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sábado, julho 15, 2006

As cores do mundo


O mundo inteiro queria saber o que Marco Materazzi disse para Zinédine Zidane que fez o craque francês atingir o italiano com uma cabeçada feroz na final da Copa do Mundo. As explicações aparecem aos poucos mas a mídia não faz questão de falar de um ato muito mais chocante. Durante a Copa, o francês Jean-Marie Le Pen, presidente do xenófobo partido Frente Nacional, disse que a seleção francesa tinha negros demais. Com a derrota na final, Le Pen acusou os negros e árabes da seleção pelo resultado. Racismo e xenofobia: esses são assuntos muito mais perturbadores do que a cabeçada de Zidane.

A questão foi polêmica durante a Copa, mas pouco divulgada. Raymond Domenech, técnico da França, defendeu os jogadores, o jogador Thuram reclamou de Le Pen e ficou tudo por isso mesmo. A confusão entre Materazzi e Zidane acabou abafando os comentários da direita radical francesa, que comemorou a derrota da seleção - que por ser multiracial é chamada de ‘arco-íris’ - das piores formas possíveis. O semanário de direita ‘Minute’ publicou, no dia seguinte da final da Copa, a manchete “Tchau, bandido”, referindo-se a despedida de Zidane do futebol. Zidane é filho de argelinos e nunca negou suas origens, sendo um dos maiores ativistas das campanhas contra o racismo e a xenofobia.

Em 1998, quando conquistou seu título mundial, a França tinha na seleção oito jogadores negros. O time que entrou em campo contra a Itália tinha sete negros como titulares, sendo que quatro não nasceram no país. E dos 23 jogadores que foram à Alemanha, 15 são negros, e seis nasceram na África e Caribe. A França tinha a equipe mais multicultural da Copa, superando inclusive a seleção brasileira. E perdeu a competição justamente para a Itália, predominantemente branca.

É assustador saber que um país tão desenvolvido tenha esse tipo de problema. A ilusão é que somente o mundo subdesenvolvido tem cor na pele. Negros, mulatos e filhos de imigrantes formam as minorias, e eles estão presentes em várias partes do mundo. Na Europa, aparecem em massa na França, onde encontram dificuldades de integração. Segundo Le Pen, pessoas como Zidane, Henry e Vieira não representam a composição racial francesa. Já Zizou prefere dizer que foi o futebol que pode levar a França uma certa harmonia racial.

Mesmo tendo como exemplo uma guerra causada pela busca da raça pura, o mundo parece não ter aprendido a lição. Então este seria um bom momento para pensarmos que preconceito e discriminação estão cada vez mais em evidência. É uma bomba prestes a explodir. Vamos começar desde agora a refletir sobre isso e, principalmente, a tomar uma posição diante desse assunto. Porque xenofobia e racismo estão além do que se vê à flor da pele.


Janaina Pereira

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