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domingo, julho 09, 2006

Um tom azul desbotado no ar


E a Itália é tetracampeã mundial de futebol. Uma vitória sem brilho, sem força e sem graça. Mesmo jogando muito melhor, a França perdeu numa atitude passional de seu principal jogador, Zinedine Zidane. E é sobre ele que eu quero escrever.

Cada vez mais eu acho o jornalismo esportivo brasileiro um tédio. Sem nenhuma convicção de suas palavras, os jornalistas brasileiros insistem em se perder nas regras e lendas que criam. Desde o jogo em que o Brasil perdeu para a França que a imprensa brasileira virou fã número zero do Zidane. Óbvio que ele é um fantástico jogador. Mas todo seu talento caiu por terra quando ele deu uma cabeçada no italiano Materazzi, após ter ouvido algo que não gostou.

Apesar de elegante e comedido, Zizou já havia mostrado ter personalidade forte: no segundo jogo da França na primeira fase da Copa, quando foi substituído a um minuto do fim da partida, jogou a braçadeira de capitão no chão e saiu visivelmente irritado. Por isso sua atitude na final não chega a ser surpreendente. Quando o sangue ferve, quem se exalta com maior facilidade não segura a onda. E isso não tem nada a ver com inteligência ou elegância. Tem a ver com personalidade forte. Claro que a atitude de Zidane foi passional. No calor do jogo, ele perdeu a cabeça, faltando poucos minutos para acabar a prorrogação de uma partida em que ele havia feito um gol e a França mandava. Ninguém sabe o que ele ouviu, mas ele certamente se arrependeu do que fez quando foi expulso e encerrou sua carreira cabisbaixo, rumo aos vestiários. A França perdeu nos pênaltis e não poderia ser diferente. Imaginem se a França vence! Seria no mínimo constrangedor ver os franceses comemorando após a patética cena de Zidane. E os deuses do esporte não perdoam, nem mesmo aqueles talentos raros que eles abençoam. Zidane, com sua cabeçada sem propósito, deixou a França na mão. E sem a taça.

Mas a atitude do jogador francês não tira os méritos de grande craque que ele foi. E dizer que um cara inteligente e elegante como ele não pode ter atitudes assim é de uma hipocrisia absurda. Pessoas inteligentes também têm emoção e perdem a razão de vez em quando. Nesta mesma Copa o também elegante e sensato Luís Figo, de Portugal, fez a mesma coisa. E nosso também elegante e tranqüilo Leonardo, por causa de uma cotovelada num americano nas oitavas de final da Copa de 94, foi expulso e suspenso por três jogos. Na ocasião a imprensa brasileira defendeu ardorosamente o Leo, que realmente não é um jogador violento. Nem ele conseguia explicar o porquê da agressão. Foi um impulso, o momento, uma reação de defesa diante de um puxão do adversário. Isso nunca fez dele um jogador menos honrado, e eu acho que este é o mesmo caso do Zidane.

Agora todo mundo vai criticar o craque francês, que já deve estar constrangido o suficiente pela sua atitude. Mas a imprensa brasileira não precisa enterrá-lo de maneira tão mórbida só porque ele é o nosso carrasco. Fazer o que? Somos fregueses da França mesmo e ainda que um dia a gente vença os franceses em Copa, nunca paramos o Zidane.

Vou defendê-lo não por sua atitude, mas porque reações passionais fazem parte da vida humana. Assim como eu acho um absurdo a imprensa criticar o Ronaldo, que por seu passado merece todo nosso respeito, acho ridícula essa conversada fiada de que pessoas inteligentes não podem errar. A hipocrisia é uma característica que predomina na vida. No jornalismo, particularmente o esportivo, ela é predominante.


Janaina Pereira

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