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quinta-feira, dezembro 08, 2005

Garoando



Dentro de alguns meses eu completo cinco anos de São Paulo. Lembro que este foi o tempo que eu achei que moraria aqui. Cinco anos era o suficiente para arrumar minha vida e voltar para casa. Casa? Que casa?

O Rio é minha casa de coração. É lá que vive minha infância, minha adolescência e minhas melhores lembranças. Fora os amigos e a família, claro. Mas hoje, quando alguém pergunta se voltaria a morar lá, a resposta é não. Parece que nada ali me pertence e tudo que restou são lembranças.

São Paulo não é a cidade dos meus sonhos. Mas, por pior que isso possa parecer, eu já me acostumei com a correria, com o céu cinzento, com o sotaque dessa gente que está longe de saber o que é calor humano. Continuo achando o paulistano absurdamente frio, só que isso já não me incomoda tanto. Aprendi a viver sozinha, a apreciar o silêncio e seguir o caminho sem ter ninguém por perto. Aprendi, principalmente, a conviver bem comigo mesma.

Eu não sou daqui nem de lá: não me prendo a nada, nem a ninguém; não quero laços nem vínculos, não quero lembranças quando partir. Partir é sempre uma possibilidade, mas o lugar de chegada ainda não foi escolhido. Só que tudo muda, e muito rápido. De repente eu não vou mais embora, e quem sabe até já existam laços que nunca mais vão se soltar. Ainda não enxergo isso, talvez porque simplesmente eu não queira ver.

Tem uma história da minha vida paulistana que reflete muito bem meus sentimentos confusos desde que vim morar aqui. Eu dividia apartamento e dormia num colchão emprestado. Um dia, de uma hora para outra, o colchão tinha que ser devolvido. Foi só por esse motivo que resolvi comprar uma cama. Mas isso se tornou um drama: comprar uma cama seria adquirir um objeto que me prenderia a São Paulo. A cama era um trambolho que eu teria que carregar, um móvel que significava que eu estava construindo uma vida aqui. Isso porque eu já morava em Sampa fazia uns 3 anos ... parece loucura! Mas é apenas a incerteza e a insegurança materializadas.

Hoje eu tenho uma casa, tenho móveis, tenho uma vida aqui. Vida que é corrida, mas vivida a cada dia com uma energia renovada. Vida cheia de histórias de superação e conquistas. Vida preenchida por gente como a Gi, o David, a Sueli, a Val, a Ana, a Mari, a Kelly, o Leo, a Camilinha, o Edson, o Paulinho, o Vamberto, o Clark, a Parvati, o Zé, a Sil, o Welko, o Beto, a tia Ana, o Clauber, o Evar, a Fabi, a Vera ... só gente boa, só gente do bem. Claro que muita gente entrou e saiu da minha vida nestes anos, mas isso faz parte. O que importa é que muita gente existe na minha vida agora. E o agora é o que faz sentido, e agora eu estou feliz em Sampa. ... e agora estão aqui os meus laços, a minha vida e a minha casa. O amanhã eu deixo para o dia seguinte, que pode ser diferente ou igual, mas que tem ficar para depois. Porque agora é o que importa. E agora eu estou aqui, com sotaque carioca e uma veia quase paulistana.


Janaina Pereira

Comentários
bela homenagem
 
Você escreve hiper bem, é a segunda vez que venho aqui e adorei de novo...tirando a parte de que você acha os paulistanos absurdamente frios
=( ,bom nem todos..isso eu posso garantir =)
Então é isso,não vou ficar escrevendo muito pq eu sou muuito suspeita pra falar pq sou a-p-a-i-x-o-n-a-d-a por Sampa (L) rsrs!!!
bjos paulistanos para uma carioca super simpática ^^
 
Meu (bem paulista)...adoro seus textos!!!
 
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