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sábado, março 04, 2006

A vida imita a arte


Truman Capote foi um dos maiores escritores do século passado. Autor do clássico “Bonequinha de Luxo” (que inspirou o filme de Blake Edwards, com Audrey Hepburn) ele já era famoso quando escreveu o primeiro livro de não ficção, que se tornou um marco da literatura mundial: “A sangue frio”, sobre o assassinato de uma família numa cidade do Kansas. O processo de criação do livro, que levou sete anos para ser escrito, mudou para sempre a vida de Capote. E é justamente este o fio da meada de um dos melhores filmes do ano. “Capote” (Capote, EUA, 2005), do novato Bennet Miller (que até então só dirigira o documentário “The Cruiser”, em 1998) mostra a angustiante pesquisa do escritor para fazer aquela que seria sua obra de maior sucesso.

O excelente roteiro do estreante Dan Futterman, baseado no livro de George Clark, inicia-se em novembro de 1959 quando Truman Capote ( Phillip Seymour Hoffman, de “Magnólia” e “O Talentoso Ripley”, em atuação sensacional), então um escritor conhecido e jornalista da revista The New Yorker, vai ao Kansas em companhia da fiel escudeira Harper Lee (Catherine Keener, excelente) para pesquisar sobre um quádruplo assassinato que mexeu com a população de uma pequena cidade local. Diante dos assassinos, Capote percebe que tem material para um livro e a partir daí inicia uma longa jornada para escrever sua obra. Ele estabelece uma amizade com Perry (Clifton Collins Jr.), um dos acusados, e esta relação mexe com sua vida e com o que está escrevendo.

Apoiado na interpretação fenomenal de Hoffman, o filme passeia pelas nuances de Truman Capote, homossexual assumido, figura inteligente e querida na alta sociedade nova iorquina e personalidade ambígua. Ao mesmo tempo que se revela quase apaixonado por um dos assassinos, Capote quer que ele morra para que possa, finalmente, concluir seu livro. Mas o grande mérito desta produção é mostrar como o escritor acabou sendo influenciado pela sua obra, a ponto de nunca mais escrever.

“Capote” vem ganhando diversos prêmios pelo mundo e concorre amanhã a cinco Oscars – filme, diretor, roteiro adaptado, atriz coadjuvante e ator, categoria em que Phillip Seymour Hoffman é barbada. É um daqueles filmes que precisa ser visto, pois mostra a história real de um homem fascinante, mas que como toda pessoa que brilha, tem suas perturbações. E neste caso, essas perturbações se transformaram numa obra-prima da literatura, e agora, do cinema.


Janaina Pereira

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