<$BlogRSDUrl$>

sábado, novembro 11, 2006

A televisão não me deixou burra


A última aula de jornalismo comparado do professor Farias levantou uma questão interessante. Analisávamos o jornalismo sensacionalista, e o programa em questão era o Brasil Urgente, do José Luis Datena. Para mim, o Datena sempre esteve associado ao esporte. E aí veio a grande sacada da noite: boa parte dos apresentadores de programas sensacionalistas também veio do jornalismo esportivo.

Lembro do Datena como repórter e confesso que nunca gostei dele. Como narrador então, ele era irritante. Mas fiquei surpresa quando ele se tornou apresentador de um programa sensacionalista. O jornalismo esportivo, na verdade, já é sensacionalista por si só. Aquelas mesas-redondas, com apresentadores histéricos, não podem ser levadas a sério. E olha que eu adoro assistir mesa-redonda.

E pensar que na minha adolescência eu queria ser repórter esportiva. Eu adorava a Isabela Scallabrini, uma repórter da Globo que por anos foi a única mulher no jornalismo esportivo carioca. Quando a Isabela foi cobrir as Olimpíadas de 88, em Seul, foi uma conquista feminina, já que até então a Globo só fazia as coberturas internacionais do esporte com os jornalistas homens. Hoje, legal é ter a Fátima Bernardes apresentado matérias na porta da concentração da seleção brasileira durante a Copa do Mundo. Sem comentários.

A mulher nada mais é que um atrativo para o jornalismo feminino. Afinal, a gente não entende de futebol, certo? Errado. Eu sempre gostei de futebol. Aliás, eu adoro esporte. Assistia ao Show do Esporte, nos anos 80, quando ele monopolizava a programação de domingo da TV Bandeirantes, começando às 11h da manhã com o Campeonato Italiano e acabando tarde da noite... nessa época, o vôlei passou a ser (re)conhecido, e até a sinuca, com seu campeão Rui Chapéu, ganhava seu espaço. Eu também assistia todas as corridas de Fórmula 1. E gostava bastante do Roberto Cabrini. Quando ele apareceu entrevistando o PC Farias, pensei:’o que o Cabrini está fazendo? Ele é repórter esportivo!”Pois é. Ele era. A Fórmula 1 virou mania na Globo e a Band contra-atacou com a Fórmula Indy. Portanto, eu vi até o Emerson Fittipaldi correr. E assim a TV explorava a programação esportiva até descobrir que o jornalismo ‘espremeu, sai sangue’ podia render melhores frutos.

Como eu já passei dos 30, presenciei uma TV diferente nos anos 80. Era o início da ascensão da comunicação de massa. Além do jornalismo esportivo ter muito destaque, a programação infantil começou a perder espaço na época. Trocaram o excelente “Sitío do Pica-Pau Amarelo” pela Xuxa e seus produtos que vendiam milhões. A Xuxa é o ícone da comunicação de massa. Poucas vezes vi alguém ser tão imitado quanto ela.

Sobre o sensacionalismo na televisão, sou do tempo do programa “O povo na TV”. Minha mãe adorava. O programa passava todos os dias, dominando as tardes da TVS (que seria, num futuro próximo, o SBT) do Silvio Santos. E a parte que dava mais ibope eram os casos policiais resolvidos pelo Wagner Montes. Eu tinha uns seis anos na época e lembro bem. O “Aqui e Agora” veio depois. Mas o perfil – do programa e do público – continuavam os mesmos.

Eu sou cria da comunicação de massa. Passei minha infância e adolescência em frente da TV. Assistia de tudo, e sou capaz de lembrar de reportagens inteiras. Como a matéria que o Márcio Canuto – divertido repórter esportivo da Globo – fez na Aveninda Rio Branco, no RJ, durante a Copa do Mundo de 86. Ele deitou-se na avenida, que é supermovimentada, e ficou lá por muito tempo. Não passava carro. Era dia de jogo do Brasil.

Atualmente eu quase não vejo televisão. Não gosto. Fico com sono. Mas, talvez por ter consumido vorazmente o conteúdo da televisão quando eu era mais jovem, pude perceber o mal que ela faz na formação de opinião. Não é à toa que sou frankfurtiana e apocalíptica.

Eu cresci lendo jornal e vendo TV. Por isso sempre tive um olhar crítico para a comunicação. Mas que bom que foi assim. Porque eu não quero, nunca, na minha vida, ser um a Fátima Bernardes. Não é esse o objetivo. Até porque eu não vou fazer escova defintiva para parecer na televisão. Pois é. Padrão estético, algo que faz parte da TV de forma assustadora. E lá vamos nós observar que tudo na TV gira em torno da estética. Até no jornalismo sensacionalista. O apresentador tem que ser teatral. E as matérias têm que jorrar umas gotinhas de sangue para dar audiência. É isso que o povo gosta? Não necessariamente. Função narcotizante, diriam Paul Lazarfeld e Robert Merton. As pessoas assistem e até podem questionar o conteúdo do jornalismo sensacionalista, mas aceitam e continuam passivas.

É por isso que minha vida de publicitária sempre gerou conflitos. Eu sou obrigada a ver TV – porque todo publicitário quer fazer um comercial, seu pequeno filme de 30 segundos - mas eu não gosto de TV. Então eu não vejo. E não sei os comerciais que estão passando. Então não sou uma publicitária antenada com a profissão. Porque minha vida não gira em torno de comerciais. Nem de programas sensacionalistas. Eu penso, logo existo para criticar e questionar.

Posso dizer que a televisão não me alienou. A função narcotizante não deu certo para mim. As drogas não fazem efeito na minha mente. A TV não deu certo em minha vida. E, definitivamente, eu não faço parte do “Show de Truman”.



Janaina Pereira

Comentários Postar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?