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segunda-feira, setembro 04, 2006

Sexo frágil?


Outro dia, na aula de legislação, percebi o quanto ainda temos que mudar nossas atitudes diante do machismo do mundo. Eu estou cansada. Desde que nasci, e minha mãe chorou porque eu era mulher e, segundo ela, mulher sofre, sou obrigada a conviver com atos de discriminação pelo simples fato de ser mulher.

Ser mulher não é fácil. Mas eu gosto. Não gostaria de ser homem e ter que fazer barba. Ou fingir que não choro para ser macho. Ou ter que pegar todas as mulheres do mundo para ser macho. Ou não poder ficar na minha porque macho tem que ter atitude. Homem não tem que ser homem: tem que ser macho. Outro dia ouvi que o Universo masculino é mais difícil que o feminino. Deve ser mesmo. Porque homem não tem que ser homem... tem que ser macho.

Já mulher tem que ser mulherzinha. Tem que ter filhos, ser charmosa, meiga, casar, estar sempre bonita e bem disposta para o coito. Mulher só serve para parir, transar e cozinhar, não necessariamente nesta ordem.

Eu odeio ser mulherzinha. Apesar da minha aparência delicada, estou longe de ser uma. Fui criada para casar, ter filhos e ser uma excelente dona de casa. Mas minha mãe se deu mal neste tipo de criação: graças aos conselhos do meu pai, eu sempre achei que o mundo era meu lugar. Quantas vezes eu ouvi que faço coisas que homem não faz? Por que será?

Por que eu tive coragem de sair de casa e mudar para uma cidade estranha, sozinha, sem apoio, sem dinheiro e sem um homem para segurar minha barra? Ou porque nunca aceitei calada os preconceitos que sofri? Ou por que eu me sustento sem precisar da ajuda de ninguém? Ou por que eu tenho coragem de falar e fazer o que eu quero?

Talvez eu seja menos mulher porque gosto de futebol. Ou porque não acho que preciso me casar e ter filhos para ser feliz. Ou porque tenho certeza que homem nenhum nessa vida vai tirar a independência que eu conquistei. O dia que ouvi de um ex-namorado que eu era mais forte que ele, foi o dia que tive certeza de que ele merecia um pé na bunda. A vida está cheia de gente fraca. Mas se assumir fraco e aceitar isso passivamente, aí é demais para mim. Não preciso de pessoas fracas ao meu lado.

Tenho orgulho de ser mulher, apesar de achar um saco menstruar e ainda ter que aturar as piadinhas machistas quando estou com TPM. É péssimo sentir dor, ficar de mau humor e ainda ter que trabalhar sorrindo. Não sou assim. Trabalhei numa agência de publicidade que tinha uma mulher no departamento de atendimento que era a própria mulherzinha. Toda meiga, toda fina, toda delicadinha... e os homens babavam por ela. Faziam o que ela pedia, achavam a mulherzinha o máximo. E como eles me viam? A mal humorada, chata e implicante, que brigava para aprovar qualquer anúncio meia-boca. Desbocada disfarçada de mulher que usa saia e anda de salto. Como eu poderia ser tão feminina e ao mesmo tempo tão masculina?

Por que sou mulher mas a vida me ensinou a ter atitudes de homem. Sempre trabalhei com maioria masculina, e fui obrigada a agir como um. Quando, numa hierarquia, fui obrigada a comandar um grupo de homens, o primeiro que me desrespeitou levou um fora monumental. Não mando menos porque tenho seios e sangro todo mês. Sou muito mais inteligente, esperta e competente que boa parte dos homens que andam por aí. E, acreditem, algumas vezes já ganhei mais que o meu namorado. E isso resultava em problemas na hora de pagar a conta do restaurante.

Se gritarem comigo, eu grito de volta. Se tentar me agredir, eu sei como me defender. Se me ameaçar também. Já fui demitida porque era mulher e mulher não sabe escrever. Eu tinha 20 anos de idade. Hoje, se algum imbecil disser que eu não sei o que estou fazendo, não vai me fazer derramar uma lágrima. Por que eu aprendi a acreditar na minha capacidade.

Claro que os homens não gostam de mulheres como eu. Mas as mulheres também não. Sentem-se ameaçadas, muitas vezes diminuídas, por alguém que pode vencer na vida sem precisar ter passado por cima dos outros. Aprendi a sobreviver num mundo machista, cheio de gente que ainda especula se mulher bonita pode ser inteligente. Até porque, é mais fácil lidar com mulher bonita do que com mulher inteligente.

E, definitivamente, não sou uma mulher de perguntas. Sou uma mulher de respostas.



Janaina Pereira

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