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segunda-feira, novembro 07, 2005

A arte é pop


Sábado consegui, finalmente, ir ao Instituto Tomie Ohtake para conferir a exposição de um dos maiores artistas da Pop Art: Roy Lichtenstein. “Vida Animada” é uma rara oportunidade para o público brasileiro conhecer a obra de um dos maiores ícones da arte, que discutia a cultura de massa e o universo norte-americano, especialmente na década de 60. A exposição propõe um mergulho na obra de Lichtenstein, fato inédito no País e na América do Sul, destacando obras da década de 60 a 90, incluindo seus últimos trabalhos, de 1995, dois anos antes de sua morte. Isso faz de “Vida Animada” um importante acontecimento para quem gosta de artes plásticas.

Já faz um bom tempo que vi, no CCBB do Rio, a exposição de outro mestre da Pop Art, Andy Wahrol. Lembro-me que na época eu fiquei fascinada com o colorido e com a transformação dos mitos em obras de arte. Hoje, sei que Wahrol contribuiu muito para o que a sociologia chama de ‘coisificação do homem e humanização das coisas’, ou seja, transformou o ser humano num objeto e vice-versa. Lá estavam Marilyn, Elvis, Jackie Kennedy e a onipresente Coca-Cola, símbolo do imperialismo americano. Aliás, existe coisa mais humanizada do que uma garrafa de Coca-Cola? Agora, pude me encantar com os 78 trabalhos, entre desenhos e colagens, que oferecem um panorama de mais de 35 anos da trajetória do outro mestre pop, Lichtenstein. Com uma linguagem aparentemente banal, ele esconde um sutil e complexo pensamento conceitual.

O desenho sempre foi o núcleo da estética e o ponto de partida da arte de Lichtenstein, que tem um estilo bem marcante, baseado nas HQs, cartuns, anúncios publicitários e em clichês retirados do universo da comunicação de massa. Ele produziu cerca de três mil desenhos e trabalhos em papel em seus 50 anos de carreira, sendo que todas as suas pinturas e esculturas partiram de algum desenho. Além disso, demonstrou que as imagens veiculadas pelos canais de comunicação em massa são meticulosamente produzidas com a finalidade de esvaziar o pensamento, rebaixar a leitura e a escrita, e transformar a fala numa forma de expressão repleta de gírias. Assim, sua obra é marcada por onomatopéias, pin-ups, gêneros tradicionais como paisagem, natureza-morta e figura, muito colorido e visual reticulado, reproduzindo friamente cenas do cotidiano e produtos de consumo. Ele não usava apenas o desenho na preparação de obras maiores, como também via o desenho como uma linguagem abstrata de signos, contestando com humor e ironia o próprio conceito da arte na era da reprodução em massa.

Lichtenstein faz parte de uma geração que reagiu ao expressionismo abstrato, movimento voltado a temas míticos e à expressão individual, para embarcar em um mundo comum, no dia-a-dia, no cotidiano. Com isso, esta geração, que reunia gigantes como Andy Warhol, Claes Oldenburg, James Rosenquist e Tom Wesselmann, celebrava a paisagem sem emoção dos produtos de consumo, extraindo uma diferente dimensão da psique americana. Uma geração extremamente pop, que soube criticar a cultura de massa, transformando-a em objeto de arte.


Exposição Vida Animada – Desenhos de Roy Lichtenstein
Até 20 de novembro de 2005
Terça a domingo, das 11h às 20h - Entrada franca
Instituto Tomie Ohtake - Av. Faria Lima, 201 (entrada pela Rua Coropés, 88) - Pinheiros – São Paulo - Fone: 11 2245.1900


Janaina Pereira
Redatora

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