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quinta-feira, novembro 10, 2005

O tom do Zé – Parte III


Hoje chegamos ao penúltimo capítulo da saga musical do mestre Zé Amaral. Vamos ao texto?


NÓS E A MÚSICA

A cidade de S. Paulo abrigava várias rádios com programações que possibilitavam ouvir muita música, fosse brasileira ou internacional. Sem aquilo que posteriormente ficou conhecido como ‘jabá’, isto é, a influência da grana comprando espaços e enfiando guela abaixo o que as poderosas multinacionais do disco desejam o que o público consuma. Ao que consta, a proposta ficava a cargo do diretor artístico, ou função assim, que escolhia o que tocar misturando bom gosto com facilidade de empatia para atrair o público. Através das ondas da Bandeirantes, Jovem Pan, Eldorado, Excelsior - ‘A máquina do som’ e Difusora, as duas últimas antecipando o que seriam as FMs pouco depois, desde o crepúsculo dos 60 e por todos anos 70 eu fui sendo apresentado pelos locutores de bonitas e charmosas vozes aos artistas das paradas de sucesso. Navegando as ondas hertzianas fui conhecendo gente que tinha brotado nos festivais da TV desde 65 ou que germinava em outros quadrantes naqueles tempos de hippismo. Peguei gosto. Comecei e não parei mais. Por exemplo: Gil, Gal, Caetano, Rita Lee, Tom Zé, Nara, Maria Bethânia, Edu Lobo, Marcos Valle, Martinho da Vila, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Paulinho Nogueira, Luis Ayrão, Tim Maia, Novos Baianos, Secos e Molhados, Sá, Rodrix e Guarabira, Taiguara, Zé & Arlindo Bettio, Creedence, Eric Clapton, Santana, Joe Cocker, Marvin Gaye, Al Green, Aphrodits Childs, MPB4, Quarteto em Cy, Beth Carvalho, Toquinho e Vinícius, Maria Creusa, Yes, Pink Floyd, Led Zeppelin, Gênesis, James Taylor, Carole King, Focus, Jackson Five, Stevie Wonder, Bread, Carpenters, Charles Aznavour, Rod Stewart, Peter Frampton, Gerry Rafferty, Abba, Alice Cooper, Barry Manilow, Carly Simon, Queen, Commodors, Chick, Kate Bush, Dire Straits, Earth, wind & fire, Alcione, Luis Melodia, Gonzaguinha, Raul Seixas, Ivan Lins, Hyldon, João Bosco, Roberto Ribeiro, Morris Albert, Wando, Genival Lacerda, Odair José, João Nogueira, Belchior, Fagner, Luis ‘Filho da Véia’ Américo, Cassiano, Ruy Maurity, Ednardo, Agepê, Hermes de Aquino, Simone, Renato Teixeira, Peninha, Ivone Lara, Ângela Rorô, Zezé Motta, Alceu Valença, Guilherme Arantes, Gengis Khan, Sidney Magal, Zé Ramalho, Boca Livre, Céu da Boca, Kleiton e Kledir, Joyce, Police, Phil Collins, Eduardo Dusek, 14Bis, Zizi Possi, Elba Ramalho, Marina, A Cor do Som, Roupa Nova, Blitz, Lulu Santos, Chitãozinho e Xororó, Fafá de Belém, Richie, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, Titãs, Paralamas do Sucesso, Premeditando o Breque, Rumo, Língua de Trapo, Lobão, Kid Abelha, RPM, Legião Urbana, Tetê Espindola, Men at Work, Prince, George Michael, Cure, Almir Sater.... Nossa Senhora! É tanta gente. Falta tinta no computador para escrever. Vou parar por esse frescor dos anos 80. Todos tocavam no rádio. Ele foi ‘O’ veículo. Ou melhor: ainda é.

Inicialmente portáteis ou tipo cabeceira, depois evoluindo para os chamados 3 em 1, onde se acoplavam gravador de fitas k7, pick-up para os discos e, claro, um receptor com faixas AM e FM num móvel só. Tudo ligado a duas caixas acústicas para encher o ambiente de sustenidos e bemóis. Pode ser no walkman ou no carro. Não importa. Meus sinceros agradecimentos aos inventores desta maravilha que estreou no Brasil em 1922 com Roquete Pinto. Uma salva de palmas que eles merecem!

Lembro que a faixa de FM - Freqüência Modulada fortaleceu-se durante os 80 apresentando música 100% do tempo. Nos anos 90 ela começou a servir para pregação religiosa e também para programas de jornalismo. E estas práticas estão se alastrando no dial. Durante os anos 80 ganhou força igualmente uma nova mídia, o vídeo-clipe. Porém, o rádio ainda é, repito, o grande companheiro. Até na internet tem rádio. A propósito: já escutaram Marisa Monte, Cássia Eller e Mônica Salmaso? Acabei de ouvi-las neste instante pela Cultura AM. Óbvio que o radinho tá ligado...

Ao entrar na faculdade comecei a trabalhar e, com um pouco de cobres nos bolsos, era possível vez em quando ir ao cinema, comer pipocas e descolar uns LPs- os Cds se fixaram nos anos 90 - pelo centrão da cidade. Além do que, chega uma hora em que a gente finalmente deixa de ser boboca e começa a dançar com as garotas. Daí se namora e a coisa com a música fica ainda mais legal porque se ganha discos como dedicatórias e marcas de batom. Certamente livros idem. E, por conseguinte, o acesso à história, às raízes se aprofunda. Os velhos bambas: Pixinguinha, Sinhô, Ernesto Nazareth, Chiquinha, Noel, Assis Valente, Geraldo Pereira, Garoto, Dorival, Jacob, Nelson Cavaquinho, Adoniran, Dick Farney, Tom Jobim. Os sons vão entrando na cabeça e ocupando espaços, de maneira desordenada a priori. Com o tempo vão se organizando, se definindo, se qualificando. E a gente se apaixonando mais.

Acho que assistir a filmes no cinema também ajudou a conhecer mais música. Durante a faculdade, freqüentando cineclubes, incentivado pelo uspiano Cláudio, passei a me ligar mais em trilhas. Um diretor que logo me capturou foi Woody Allen. É possível que tenha me influenciado e me aproximado mais do jazz. ‘Manhattan”, só com temas de Gershwin, é uma beleza. “Radio Days” também foi outra trilha bonita. Por causa dele acabei criando uma mania de espera os créditos finais nas sessões para ver quem tocou o quê na fita... E filmes minimalistas com trilhas do Philip Glass? “Paris, Texas” do Ry Cooder? “Blade Runner” do Vangelis? “O Baile”, de Ettore Scola? “A Última Tentação de Cristo” com Peter Gabriel e músicos orientais? Outros mais antigos como “2001: Odisséia no Espaço” com os Strauss. Que viagem! “Summer of 42” de Michel Legrand? “A Pantera Cor de Rosa” de Henry Mancini? Os filmes de Fellini por Nino Rota? Desde que o cinema uniu-se ao som, foi um par perfeito. Não acham?

Depois da flauta doce na escola, em tempos de puberdade comecei a estudar violão. Tudo muito frouxo. Então, não daria mesmo para ir à frente. Músico tem que ter muita disciplina, excetuando-se aqueles que já nascem feitos, ou seja, virtuoses. Os 98% restantes têm que ‘ralar’ para criar e manter a técnica, seja qual for o instrumento. Inclusive a voz. Cantei pela primeira vez em coral no Centro Cultural Vergueiro, com o regente Joaquim Paulo. Era 1986. Fiz alguns ensaios no grupo particular dele de ‘spirituals’. Sentia vontade de aprofundar na matéria. Depois, em 92, após uma viagem a S. Thomé das Letras, Minas, num por do sol, topo de serra, fiquei vendo e ouvindo uma figura sentada no outro morro à direita tocar um instrumento de sopro que, na distância, não sei se era um oboé, uma flauta, um sax soprano. Todavia, aquela experiência de colher as notas que o sujeito lançava aos ventos me seduziu de vez. Voltei decidido a comprar e estudar clarineta. Lá se foi meu 13º salário. Cinco meses no Conservatório de Santana pulei para a Universidade Livre de Música – ULM que passou a se chamar Tom Jobim enquanto lá estava. Fiz aulas com Marta Vidigal, da Jazz Sinfônica e com o Maestro Portinho. Participei de orquestras e grupos com o regente Roberto Bomílcar, vulgo São José. Cantei no Coral de Mantras de Magali Mussi e Waltel Branco. Conheci uma porção de gente bacana como a clarinetista Rosa, a violonista Enedina, a flautista Malú, meus queridos Edu Caballero da transversal e Carmen, pianista, e tantas figurinhas mais. Foram muitas apresentações em corais, grupos e orquestra. Tempo muito bom, que dá saudades por ter podido praticar junto a todos eles. Música é como beber chopp: sozinho é legal, mas em boa companhia fica ainda melhor.


(continua ...)


AMANHÃ: Zé Amaral e o melhor da MPB. Aguardem.



Janaina Pereira
Redatora

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