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quinta-feira, março 22, 2007

Alejandro Sant’Ander


Quando o pequeno Alejandro apareceu em minha vida, nunca imaginei que fossemos ficar tão próximos. Menino de palavras divertidas e piadas fáceis, o jovem Sant’Ander é uma das mais dóceis figuras que conheço. Assim como eu, é fã de cinema, e por isso pedi que ele escrevesse para este blog.

Aproveitem os 3 capítulos da abordagem de meu amigo de fé e irmão camarada Alejandro Sant’Ander sobre um dos filmes mais cultuados dos últimos tempos: “Matrix”.




"E vejam como são as coisas porque, para que nos vissem, tivemos de cobrir nosso rosto; para que nos nomeassem, negamos o nome; apostamos o presente para ter um futuro; e para viver... morremos." Subcomandante Marcos




Por Alejandro Sant'Ander



Quando se escolhe a pílula vermelha
(dos vírus e outras resistências)


Parte 1


Ao tomar a pílula vermelha, o personagem Neo do filme Matrix (EUA, 1999) fez uma escolha. Se tomasse a pílula, azul ele continuaria a viver no mundo tal como o conhecia, com todas as imagens que lhe ocupavam a vida. Poderia gostar ou não delas, mas eram as imagens de um universo, no mínimo conhecido. No entanto, se sua escolha fosse pela pílula vermelha, não haveria volta. Todo o mundo que conhecia iria se esfarelar, porque a verdade seria revelada e o personagem poderia não gostar. E de fato, a pílula vermelha era um programa que retirava Neo da sua condição de escravo das máquinas, pilha de abastecimento de energia num mundo de escravos e seria transportado até uma nave que vagava pelos porões abandonados pelo grande computador, a Matrix, que adquirira vida própria. Ele passaria a ser a resistência, uma espécie de vírus combatido por agentes eficazes na produção. Sua entrada no mundo virtual, no mundo da Matrix seria por meio de ligações telefônicas e sua sobrevivência estava ligada ao treinamento em programas e software que fosse aprendendo.

A ficção ultrapassa o limite da tela do cinema quando se observa o enredo não como se ensinam a ver, mas como o revolucionário o enxerga. As coincidências deixam de ser meras coincidências e levam ao alerta. Basta raciocinar.

Na sociedade de controle do século XX, mais do que minar a energia política do indivíduo gastando sua energia mecânica, a preocupação está na ocupação de corpo e mente ao mesmo tempo. Um "mundo cor-de-rosa" é pintado nas telas do cinema e da TV, nas páginas dos jornais (ainda que com os espaços para o sangue e para o pobre, que faz parte desta falsa naturalidade, como se verá), nas placas de publicidade, nas comemorações esportivas, nos feriados e nas vitrines de supermercados. Edson Passeti, no artigo “Governamentalização do Estado e Democracia Midiática” analisa que "não se pretende minar as energias políticas do corpo, mas mostrar que a política no Estado é democrática e segura. Não há por que se preocupar com política: ela é o bem que garante segurança ao indivíduo e a produtividade com eficiência deste trabalhador disciplinado e controlado. O mundo dos sujeitos sujeitados permanece inalterado".

A discussão política é tema para os técnicos. Por este raciocínio, quem deve se preocupar com saúde, habitação, distribuição de renda é o governo, o cidadão deve discutir os casos amorosos de astros da TV, a partida de futebol, os litros de silicone das modelos, a virgindade das cantoras. É o mundo virtual, como aquele criado pela Matrix. E cada um recebe seu programa, seu banco de dados com o qual deve participar sem saber que está sendo programado.


Amanhã: segunda parte de Quando se escolhe a pílula vermelha
(dos vírus e outras resistências)

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