesso de entrada do campus.
 
Certo dia, o escritor Milton Hatoum foi convidado a dar uma palestra para os alunos de um outro curso, que não o nosso. A coordenadora, percebendo que os alunos daquele curso não compareceriam à palestra, cancelou as aulas do dia do nosso e de outros cursos e obrigou os professores a encaminharem seus alunos à palestra, para que o auditório não ficasse vazio. Para não perderem a viagem, e para não ficarem com falta, muitos alunos não interessados na palestra compareceram, de modo que muitos tiveram que se amontoar no chão, pois não havia espaço suficiente no pequeno auditório. O pobre do escritor, não estando ciente da situação, acreditou que o auditório estava lotado para vê-lo, e agradeceu a presença de todos junto à coordenadora, realizadora do evento.

As carteiras das salas de aula estão todas velhas e muitas destas quebradas. Nem todas as salas possuem ventiladores, e os que estão disponíveis estão velhos, quebrados e são muito barulhentos. Nem sempre há giz e apagador disponível. Os retroprojetores estão velhos, quebrados e nem sempre estão disponíveis. Os aparelhos de áudio e vídeo para utilização em sala de aula estão velhos, quebrados e nem sempre estão disponíveis. Na biblioteca nunca há espaço suficiente para os alunos estudarem, e no acervo dificilmente os livros necessários são encontrados. A sala de vídeo não comporta, sequer, os alunos de uma única sala de aula. Não há escadas rolantes e elevadores suficientes para atender aos 12 andares, sendo que muitos alunos são obrigados a utilizarem as escadas. No laboratório de idiomas não há fone de ouvido em número suficiente para os alunos de uma sala de aula. Os fones de ouvido disponíveis estão sempre quebrados, algumas vezes dão choque, emitem ora chiado, ora forte e dolorido estampido. O campus não possui auditório, sendo utilizado um pequeno auditório, pertencente ao prédio da pós-graduação, em endereço próximo. As catracas de entrada do campus não são suficientes para todos os alunos, e estão sempre quebradas, sendo que os alunos são obrigados a passar o cartão de acesso duas ou três vezes para poderem entrar, gerando grandes e desordenadas filas e aglomerações. Algumas vezes, ocorre falha na catraca e os alunos são obrigados a enfrentar outra fila para obtenção de provisório cartão de acesso. Devo informar que o número de alunos que ali estudam, no período noturno, é de dezenas de milhares.

Em seis semestres, conclui a graduação no curso de licenciatura em Letras-Português/Inglês. De todos os alunos da minha turma, que comigo se formaram, a maioria não sabe ler, escrever ou falar apropriadamente: utilizam linguagem vulgar ao falar, com predominância de gírias e palavras chulas, não compreendem textos de revistas e jornais populares e não possuem capacidade de leitura de textos acadêmicos. A maioria escreve com grave desconhecimento de pontuação e ortografia, não conhecendo os sinais gráficos e mal utilizando os sinais que conhecem. Certa vez, uma colega me perguntou: “a palavra página tem crase?” Lembro de outra que desenhava flechinhas no início dos parágrafos. Dentre todos os formandos, apenas um possui domínio avançado em Língua Inglesa, dois ou três possuem domínio intermediário, enquanto os demais possuem dificuldade em conjugar o verbo “to be”, dentre eles, alguns não sabem construir frases no “simple present”.

Não concluirei meu depoimento. Isso porque, se continuar escrevendo, certamente me lembrarei de mais e mais absurdos. Ademais, os exemplos referidos neste texto são suficientes para a formação e fechamento do raciocínio proposto.

Felipe Stella
Letras-Português/Inglês
Turma 2007-2010
Período noturno
Uninove Memorial
 
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