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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Saudades de casa



Outro dia me perguntaram o que mais eu sinto saudades do Rio. Morar com minha mãe? Trabalhar lá? Viver lá? Não sinto falta de nada disso. Eu já me acostumei com São Paulo e gosto daqui. Mas eu amo o Rio e não dá para explicar o que mais sinto falta. Eu simplesmente sinto.

No começo eu sentia falta dos amigos. Era quase insuportável, já que eu morava em São Paulo e não conhecia ninguém aqui. Também sentia muita falta da praia e dos lugares que eu freqüentava lá. Mas com o tempo isso tudo foi passando e eu sinto saudades, mas nada incontrolável como já foi um dia.

Mas o pior de morar longe, sem dúvida, e estar longe da família. Por mais problemática que ela seja, família faz parte da vida e não dá para apagá-la da existência. Eu sofro ao pensar que alguém que amo pode morrer e eu não estarei por perto. Eu sofro ao pensar que a única coisa que me liga ao Rio, de fato, é minha família. Eu sofro porque, quando a coisa fica difícil por aqui, eu só queria minha mãe por perto. E olha que para querer minha mãe por perto eu devo estar muito mal mesmo.

Minha mãe e eu sempre tivemos uma relação ruim. Nada grave, mas somos muito diferentes. Ela tentou me moldar à sua imagem e semelhança, mas eu não deixei. Sou muito mais temperamental, mal-criada e autoritária do que ela gostaria. Aprendi, desde cedo, a ser dona do meu nariz e faço o que quero e como quero. Ela detesta o meu jeito de ser, mas agora já aceita isso.

Uma das maiores revelações da minha mãe foi quando ela disse: “eu achava que você ficaria três meses em São Paulo e voltaria. Mas você não voltou.” Pois é. Nem ela levava fé em mim. Poucos levavam... e muitos quebraram a cara. Agora todo mundo acha que eu ficarei em São Paulo para sempre. Mas ‘para sempre’ é muito tempo para mim.

Uma das coisas que mais gosto em minha mãe é quando eu ligo para casa e começo a falar dos meus problemas. Ela tem sempre uma palavra de conforto. Ou quando eu omito qualquer dificuldade. Ela sempre sabe que estou escondendo algo. O que mais me irrita é quando quero conversar e ela não me ouve. Ela faz isso com freqüência, mas eu sempre a perdôo.

Mesmo não querendo, e mesmo tendo uma postura de vida diferente da dela, eu acabo falando e fazendo coisas iguais a minha mãe. Isso chega a ser engraçado, já que lutei a vida inteira para ser diferente dela. Então me pergunto como podemos ser tão diferentes e termos atitudes iguais. A genética explica.

Minha mãe é uma mulher muito legal. Eu a admiro principalmente porque ela nunca se abateu após a morte do meu pai. Não na minha frente. Ela sempre foi o apoio para que eu seguisse minha vida sem meu pai – e ela sabia que eu era muito mais apegada a ele, pois meu pai era meu porto seguro.

Sei que minha mãe esperava que eu fosse diferente. Casasse, tivesse filhos, construísse uma família bacana e, se fosse muito necessário, arrumasse um trabalho para ajudar no sustento da casa. A única coisa que ela esperava de mim é que eu não ficasse sozinha. E talvez seja justamente isso que faz ela esquecer nossas diferenças: eu consigo me virar sozinha, e ela não conseguiu.

Poucas vezes eu disse para minha mãe que a amava. Ela também não costuma dizer isso para mim. Mas nunca foi necessário. Porque todas as vezes que eu precisei, ela sempre esteve por perto. E hoje só ela pode entender o que sinto. E hoje só o amor da minha mãe pode me consolar.


Janaina Pereira

Comentários
Ainda somos os mesmo e vivemos como nossos pais, mesmo que as vezes façamos isso sem querer rs!


beijos
 
Nossa,

Vc parece uma pessoa que eu conheço!rs

Beijos
 
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