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sábado, maio 19, 2007

Em foco


Eu adoro cinema, e você, leitor desse blog, sabe muito bem disso. Se eu trabalhasse com cinema, no máximo escreveria argumentos de filmes, pois roteiro não é minha praia. Eu gosto mesmo de fotografia em cinema.

Sempre presto atenção nos nomes dos diretores de fotografia e alguns eu acompanho de perto a carreira. Sou apaixonada por filmes – e fotos – em preto e branco, e talvez por isso meus preferidos sejam filmes como “O homem que não estava lá”, “Boa noite e boa sorte” e “Ed Wood”, cujas cenas fotografadas em preto e branco são primorosas.

Outro dia, na aula de fotojornalismo – talvez a que mais esperei, ao lado da aula de filosofia – aprendemos alguns recursos para mudar a imagem, e um deles – o que deixava apenas um objeto colorido numa foto toda preto e branco – me lembrou, de imediato, um filme. “A lista de Schindler” tem a clássica cena do vestido vermelho, a única cor num filme totalmente preto e branco, que indica uma passagem importante da história. Primoroso.

Já vi muitos filmes, mas alguns eu destaco por suas fotografias inesquecíveis.

Em “O homem que não estava lá”, o diretor de fotografia Roger Deakins (“Fargo”, “A Roda da Fortuna”, “Um sonho de liberdade”) dá um show. Nos extras do DVD há um longo depoimento de Deakins, que mostra como foi feita a fotografia deste filme noir dos irmãos Cohen. Este é o caso mais interessante que já vi no cinema, porque o diretor usa um preto-e-branco que cria efeitos ótimos, com muitos contrastes e jogos de luz e sombra que dizem tanto quanto as ações cometidas pelos personagens. Ele explica ainda que dá mais trabalho – e é mais caro - filmar no universo p&b, e isso implica numa exigência maior de toda a equipe técnica, principalmente da maquiagem, figurino e direção de arte. Mas o que chama a atenção em “O homem que não estava lá” é que, por questões financeiras, o filme foi feito a cores, e só depois de pronto Deakins trabalhou as cenas em p&b. Ele explica minuciosamente como o processo é feito, e para quem – como eu – gosta de fotografia, sua entrevista é um prato cheio. Por este trabalho, Roger Deakins ganhou o prêmio Bafta e concorreu ao Oscar.

Um diretor que prioriza muito os recursos fotográficos em cena é Tim Burton, do já citado “Ed Wood”. Burton tem pequenas obras-primas graças a sua habilidade como diretor e a sua parceria com dois grandes nomes da fotografia: Philippe Rousselot, que trabalhou em “Planeta dos Macacos”, “A fantástica fábrica de chocolate” e “Peixe Grande” (um filme extremamente colorido, e que a fotografia é fundamental na narrativa), e Stefan Czapsky, que foi o responsável por “Ed Wood”, “Edward Mãos de Tesoura” e “Batman, o Retorno” (que tem a melhor fotografia de todos os episódios do homem-morcego, graças ao visual gélido que envolve o Pingüim de Danny deVito).

Outro diretor que abusa da fotografia é Pedro Almodóvar. Em todos os seus filmes ele trabalha muito bem com as cores, uma de suas marcas registradas. Para isso, o diretor espanhol conta com uma lista de talentosos diretores de fotografia, como o mais assíduo deles, José Luis Alcaine, responsável pelo colorido kitsch de “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, os tons dramáticos de “Má Educação” e “Ata-me” e o vermelho vibrante que enaltece Penélope Cruz em “Volver”; Javier Aguirresarobe, dos tons neutros de “Fale com ela” e o brasileiro Affonso Beato, que deixou sua marca em duas das principais obras de Almodóvar: “Carne Trêmula” e “Tudo sobre minha mãe”.

Não posso deixar de citar o saudoso Kieslovsky, cuja trilogia das cores é um marco do cinema. “A liberdade é azul” – fotografia de Slavomir Idziak - é todo filmado em tons azulados, característica que aparece em “A igualdade é branca”- fotografia de Edward Klosinski - com suas nuances esbranquiçadas, e “A fraternidade é vermelha”- fotografia de Piotr Sobocinski - com o vermelho enaltecendo os caminhos da protagonista vivida por Irene Jacòb.

Entre os filmes nacionais, gosto da fotografia de Breno Silveira para “O homem do ano”, do José Henrique Fonseca, e de Toca Seabra para “O Invasor”, do Beto Brant, porque ambos exploram o caos das metrópoles, em particular nas cenas noturnas. O recente “O ano em que meus pais saíram de férias”, do Cao Hambúrguer, com fotografia de Adriano Goldman, também é bacana por explorar o clima dos anos 70 em sua imagem desbotada.

O ápice da fotografia nacional é “Cidade de Deus”, favorecido especialmente pela estética publicitária de Fernando Meirelles. O filme é um grande clip, onde o roteiro é encoberto pela montagem de Daniel Resende e pela fotografia de César Charlone (ambos indicados ao Oscar), que explora bem os estereotipados personagens. Meirelles, que assim como o já citado Fonseca veio da publicidade, sabe bem da importância da foto. Por isso ele abusa das técnicas fotográficas num filme que é um símbolo do cinema que enaltece a estética da pobreza. Para mim, Meirelles e Charlone só se redimem do ‘conceito publicitário de imagens’ em seu segundo filme, o majestoso “O jardineiro fiel”, esse sim um excelente objeto de estudo, por retratar a pobreza africana sem falso moralismo, e por fazer do jogo de cores quentes e frias um recurso para mostrar as diferentes trajetórias dos personagens de Ralph Fiennes e Rachel Weisz.

Além da fotografia, outra paixão que tenho no universo cinematográfico é a trilha sonora. Mas isso é assunto para outro texto.


Janaina Pereira

Comentários
Com um sorriso desse, te dou casa, comida, roupa lavada e...
Um beijo de um inofensivo-no bom sentido-anônimo!
 
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