<$BlogRSDUrl$>

segunda-feira, novembro 13, 2006

A ditadura a flor da pele


O cinema estava lotado de bons filmes neste final de semana, coisa rara. Scorcese e Almodóvar, dois dos meus diretores favoritos, com filmes novos... difícil escolher. Mas eu e Fabinho optamos por um filme nacional: “O ano em que meus pais saíram de férias”. Escolha certeira. Sua temática intimista e a relação entre política e vida pessoal dos personagens é uma combinação que em canta o mais exigente dos espectadores.

Dirigido por Cao Hambuerguer, um especialista em direção de crianças – é dele o “Castelo Rá-tim-bum” - “O ano em que meus pais saíram de férias” tem com grande trunfo a atuação dos atores mirins Michel Joelsas e Daniela Piepszyk. Carismáticos e espontâneos, a dupla brilha ao lado do ator Germano Haiut, enchendo a tela de lirismo e sensibildiade.

O roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger, baseado em história original de Cláudio Galperin e Cao Hamburger, narra a história do pequeno Mauro (Michel Joelsas), um garoto mineiro que, em 1970, adora futebol e jogo de botão. Um dia sua vida muda completamente, já que seus pais saem de férias de forma inesperada e sem motivo aparente para ele. Na verdade, os pais de Mauro foram obrigados a fugir por serem perseguidos pela ditadura, tendo que deixá-lo em São Paulo com o avô paterno (Paulo Autran). Mas, ao chegar a casa do avô, Mauro é surpreendido com uma notícia, que faz com que ele tenha que ficar com Shlomo (Germano Haiut), um velho judeu solitário. Enquanto aguarda um telefonema dos pais, Mauro precisa lidar com sua nova realidade, que tem momentos de tristeza pela situação em que vive e também de alegria, como a amizade com Hannah (Daniela Piepszyk ) e o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo.

O excelente roteiro levou quatro anos até ser concluído e foi realizada uma pesquisa com mais de mil crianças, para a seleção dos intérpretes dos personagens pré-adolescentes. O filme ganhou o Troféu Redentor de Melhor Filme - Júri Popular, no Festival do Rio e também o Prêmio do Júri - Menção Honrosa e o Prêmio Petrobras Cultural de Difusão - Melhor Filme de Ficção, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Além do elenco afinado e do roteiro inteligente (o paralelo com a Copa do Mundo é brilhante), o filme conta com fotografia primorosa, direção de arte perfeita e a direção precisa de Cao Hamburguer, com tomadas de cena que exploram as emoções e situações intensas vividas pelos personagens. É uma história emotiva, mas, ao mesmo tempo sóbria, sem nunca ser piegas ou apelativa. A trajetória de Mauro é melancólica, mas também cheia de irreverência, como a paixão platônica por uma mulher mais velha ou a incessante busca por uma figurinha para completar o álbum da Copa.

“O Ano em que meus pais saíram de férias" é um dos filmes mais sensíveis produzidos no cinema brasileiro nos últimos anos. É o retrato da geração que cresceu sob a sombra da ditadura.


Janaina Pereira

Comentários Postar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?