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quinta-feira, janeiro 26, 2006

Outra vez

(para ler ouvindo “Satisfaction”, dos Rolling Stones.)


Estou no meio do turbilhão novamente. Perdi o sono, o rumo, estou à deriva, errei o caminho. Troquei os pés pelas mãos e enquanto me fiz forte e valente, fui amada, idolatrada, salve, salve.

Agora sou o pó. Para renascer das cinzas não será fácil. O silêncio me incomoda. Sinto-me desamparada. Queria ficar calada mas não dá. Eu só precisava de um minuto de atenção. Que alguém dissesse que se importa, que se preocupa, que podia me estender a mão.

Eu errei novamente. Errei por acreditar que os dias seriam diferentes, as pessoas seriam diferentes, a vida seria diferente. Mas nada muda. Eu continuo perdida, sozinha, chorando pelos cantos procurando o caminho que me leve até o sol.

A felicidade nunca esteve fora. A felicidade nunca fez parte do outro. É injusto dizer que outra pessoa pode me curar. Isso nunca vai acontecer. Cada vez mais creio que devo seguir com minhas próprias pernas o caminho sinuoso.

Um dia me disseram: ‘segue sua vida e não olha para trás.’ E por quantos anos eu olhei? Por quantos anos eu acreditei que tudo mudaria? Por quantos anos eu esperei por ele, pelos outros, por todos?

Nunca ninguém me esperou. Eles nunca voltaram. Eles só souberam me magoar, mesmo repetindo milhares de vezes que isso jamais aconteceria.

O grande erro das mulheres é a passionalidade. Se fossemos racionais como os homens, o mundo estaria aos nossos pés. Não sou do tipo que usa o fato de ser mulher para conseguir benefícios. Não me faço de burra, não me faço de sonsa e não me faço de meiga para fazer tipo. Não faço tipo.

Sou ácida, sou chata, sou boba, sou exagerada. E porra, eu sou gente. Sou carente, e daí? Eu vivo nesta cidade nebulosa sozinha, eu me sustento, eu não tenho referências aqui. Eu tenho poucos amigos, e eu sei que existem pessoas que gostam de mim e se preocupam. Mas eu sempre serei só, porque a vida é assim: você precisa se virar sem depender de ninguém.

Um dia também me disseram que eu me achava auto-suficiente. Que merda, eu não sou não! Eu preciso de carinho, afeto, atenção. Detesto quando as pessoas me olham apenas como a mulher forte que nunca chora.

Eu choro. Eu erro, eu caio, eu levanto, eu faço bobagem. Eu gosto intensamente, mas também sou capaz de detestar com toda a força da minha alma. Já não sou mais rancorosa, mas apago da mente e do coração todos que algum dia me apunhalaram.

O mundo não gira em torno de mim ou de você. Ele é cruel, as coisas não são como eu quero, e as pessoas não são e não agem de acordo com a minha vontade. Mas eu também não sou passiva. Eu não fico sentada esperando o que vai acontecer.

A crise não passa, as lágrimas não cessam e as histórias se repetem: pessoas entram e saem com a mesma velocidade, deixando suas marcas de dor no meu coração. E quando eu vejo que estou perdida na multidão, só me resta pedir a Deus para não me deixar desistir.

Eu queria muito, agora, ser criança de novo. Teria meu pai de volta, teria minha infância feliz, teria meus sonhos. Mas eu cresci, e foi na marra. Restaram algumas coisas que fazem a diferença: ainda tenho o ombro da minha mãe.

Estou voltando para casa outra vez.



Janaina Pereira
Redatora

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