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sexta-feira, janeiro 19, 2007

Diamantes são eternos?


Dizem que os diamantes, além de eternos, são os melhores amigos de qualquer mulher. Mas o preço que se paga por eles pode ser muito alto. E não estou falando de dinheiro. A compra ilegal de diamantes originados de países africanos custa muito mais que o suor de algumas pessoas. Custa, literalmente, sangue. E é essa história extremamente dura que o diretor Edward Zwick (dos excelentes “Tempo de Glória” e “O Último Samurai”) conta de forma corajosa no excepcional “Diamante de Sangue” (Blood Diamond, EUA, 2006).

O filme se passa em Serra Leoa, no final da década de 90. O país está em plena guerra civil, com conflitos constantes entre o governo e a Força Unida Revolucionária (FUR). Neste caos vivem o arrogante e ganancioso Danny Archer (Leonardo DiCaprio, em mais uma atuação surpreendente), um mercenário sul-africano, e o pacato pescador Solomon Vandy (o ótimo Djimon Hounsou). Apesar de terem nascido no mesmo continente, eles têm histórias completamente diferentes, mas seus destinos são unidos por conta da busca por um raro diamante cor-de-rosa. Com a ajuda da idealista norte-americana Maddy Bowen (Jennifer Connelly), uma jornalista em busca da matéria que vai mudar o rumo da sua carreira, eles embarcam numa perigosa jornada em meio ao instável território.

Apesar do foco principal do filme ser as histórias de Archer e Solo – o que permite um fantástico duelo de interpretações entre DiCaprio e Hounsou – o roteiro de Charles Levitt, baseado em história de Charles Levitt e C. Gaby Mitchell, narra muito bem algumas tramas paralelas, como a da jornalista Maddy Bowen – em uma atuação convincente de Jennifer Connely – e do menino Dia (Kagiso Kuypers). O final é previsível, mas isso não tira o brilhantismo de um filme que chama atenção pela trilha sonora de James Newton Howard, tão vibrante quanto a narrativa, além da bela fotografia de Eduardo Serra, a direção ora frenética, ora documental de Zwick e o elenco inspiradíssimo.

Vale ressaltar que este é o melhor momento da carreira de Leonardo DiCaprio, que, aos 32 anos, pode ser considerado, de fato, um homem muito bonito. O ator perdeu o jeito de galã juvenil, aclamado em filmes como “Romeu + Julieta” (1996) e “Titanic” (1997), e demonstra maturidade suficiente para compor papéis densos e convincentes como este. Apesar de ter perdido o Globo de Ouro – em que recebeu dupla indicação, por “Diamante de Sangue” e “Os Infiltrados”, outra excelente atuação recente do ator já comentada neste blog – para Forrest Whitaker, DiCaprio é, atualmente, um dos melhores atores americanos em ação. No entanto, sua performance realmente salta aos olhos graças a Djimon Hounsou (revelado por Spielberg no subestimado “Amistad”), que construiu muito bem seu personagem, dando a alma necessária para o equilíbrio desta produção e contrapondo com perfeição os pontos de vistas apresentados pelo roteiro.

“Diamante de Sangue” é um relato contundente de uma violenta época que está mais no passado do que no presente, já que, hoje, os comerciantes de diamantes lapidados garantem que existe um rigoroso controle em relação à procedência das pedras. A trama é fictícia, o que não deixou de preocupar os comerciantes de jóias quando a produção começou a acontecer. Porém, o filme explora mais os conflitos civis ligados ao comércio ilegal das pedras.

A história é estritamente local, mas se torna universal por ter personagens movidos por valores humanos comuns, como a ética, a moral e a ganância. Além disso, ela envolve o espectador ao mostrar a aventura pela qual passam os protagonistas. A trama é complicada, bem como o tema abordado, mas existem laços emocionais no roteiro que criam uma empatia quase que automática com o público, que se envolve completamente na narrativa. Saí do cinema com vontade de ver o filme mais umas três vezes, no mínimo. Porque “Diamante de Sangue” é um daqueles filmes que marcam o espectador pela densidade como foi feito. É grandioso, comovente, único. Simplesmente imperdível.


Janaina Pereira

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