sexta-feira, julho 28, 2006
Saldo das férias – Parte I
Entre os mais de vinte filmes que vi e revi nestas férias, selecionei alguns que valem a pena conferir. Prepare-se: cinco das dez indicações são produções em preto e branco. Se você não viu esses filmes, eles merecem a locação. Mas se já viu, pode ver de novo sem contra-indicações.
1 – O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ – a obra-prima sobre paixão, crime e castigo escrita pelos irmãos Joel e Ethan Coen. Nos anos 40, Ed Crane (Billy Bob Thornton, em atuação excepcional) é um barbeiro infeliz, que vive com sua esposa Doris (Frances McDormand). Ao descobrir a traição da mulher, Ed passa a planejar uma trama de chantagem, mas seu plano engenhoso revela segredos obscuros. Indicado ao Oscar de melhor fotografia e produzido em preto e branco, o que proporciona uma grandiosidade poucas vezes vista num filme. O roteiro é brilhante, repleto de reviravoltas, e isso faz a história ser fascinante. Atores em interpretações memoráveis e a impecável direção de Joel Coen (“Fargo”) fazem desta produção uma das melhores do início do século XXI. Imperdível.
2 – O TIGRE E O DRAGÃO – mais um filme com a marca genial de Ang Lee (“O segredo de Brokeback Mountain”) e primeiro trabalho do diretor com artes marciais. A história de duas mulheres (Michelle Yeoh e Zhang Ziyi), exímias lutadoras, cujos destinos se tocam em meio à Dinastia Ching. Uma tenta se ver livre do constrangimento imposto pela sociedade local, mesmo que isso a obrigue a deixar uma vida aristocrática. A outra, em sua cruzada de honra e justiça, apenas descobre as conseqüências do amor tarde demais. O destino conduzirá essas mulheres a uma violenta e surpreendente jornada, que irá forçá-las a fazer uma escolha que poderá mudar suas vidas. Ganhou quatro Oscars: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora. Recebeu ainda outras seis indicações. É totalmente falado em mandarim e além da trama de amor, respeito e honra, destaca-se o figurino, a fotografia, a direção de arte e as cenas de luta, coreografadas com perfeição. Um filme belo, forte e arrebatador.
3 – TÃO LONGE, TÃO PERTO – o poético filme do diretor alemão Win Wenders (“Paris, Texas”) é uma das melhores produções dos anos 90. Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes em 1993. O roteiro, original e denso, conta a história de um anjo (o ótimo Otto Sanders) que ousa cruzar a linha, chegando à cidade de Berlim passando pela dura realidade do pós-Guerra Fria. Ele acaba engajado em um combate fatal para proteger os mortais que ama. O elenco tem ainda Natassja Kinski, Willen Dafoe, Peter Falk, Bruno Ganz e Mickail Gorbatchev – ele mesmo, o ex-presidente da URSS. Destaque para a trilha sonora com músicas de Lou Reed (que faz uma participação no filme) e U2 (a belíssima “Stay – So faraway, so close”). A fotografia, alternando o preto e branco (nas cenas com o olhar dos anjos) e o colorido (nas cenas dos mortais) é um show à parte. O sucesso deste filme rendeu uma versão americana, “Cidade dos Anjos”, com Nicholas Cage e Meg Ryan, que não chega aos pés da dramaticidade, ternura e força do original.
4 – A MONTANHA DOS SETE ABUTRES – clássico noir de Billy Wilder (“Crepúsculo dos Deuses” e “Quanto mais quente melhor”) e filme obrigatório para discussões sobre ética. Em Albuquerque, Novo México, o veterano repórter Charles Tatum (Kirk Douglas, em atuação espetacular) está entediado em busca de uma grande matéria. Por acaso, ele descobre que um homem, Leo Minosa (Richard Benedict), ficou preso em uma mina quando procurava por "relíquias indígenas”. Tatum transforma o resgate de Leo em um assunto nacional, atraindo milhares de curiosos, cinegrafistas de noticiários e comentaristas de rádio, e as conseqüências de seus atos são surpreendentes. Recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro e ganhou o Prêmio Internacional, no Festival de Veneza, em 1951. Filmado em preto e branco.Wilder se inspirou na história real de Floyd Collins, que ficou preso em uma montanha, para fazer uma crítica a chamada imprensa marrom.
5 – TRAMA MACABRA – o último filme dirigido pelo mestre Alfred Hitchcock, em 1976. A falsa médium Madame Blanche (Barbara Harris) e seu namorado taxista George (Bruce Dern) tentam roubar o dinheiro da velhinha Julia Rainbird (Cathleen Nesbitt), dizendo que podem se comunicar com seu falecido sobrinho. Mas, como num clássico filme de Hitchcock, nem tudo é o que parece. O mestre do suspense deixa sua marca no roteiro, que reserva uma surpresa para o final.
6 - O QUARTO PODER – raro filme de Costa-Gravas (“Missing – Desaparecido”) sem conotação política. Dessa vez, o diretor grego discute os valores do jornalismo. Ao realizar uma matéria em um museu de Madeline, na Califórnia, o repórter Max Brackett (Dustin Hoffman), se depara com o ex-funcionário Sam Baily (John Travolta) que pede seu emprego de volta à diretora do local e, acidentalmente, dispara um tiro. O jornalista decide então aproveitar a chance para conseguir cobertura exclusiva do caso e retornar à fama. Manipulação da imprensa, a busca pela audiência a qualquer preço e a idéia de que a verdade não é tão importante assim são alguns dos temas abordados pelo filme. O título em português é uma alusão a força da mídia, considerada justamente o quarto poder.
7 - O HOMEM QUE COPIAVA - André (Lázaro Ramos) é um jovem de 20 anos que trabalha numa fotocopiadora em Porto Alegre. Ele mora com a mãe e tem uma vida comum, basicamente vivendo de casa para o trabalho e realizando sempre as mesmas atividades. Um dia André se apaixona por Sílvia (Leandra Leal), uma vizinha, a qual passa a observar com os binóculos em seu quarto. Decidido a conhecê-la melhor, André descobre que ela trabalha em uma loja de roupas e, para conseguir uma aproximação, tenta de todas as formas conseguir R$38 ,00 para comprar um suposto presente para sua mãe. Roteiro esperto e mais um excelente filme de Jorge Furtado (“Ilha das Flores”).
8 - A SANGUE FRIO – adaptação de um dos melhores livros de todos os tempos, “A cold blood”,de Truman Capote – que foi escrito a partir de uma história real. Dois ex-condenados, Perry (Robert Blake) e Dick (Scott Wilson), invadem a casa de um fazendeiro na intenção de roubar um cofre que na verdade não existe. Sem querer deixar testemunhas, eles matam o fazendeiro e sua família. Tem início então uma busca para prendê-los. Dirigido e adaptado por Richard Brooks em 1967. Originalmente em preto e branco.
9 - MELHOR É IMPOSSÍVEL – em Nova York, um escritor grosseiro e sarcástico (Jack Nicholson) tem como alvos principais um artista gay (Greg Kinnear), que é seu vizinho, e uma garçonete (Helen Hunt) que enfrenta problemas por ser mãe solteira e ter que se desdobrar para cuidar de seu filho, que tem asma crônica. Mas o destino vai fazer com que eles fiquem muito mais próximos do que poderiam imaginar. Divertida história dirigida por James L. Brooks (“Laços de ternura”) com grandes momentos, graças ao elenco afinado. Vencedor de dois Oscar: melhor ator para Nicholson e melhor atriz para Hunt.
10 – OS INOCENTES – conto gótico de 1961, adaptado da novela “A volta do parafuso” de Henry James. Originalmente em preto e branco, com fotografia e direção de arte primorosas, é dirigido por Jack Clayton e estrelado pela diva Débora Kerr. Jovem governanta (Kerr) aceita cuidar de um casal de crianças órfãs de aparência angelical, que parecem esconder uma força terrivelmente maléfica. Considerado um dos mais assustadores longas-metragens de todos os tempos, é a fonte de inspiração de vários filmes de terror e suspense, como, por exemplo, o recente “Os outros”.
Janaina Pereira
Entre os mais de vinte filmes que vi e revi nestas férias, selecionei alguns que valem a pena conferir. Prepare-se: cinco das dez indicações são produções em preto e branco. Se você não viu esses filmes, eles merecem a locação. Mas se já viu, pode ver de novo sem contra-indicações.
1 – O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ – a obra-prima sobre paixão, crime e castigo escrita pelos irmãos Joel e Ethan Coen. Nos anos 40, Ed Crane (Billy Bob Thornton, em atuação excepcional) é um barbeiro infeliz, que vive com sua esposa Doris (Frances McDormand). Ao descobrir a traição da mulher, Ed passa a planejar uma trama de chantagem, mas seu plano engenhoso revela segredos obscuros. Indicado ao Oscar de melhor fotografia e produzido em preto e branco, o que proporciona uma grandiosidade poucas vezes vista num filme. O roteiro é brilhante, repleto de reviravoltas, e isso faz a história ser fascinante. Atores em interpretações memoráveis e a impecável direção de Joel Coen (“Fargo”) fazem desta produção uma das melhores do início do século XXI. Imperdível.
2 – O TIGRE E O DRAGÃO – mais um filme com a marca genial de Ang Lee (“O segredo de Brokeback Mountain”) e primeiro trabalho do diretor com artes marciais. A história de duas mulheres (Michelle Yeoh e Zhang Ziyi), exímias lutadoras, cujos destinos se tocam em meio à Dinastia Ching. Uma tenta se ver livre do constrangimento imposto pela sociedade local, mesmo que isso a obrigue a deixar uma vida aristocrática. A outra, em sua cruzada de honra e justiça, apenas descobre as conseqüências do amor tarde demais. O destino conduzirá essas mulheres a uma violenta e surpreendente jornada, que irá forçá-las a fazer uma escolha que poderá mudar suas vidas. Ganhou quatro Oscars: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora. Recebeu ainda outras seis indicações. É totalmente falado em mandarim e além da trama de amor, respeito e honra, destaca-se o figurino, a fotografia, a direção de arte e as cenas de luta, coreografadas com perfeição. Um filme belo, forte e arrebatador.
3 – TÃO LONGE, TÃO PERTO – o poético filme do diretor alemão Win Wenders (“Paris, Texas”) é uma das melhores produções dos anos 90. Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes em 1993. O roteiro, original e denso, conta a história de um anjo (o ótimo Otto Sanders) que ousa cruzar a linha, chegando à cidade de Berlim passando pela dura realidade do pós-Guerra Fria. Ele acaba engajado em um combate fatal para proteger os mortais que ama. O elenco tem ainda Natassja Kinski, Willen Dafoe, Peter Falk, Bruno Ganz e Mickail Gorbatchev – ele mesmo, o ex-presidente da URSS. Destaque para a trilha sonora com músicas de Lou Reed (que faz uma participação no filme) e U2 (a belíssima “Stay – So faraway, so close”). A fotografia, alternando o preto e branco (nas cenas com o olhar dos anjos) e o colorido (nas cenas dos mortais) é um show à parte. O sucesso deste filme rendeu uma versão americana, “Cidade dos Anjos”, com Nicholas Cage e Meg Ryan, que não chega aos pés da dramaticidade, ternura e força do original.
4 – A MONTANHA DOS SETE ABUTRES – clássico noir de Billy Wilder (“Crepúsculo dos Deuses” e “Quanto mais quente melhor”) e filme obrigatório para discussões sobre ética. Em Albuquerque, Novo México, o veterano repórter Charles Tatum (Kirk Douglas, em atuação espetacular) está entediado em busca de uma grande matéria. Por acaso, ele descobre que um homem, Leo Minosa (Richard Benedict), ficou preso em uma mina quando procurava por "relíquias indígenas”. Tatum transforma o resgate de Leo em um assunto nacional, atraindo milhares de curiosos, cinegrafistas de noticiários e comentaristas de rádio, e as conseqüências de seus atos são surpreendentes. Recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro e ganhou o Prêmio Internacional, no Festival de Veneza, em 1951. Filmado em preto e branco.Wilder se inspirou na história real de Floyd Collins, que ficou preso em uma montanha, para fazer uma crítica a chamada imprensa marrom.
5 – TRAMA MACABRA – o último filme dirigido pelo mestre Alfred Hitchcock, em 1976. A falsa médium Madame Blanche (Barbara Harris) e seu namorado taxista George (Bruce Dern) tentam roubar o dinheiro da velhinha Julia Rainbird (Cathleen Nesbitt), dizendo que podem se comunicar com seu falecido sobrinho. Mas, como num clássico filme de Hitchcock, nem tudo é o que parece. O mestre do suspense deixa sua marca no roteiro, que reserva uma surpresa para o final.
6 - O QUARTO PODER – raro filme de Costa-Gravas (“Missing – Desaparecido”) sem conotação política. Dessa vez, o diretor grego discute os valores do jornalismo. Ao realizar uma matéria em um museu de Madeline, na Califórnia, o repórter Max Brackett (Dustin Hoffman), se depara com o ex-funcionário Sam Baily (John Travolta) que pede seu emprego de volta à diretora do local e, acidentalmente, dispara um tiro. O jornalista decide então aproveitar a chance para conseguir cobertura exclusiva do caso e retornar à fama. Manipulação da imprensa, a busca pela audiência a qualquer preço e a idéia de que a verdade não é tão importante assim são alguns dos temas abordados pelo filme. O título em português é uma alusão a força da mídia, considerada justamente o quarto poder.
7 - O HOMEM QUE COPIAVA - André (Lázaro Ramos) é um jovem de 20 anos que trabalha numa fotocopiadora em Porto Alegre. Ele mora com a mãe e tem uma vida comum, basicamente vivendo de casa para o trabalho e realizando sempre as mesmas atividades. Um dia André se apaixona por Sílvia (Leandra Leal), uma vizinha, a qual passa a observar com os binóculos em seu quarto. Decidido a conhecê-la melhor, André descobre que ela trabalha em uma loja de roupas e, para conseguir uma aproximação, tenta de todas as formas conseguir R$38 ,00 para comprar um suposto presente para sua mãe. Roteiro esperto e mais um excelente filme de Jorge Furtado (“Ilha das Flores”).
8 - A SANGUE FRIO – adaptação de um dos melhores livros de todos os tempos, “A cold blood”,de Truman Capote – que foi escrito a partir de uma história real. Dois ex-condenados, Perry (Robert Blake) e Dick (Scott Wilson), invadem a casa de um fazendeiro na intenção de roubar um cofre que na verdade não existe. Sem querer deixar testemunhas, eles matam o fazendeiro e sua família. Tem início então uma busca para prendê-los. Dirigido e adaptado por Richard Brooks em 1967. Originalmente em preto e branco.
9 - MELHOR É IMPOSSÍVEL – em Nova York, um escritor grosseiro e sarcástico (Jack Nicholson) tem como alvos principais um artista gay (Greg Kinnear), que é seu vizinho, e uma garçonete (Helen Hunt) que enfrenta problemas por ser mãe solteira e ter que se desdobrar para cuidar de seu filho, que tem asma crônica. Mas o destino vai fazer com que eles fiquem muito mais próximos do que poderiam imaginar. Divertida história dirigida por James L. Brooks (“Laços de ternura”) com grandes momentos, graças ao elenco afinado. Vencedor de dois Oscar: melhor ator para Nicholson e melhor atriz para Hunt.
10 – OS INOCENTES – conto gótico de 1961, adaptado da novela “A volta do parafuso” de Henry James. Originalmente em preto e branco, com fotografia e direção de arte primorosas, é dirigido por Jack Clayton e estrelado pela diva Débora Kerr. Jovem governanta (Kerr) aceita cuidar de um casal de crianças órfãs de aparência angelical, que parecem esconder uma força terrivelmente maléfica. Considerado um dos mais assustadores longas-metragens de todos os tempos, é a fonte de inspiração de vários filmes de terror e suspense, como, por exemplo, o recente “Os outros”.
Janaina Pereira
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